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13/11, às 18h

Exílios – Sinthoma, corpo e território
XXVII Jornadas da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Rio e Instituto de Clínica Psicanalítica ICP-RJ

Território e sintoma

Andrea Vilanova

O tratamento do binômio território e sintoma, a partir de nossa interrogação a respeito dos enlaces entre psicanálise e cidade, demanda um esforço de leitura da inscrição da dimensão de lugar, em suas variadas acepções.

Como nos instrui Milton Santos, em sua crítica aos processos de globalização, a natureza do espaço requer a leitura dos processos que atuam no mundo, compreendido a partir da lógica de mercado e do modo como nos colocamos diante disso como coletividade1 . O jogo de forças que faz girar a engrenagem, essa máquina de moer gente, atravessa tudo, inclusive os modos de relação entre as pessoas. E é nisso, nos modos de laço possíveis, diante do impossível de um todo, de tomarmos a sociedade como uma unidade, que cabe determo-nos, como sublinha Miller2, na pluralidade dos laços.

O território impõe-se, portanto, não como lugar geográfico, mas como conjunto de condições e possibilidades que norteiam um certo modo de viver a e na cidade, em sua multiplicidade. Ao que se agrega, sobretudo, a partir das redes virtuais que compõem cotidianos e efetivamente se impõem, em tempos de isolamento social, a experiência de que os territórios parecem efetivamente explodir as jurisdições de toda ordem, tradicionalmente estabelecidas.

Viver implica tomar lugar, ocupar espaços, circular. E os modos por meio dos quais cada um encontra um jeito de fazer a vida acontecer e de se virar com o que acontece, diante e apesar das circunstâncias, a isto a psicanálise chama sintoma. É com nossos sintomas que ocupamos os diversos lugares que mapeiam nossas trajetórias pela vida, através de enlaces e desenlaces.

Se o território não é apenas o lugar onde nascemos, vivemos ou morremos, é porque o lugar que ocupamos nos espaços, nas relações, implica algo em nós que não tem endereço certo, mas é marca do que podemos ser, ao nosso jeito, sem jeito, conformados e, também, inconformados. Cabe pensar o quanto somos determinados pelos lugares que ocupamos nos territórios, o quanto nossos traços singulares carregam de indícios recolhidos pelo caminho, ao mesmo tempo em que, a partir da orientação de nossos sintomas, estabelece-se um certo modo de trânsito pelos laços sociais.

Como ler as coordenadas de territórios tão plurais – distantes de qualquer ilusão de todo, bem comum, ou algo que o valha – , como elementos que participam das construções sintomáticas que nos constituem singularmente e, ao mesmo tempo, permitem enlaces que nos reúnem como coletividade, ainda que modo efêmero, local, circunstancial, como neste momento de trabalho coletivo em torno de Exílios?


1 SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1999.
2 MILLER, J.-A. Un esfuerzo de poesia. Buenos aires: Paidós, 2016. P. 162;
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