“Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer”
Excerto do poema “Pergunta-me”, in Raiz de orvalho e outros poemas. Mia Couto –
#Editorial
Por Milena Vicari Crastelo
Em nosso #Cupid, terceiro número, vocês encontrarão contribuições valiosas para a VIII Jornadas da Escola Brasileira de Psicanálise Seção São Paulo – Amor e sexo em tempos de (des)conexões.
A rubrica #orientação, traz dois textos, um de nossa convidada Christiane Alberti: Mais longe que o amor, publicado na revista La Cause du Désir n° 92, texto escrito para 45° Journées de l´École da la Cause Freudienne…
#Orientação
Mais longe que o amor
Por Christiane Alberti
Um nada enigmático, a expressão de Lacan “fazer par” logo nos arrastou, em um ritmo vertiginoso, a um trabalho de estudo com os múltiplos recursos da doutrina e uma exploração nos quatro cantos dos discursos contemporâneos.
O par empurra cada um a saber. Sabemos verdadeiramente por que escolhemos tal parceiro? Por qual alquimia nos unimos para animar nossa existência? Não sem ele, não sem ela… por que permanecer com este quando é insuportável para mim? E por que abandonar aquele, se o amo? Por qual bizarrice meu irmão é tão presente nos meus amores? Por que construí esse laço tão doloroso, ou tão aditivo ou ainda tão incômodo com meu parceiro?
Que o real esteja ancorado!
Por Carmen Silvia Cervelatti
Esta interjeição de Lacan expressa um apelo em relação ao real. Para entendê-la é preciso retomar o ponto central que Lacan está articulando no capítulo XIII: Na base da diferença dos sexos no Seminário 19. No que diz respeito às relações sexuais, ele propôs a função φx como um modelo que permite fundamentar algo diferente do semblante, pois o gozo sexual não é semblante do sexual. O semblante permite o laço social e um discurso que não fosse semblante acabaria mal, não seria laço social. Fora do semblante estaríamos, então, num campo em que o Outro não existe, não que ele não possa vir a consistir de alguma maneira, artifícios podem ser inventados para fazer suplência à não relação sexual.
#Ecos de Quarta
“A nossa onda de amor não há quem corte”!
Por Veridiana Marucio
Freud comparava o analista ao químico e não hesitava em equiparar o dispositivo analítico a uma espécie de laboratório, onde se produziria um sintoma artificial – um sintoma sintético – para estar à altura da época, como apresenta Naparstek, ao qual se agregaria à sua natureza autoerótica, o laço com o Outro. Seguindo seu raciocínio, pode-se dizer que existe uma química da psicanálise: um processo de transformação dos sintomas em sintoma analíticos.
#Tempos Modernos
Rumo a uma questão sobre o Supereu em tempos de (des)conexão
Por Flávia Machado Seidinger Leibovitz
O argumento das VIII Jornadas da EBP- Seção São Paulo nos convida a abordar as consequências clínicas da expressão do desejo e do gozo nos tempos atuais e põe na mira desenvolver o que os termos conexão e (des)conexão nos convidam a aprender sobre o sujeito e o inconsciente nos tempos atuais.
A nós, analistas, sempre nos coube e caberá a inesgotável tarefa de alcançar no horizonte a subjetividade da época, tal qual proposto por Lacan desde 1953. Assim, nos vemos novamente com a pergunta que nunca cessa de não querer calar-se: que tempos, afinal, são os atuais? Poderíamos resumi-los, por exemplo, ao condensar…
#Algumas Palavras
Resenha: Amor e Sexo
Por Camila Popadiuk
A primazia do falo na organização da sexualidade humana produz como efeito a não inscrição da relação sexual, naquilo que concerne à proporcionalidade entre os sexos. Na experiência analítica são as incidências do significante no corpo e suas consequências na vida psíquica do sujeito que serão atualizadas.
O amor, enquanto forma de laço primário entre os seres falantes, comporta um caráter narcísico, na medida em que ele mantém à distância aquilo que há de mais estrangeiro ao sujeito. Ao obedecer às exigências do eu, ele visa a totalidade da imagem. Porém, ao mesmo tempo em que ele é uma resposta ao que não se inscreve no real da sexualidade, ele revela paradoxalmente esta não relação entre os sexos.
#Match
Exposição “A letra é a traça da letra”
Por Comissão de Acolhimento
O Instituto Tomie Ohtake traz a exposição “A letra é a traça da letra”, de Helena Trindade, a curadoria é de Glória Ferreira. Nas instalações, compostas por esculturas, vídeos, fotografias, objetos e performance, a artista organiza um conjunto poético a partir da letra. Na abertura da exposição, em (a) MURO, dois muros são (des) construídos a partir de estênceis de letras, que abordam, segundo a artista, aspectos do funcionamento da linguagem e evocam Lacan, quando refere ao “muro de linguagem que se opõe à fala”, remetendo ainda ao neologismo lacaniano (a) mur, que conjuga as palavras “amor” e “muro”.
Referências bibliográficas
Por Daniela de Barros Affonso e Comissão
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Equipe do Boletim #Cupid
Milena Vicari Crastelo – Paula Caio – Eliana Figueiredo – Alessandra Pecego
Marcelo Augusto Fabri de Carvalho – Fabiola Ramon – Felipe Bier