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Atividade da Biblioteca – Lançamento de livro: De um valor que ultrapassa

Iniciamos as atividades deste ano da Biblioteca da seção Rio de Janeiro, batizada como Carlos Augusto Nicéas em uma homenagem, com o lançamento do livro “A escrita do silêncio (voz e letra em uma análise)”, de Marcus André Vieira, ocorrido na Blooks Livraria. A proposta da diretoria, apresentada por Andréa Vilanova, diretora de Biblioteca da seção Rio, foi enlaçar uma das dimensões mais caras à Escola, a política do passe, trabalhada pelo autor, à questão do lugar da psicanálise na cultura e vice-versa, marcando a direção de trabalho de nossa Biblioteca no âmbito da Federação Internacional de Bibliotecas de Orientação Lacaniana do Campo Freudiano, FIBOL, aberta à cidade.

A escrita do silêncio visa transmitir, a partir do percurso de Marcus André na função de analista da Escola, outro percurso, de uma análise. O autor situa de forma corajosa as possibilidades clínicas da psicanálise, tendo em vista as transformações na cultura, por meio das reverberações da própria análise no corpo e na vida. À maneira de um equilibrista, como ele menciona no texto, Marcus André, entre teoria e biografia, subverte a continuidade cronológica do tempo, mostrando, ao contrário, sua inventividade pelas possibilidades de edição da vida ao longo de uma análise.

O poeta e tradutor Caio Meira participou do debate como leitor convidado, em um esforço de trazer uma leitura de um lugar estrangeiro à psicanálise. Caio se deteve, então, na pergunta sobre o que o livro nos passa, ou transmite, abrindo o debate com o receio, permeado por silêncios, de não ter nada a nos dizer. Segundo ele, o livro passa algo difícil de colocar em palavras cujo enfeito é, na verdade, nos relançar na leitura.

Assim, Caio contou ter se surpreendido, “durante a leitura, brotaram as minhas histórias”, disse, apontando para algo que atravessa o livro, o caminho do singular ao universal, a ser percorrido em uma análise, como lembrou Andréa Reis. Assim, Caio destacou de sua leitura que o livro passa pelo outro, pela ideia de se ver como outro, seguindo o movimento do autor, de analisante a analista, de analista a escritor. Nessa lógica, a leitura do poeta situa o livro de Marcus André como uma ficção em que há sempre algo que escapa ao leitor.

Marcus André, por outro lado, mencionou o que escapa à função de analista da Escola. Segundo ele, não é possível prever, às vezes sequer alcançar, os efeitos de transmissão e ensino do próprio testemunho de passe. “É de um valor que nos ultrapassa”, lembrou Marcus André de um comentário feito a ele por Nicéas sobre o passe. Valor que ultrapassa autor, leitor, a Escola e a própria psicanálise.

É, assim, com o pontapé de um livro, e de um debate, que nos acende a coragem de lidar com o que é estranho, como colocou Renata Martinez, que a Biblioteca Carlos Augusto Nicéas abre seus trabalhos para, quem sabe, despertar mais leitores do silêncio em cada um de nós.

Por Renata Estrela

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