Editorial
Maria do Carmo Dias Batista
(AME EBP/AMP)
Tudo aquilo que você sempre quis saber sobre “Função e campo…”, mas tinha medo de perguntar…
1) Hoje, sessenta e cinco anos depois da publicação, o escrito de Jacques Lacan “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”, continua sendo um texto fundamental para a Psicanálise (Teresinha N. Meirelles do Prado);
2) “Nossa tarefa será demonstrar que esses conceitos só adquirem pleno sentido ao se orientarem num campo de linguagem, ao se ordenarem na função da fala”1.Esta afirmação é válida até os dias de hoje, pois o campo da linguagem continua sendo o norte para os conceitos psicanalíticos […] (Sandra Arruda Grostein);
3) […] “quer se pretenda agente de cura, de formação ou de sondagem, a psicanálise dispõe de apenas um meio: a fala do paciente”2. E o cerne da função da fala na análise, destaca Lacan, reside no fato de que não há fala sem resposta, ainda que esta seja o silêncio (Teresinha N. Meirelles do Prado);
4) Apesar de dedicar toda a primeira parte desse escrito à fala vazia e à fala plena, retoma a questão de quando a palavra é palavra em Psicanálise […]. Lacan pergunta se um grunhido é uma palavra. E diz que um grunhido, ou uma palavra, ou um vagido […], só é uma palavra na medida em que é endereçada a alguém […]. No endereçamento ao outro há uma transmissão, função de quem ensina, e onde melhor se inscreve o valor da experiência (Cássia M. R. Guardado);
5) […] há mensagem na fala que pode ser lida nos sintomas, porém nem todos eles se prestam a esta decifração, isto é, sabe-se hoje que a fala não se restringe a veicular uma mensagem. Lacan acrescenta, a partir do Seminário 20, Mais, ainda, esta outra função da fala: “Aonde isto fala, isto goza e nada sabe”3 (Sandra Arruda Grostein).
A Carta de São Paulo Online, com três textos e dois Twitters sobre “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”, oferece um aggiornamento mandatório para a Escola nesse momento.
Vamos a ele. Boa leitura!
1 LACAN, J. “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”. In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 247.
2 ________ Ibid. p. 248.
3 __________ “Do Barroco”. In: O Seminário, Livro 20: Mais, ainda. Op. Cit., 1982, p. 142
Lendo “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”, hoje...
“Função e Campo da Fala e da Linguagem em Psicanálise”, hoje… e sempre
Cássia M. R. Guardado (EBP/AMP)
Lacan, em princípio, impedido de falar no Congresso de Roma, devido a “graves dissenções” que implicaram em uma secessão no grupo francês, pode finalmente apresentar seu discurso, cujo tema era falar da fala. Diz então ter sido socorrido nisso pela contingência que o próprio lugar – Roma – lhe proporcionava.
Lembrou-se que “Aulo Gélio, em suas Noites Áticas, dera ao local chamado de Mons Vaticanus a etimologia de vagire, que designa os primeiros balbucios da fala”1. E prossegue dizendo que “caso seu discurso não viesse a ser nada além de um vagido, ao menos colheria ali o auspício de renovar em sua disciplina os fundamentos que ela retira da linguagem”2.
Revisitando a função da fala em psicanálise
Sandra Arruda Grostein (AME EBP/AMP)
O texto “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise” publicado como relatório em 1953 e como livro em 1966, apresenta os fundamentos da releitura lacaniana do inconsciente freudiano, tornando o estudo do mesmo imperativo para quem se propõe a uma formação em psicanálise. Nele, a proposta do “inconsciente estruturado como uma linguagem” é bastante aprofundada e bem ao estilo de Lacan, a partir da crítica à psicanálise de sua época, crítica que funciona como contraponto aos seus fundamentos. Dessa forma, Lacan avança em sua formulação, num momento de cisão institucional, ao tratar das consequências clínicas e políticas das diferenças de entendimento dos conceitos psicanalíticos. Neste contexto, Lacan propõe:
Mesmo no século XXI, ainda é a partir da fala que a psicanálise opera
Teresinha N. Meirelles do Prado (EBP/AMP)
“Seus meios são os da fala, na medida em que ela confere um sentido às funções do indivíduo; seu campo é o do discurso concreto, como campo da realidade transindividual do sujeito; suas operações são as da história, no que ela constitui a emergência da verdade no real”1
Para além do contexto em que foi pronunciado há sessenta e cinco anos – em que Lacan enunciava claramente seu desacordo com a prática dominante de uma IPA guiada prioritariamente por questões imaginárias, a ponto de retirar-se da Sociedade Psicanalítica de Paris e fundar, naquele mesmo ano, com outros colegas, a Sociedade Francesa de Psicanálise – o chamado “Discurso de Roma”, publicado nos Escritos com o título “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”, continua a ser um texto fundamental na psicanálise.
Em twitters
Lendo “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”, hoje...
Por Antonia Claudete Amaral Livramento Prado
Nos anos cinquenta, Lacan concebe o sujeito como constituído pela ordem simbólica, circulando entre os significantes que marcam o campo do Outro. A fala busca o sentido do sintoma.
Hoje, fruto do encontro de lalíngua com o corpo vivo, o ser falante rouba a cena. No campo da lalíngua, a fala serve ao gozo comandado pelo S1; o Outro não existe – há Um.
Por Maria Marta Rodrigues Ferreira
No contemporâneo, não faltam palavras, não há ausência de narrativa, o Outro não emudece; o que interroga o sujeito? A crescente virtualização da vida, a quebra entre público e privado, onde o falatório, a fala vazia, constituída pelo véu do sentido conduz a inautenticidade da fala, testemunha-se a não conexão entre o que se diz e o que se vê, podendo assim dispensar o sujeito.