Lembra-te que há um Querer Doloroso
Lembra-te que há um querer doloroso
E de fastio a que chamam de amor.
E outro de tulipas e de espelhos
Licencioso, indigno, a que chamam desejo.
Há o caminhar um descaminho, um arrastar-se
Em direção aos ventos, aos açoites
E um único extraordinário turbilhão.
Porque me queres sempre nos espelhos
Naquele descaminhar, no pó dos impossíveis
Se só me quero viva nas tuas veias?
Hilda Hilst, in ‘Do Desejo’.
Foto: Instagram @contemporary_art
#Editorial
Por Felipe Bier
Leitores, é com prazer que apresentamos o #Cupid 6, uma leitura cada dia mais próxima de nosso encontro, tanto no calendário quanto em temas próximos aos sintomas dos psicanalistas. Talvez estas jornadas nos digam respeito de modo mais íntimo, não somente porque o objeto de discussão nos imprime a reflexão sobre o amor e sexo, mas sobretudo porque este significante aparentemente singelo – (des)conexões – marca a prática dos dois lados disto que chamamos análise. Com efeito, os textos deste editorial reafirmam nosso compromisso com a revirada deste conceito, que em nossa…
#Orientação
Um início de reflexão: conexões e desconexões em Psicanálise
Por Maria Cecília Galletti Ferretti
O tema das VIII Jornadas da EBP-SP, Amor e sexo em tempos de (des)conexão, aponta para o que, na psicanálise, se insere no campo da conexão e no campo da desconexão. Afirmar, já em seu título, que teríamos uma desconexão, por assim dizer “especial”, em nossos tempos, leva-nos a pensar em aspectos relevantes do próprio corpo teórico-clínico psicanalítico que apontam para esta desconexão.
Vejamos a seguinte afirmação de Lacan: “De cada vez que estamos na dialética da pulsão, outra coisa comanda. A dialética da pulsão se distingue fundamentalmente do que é da ordem do amor como do que é do bem do sujeito” (1). Salientemos que Lacan refere-se a uma desconexão, a uma não ligação estabelecendo assim uma diferença entre pulsão, amor e bem. Notemos que o amor é um conceito presente em nosso tema.
#Ecos de quarta
“O Analista e o Mestre – Uma questão de Política … e de Ética”
Por Maria Bernadette Soares de Sant´Ana Pitteri
“Só existe isso, o laço social” foi o título extraído de uma fala de Lacan no Seminário XX por Cristiane Alberti, nossa convidada para as Jornadas. No texto , a autora aborda a ação dos psicanalistas da ECF no debate público que envolveu as últimas eleições presidenciais na França, e levou Miller a teorizar a “escola sujeito” . Sem discutir programas e política partidária, o que mobilizou a entrada dos psicanalistas franceses no debate foi o ponto de vista ético: a discussão girou em torno das condições concretas e práticas acarretadas pela possível eleição de um presidente com um ideário de extrema direita, o que redunda necessariamente em limitação das liberdades civis.
#Amor e Sexo
Para falar de amor e sexo, falo dȺ mulher
Por Cristiana Gallo
Inicio pelo aforismo lançado por Lacan no Seminário 10, a angústia, que instiga a percorrer as condições de gozo e desejo no ser falante, para retornar ao amor e ao sexo ou, em melhor lugar, falar de amuro.
Neste Seminário nos deparamos com a indicação de que à mulher nada falta, revirando a verdade freudiana que aponta maiores embaraços na construção da própria sexualidade do lado da mulher; aqui encontramos uma nova perspectiva que, para além do edifício edípico, nos convoca a um novo olhar.
#Conversa.com
Cláudio Daniel
por Fabiola Ramon
Não por acaso Hilda Hilst (Jaú-SP, 1930- Campinas-SP, 2004) foi homenageada na última edição da FLIP, a famosa Feira de Literatura de Paraty (RJ). Poeta, ficcionista, cronista e dramaturga, Hilda escreveu seu nome na história da literatura e é considerada uma das maiores escritoras de língua portuguesa do século XX.
Uma mulher à frente de seu tempo, com uma linguagem inovadora e abrangente que rompeu com diversos limites no campo da escrita literária, Hilda produziu mais de quarenta títulos, entre poesia, teatro e ficção, e escreveu por quase 50 anos, recebendo importantes prêmios literários.
#Cinema conexões e desconexões
Deixe a luz do sol entrar: o que dos desencontros amorosos não cessa de se escrever?
Por Janaina de Paula Costa Veríssimo
Deixe a luz do sol entrar já revela um paradoxo de saída, ao ser lançado como uma “comédia romântica”. O que, basicamente, fundamenta o argumento de um longa desse subgênero cinematográfico é que dois personagens se conheçam, não se envolvam amorosamente por certo tempo, reencontrem-se, após diversas cenas cômicas, e descubram que foram feitos um para o outro. Existem variáveis possíveis na escrita do roteiro e o final feliz não é condição sine qua non.
#Algumas palavras (resenha)
“Só o amor permite ao gozo condescender ao desejo”
Por Jovita Carneiro de Lima
O gozo é do corpo próprio, o desejo é do sujeito, efeito da articulação significante tributária da submissão à linguagem. Entre eles, o amor como ponte, como o que faz laço, como o que “pega”.
O gozo não descansa, tem a mesma batida sempre, é auto-erótico, é atributo do corpo vivo. No entanto, a partir da ação da linguagem sobre o corpo, da entrada no campo do Outro, perde-se o acesso direto ao gozo. Ser falante implica em necessitar do amor para alcançar o gozo. Inversamente, enquanto localizado no corpo, o gozo deverá passar pelo amor para encontrar o desejo ou, como diz Lacan “propor-me como desejante, eron, é propor-me como falta de a e é por essa via que abro a porta para o gozo do meu ser”.
Referências bibliográficas
Por Daniela de Barros Affonso e Comissão
Equipe do Boletim #Cupid
Milena Vicari Crastelo – Paula Caio – Eliana Figueiredo – Alessandra Pecego
Marcelo Augusto Fabri de Carvalho – Fabiola Ramon – Felipe Bier