Por Heloisa Caldas A experiência online, seja a específica da sessão de análise, seja a…
Por onde andará nosso desejo
Breve comentário tecido, a convite da Diretoria da Seção-Rio, sobre os textos de Romildo do Rêgo Barros e de Marcus André Vieira publicados, nos números extras 04 e 09, da Correio Express.
Por Maricia Ciscato
“Qual o desejo de um vírus?” “um vírus não deseja…, se espalha”, afirma Romildo do Rêgo Barros em um breve texto[1] publicado no quarto número extra da Correio Express, revista eletrônica da EBP que tem circulado nas últimas semanas com uma série dedicada a recolher decantações dos colegas neste momento em que a pandemia causada pela COVID-19 desmonta nosso modo conhecido de trabalho.
O texto de Romildo conversa diretamente com o publicado por Marcus André Vieira, alguns números depois.[2] É tentador colocar o SARS-COV-2 no lugar de um Outro enigmático. Mas, como afirma Marcus, “o vírus não é um Louva-a-deus” e, portanto, não servirá como os vivos olhos fractais diante do qual nos perguntaríamos, sustentados pela opacidade de seu olhar, o que quer de nós. Nas palavras de Marcus: “em sua expressão generalizada, a do real da pandemia, não há encontro com alteridade alguma, apenas a certeza de um real mortífero sem localização.” Não será apoiando-se no vírus, portanto, que, cada um, poderá criar a passagem que vai da angústia ao desejo.
Marcus aponta aí uma via de trabalho: “Não é a vontade do vírus que é decisiva, mas o desejo de quem é nosso Outro.” A pergunta sobre “nosso Outro” e o desejo é um trabalho definitivamente singular, como também destaca Romildo em seu texto – e que não se fará sem estar tecido no coletivo. Diz Romildo: “A psicanálise tem um trabalho a fazer, e nisto ela é insubstituível. Esse trabalho se situa entre a possibilidade de construir uma nova experiência do singular, ou se contentar com formas sinistras de individualismo (…)”.
É também na costura entre singular e coletivo que Marcus finaliza seu texto tocando na pulsação do desejo: “Que mundo nos aguarda? Olhando para uma rua vazia, mas sabendo que as ruas da periferia estão cheias, assumo que terá que ser aquele em que caiba o desejo como abertura, aquele em que a política do inconsciente terá seu papel a desempenhar, sempre coletivo, pois não há desejo de alguém sem o do Outro.”
Que sigamos neste desafio, podendo fazer também da Escola um Outro a impulsionar a circulação do desejo de cada um diante da responsabilidade de seguirmos fazendo da psicanálise uma via de abertura para a singularidade e para o laço.