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Noite da Biblioteca, dia 17 de agosto

Lançamento do livro de Maria Silvia G. F. Hanna

“A transferência no campo da psicose: uma questão”

Resenha do livro, por Adylson Ennes

 

É capital a frase de Lacan: “Não recuar diante da psicose”…

O que me chamou a atenção na abordagem da autora não foi, apenas, valer-se dos trabalhos anteriores de autores como S. Freud, J. Lacan, S. Ferenczi, Abraham, entre outros, mas o modo de sua apresentação.

Maria Silvia interroga, em seus termos, a possibilidade da transferência na psicose, a despeito da ideia que se manteve durante muito tempo de que a psicose não seria analisável, pela dificuldade de apresentar fenômenos da transferência.

É preciso acreditar em suas possibilidades para levar a frente um tratamento como esse. É preciso se dispor a “secretariar” o seu paciente.

Já em Dissolução, Lacan chama a atenção para o mal entendido a partir do fato de que o sujeito nasce entre seres falantes que não se escutam, não se entendem.  Isso daria força ao que Miller vem a colocar depois, que “todo mundo é delirante”? É bom para pensar, mas, nem por isso, seremos todos psicóticos.

Para pensar o tratamento do psicótico, a autora ressalta a pergunta: qual é o lugar em que o analista é colocado ao conduzir um tratamento no campo da psicose? E Lacan vai se orientar mantendo a primazia do simbólico sobre o imaginário. Em verdade, a psicose fica como uma estrutura que caracteriza uma relação do sujeito com a linguagem.

Mais que analisar detidamente os mecanismos da psicose, o que mais me chamou a atenção foi a frase inicial desta resenha: “Não recuar diante da psicose”.  Isso a autora nos mostra magistralmente ao analisar o caso de um analisante. Analisante que desenvolve uma transferência forte, erotômana, e que Maria Silvia trata de modo brilhante. Talvez com alguns momentos de desconforto, face à força dessa transferência. Mas foi graças a ter suportado, inclusive dizendo, a certa altura, “posso tratá-lo, mas não amá-lo”, frente aos ciúmes violentos que se apresentavam por vezes.

Durante todo o tempo, foi bastante delicado o manejo dessa transferência, visto que a transferência na psicose exige, por parte do analista, que ele abra mão de qualquer tentativa de interpretação que suporte a dificuldade de ser situado muitas vezes no lugar d’O absoluto que, em verdade, é um lugar de horror, tanto para o analista, como para o sujeito, efeito do Real que acompanha, na verdade, todo o tratamento da psicose.

Para encerrar, cito nominalmente a autora “Para responder a isso, o analista conta com o seu desejo, desprendido de sua própria experiência do inconsciente, e com sua manobra”, e finaliza afirmando que o tratamento da psicose é possível desde que o analista se ofereça como destinatário de seu trabalhos de amarração, de enlace do nó.

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