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Jornada de Cartéis

29/09 – Jornada de Cartéis

Comentário de Monique Vincent

Nossa Jornada de Cartéis de 2018 contou com a presença de Ram Mandil (AME da EBP), nosso convidado, que nos falou sobre os fundamentos dos carteis e também foi o comentador das três mesas realizadas.

Inicialmente, Ram Mandil traz uma pergunta fundamental: qual o efeito das mutações sociais sobre os carteis? Lacan coloca o cartel como órgão de base da escola. Tomado desta forma, ”o acento recai mais sobre a dimensão coletiva, transindividual, do dispositivo, do que sobre a participação individual de seus membros”. Fundado sobre a teoria dos pequenos grupos, o cartel tem um número limitado de participantes, 3 +1, como articulação mínima que venha a gerar um furo e garantir o turbilhão. A partir desse furo de turbilhão, assegura-se que cada um ali esteja em nome próprio, com a singularidade de seu sintoma, numa aposta de que esta singularidade interessa aos demais participantes. O número pequeno é uma busca de romper com o ilimitado e anônimo do espirito religioso. Ressaltou também a importância de que o cartel funcione como dispositivo de conversação, contrapondo-se ao empuxo do um, ao individualismo de massas tão presente no mundo contemporâneo. O caráter democrático que se dá na tensão entre a comunidade e o lugar do Um coloca a dimensão política do cartel. Esse sendo, como exposto acima, seu diferencial e tendo na presença do mais um o elemento necessário para que não se caia “no individualismo completo” (Lacan, J. ”Religion and the Real”, in: The Lacanian Review, n.1).

As três mesas trouxeram ao debate casos clínicos que, nas construções e questões levantadas, permitiram perceber a importância do cartel.

Os trabalhos foram organizados em três eixos principais para a reflexão: o feminino, a política (racismo e terrorismo) e a psicose (e psicose ordinária).

Questões como a articulação entre falo e sexuação, perpassando o tema da identidade, tão em evidência atualmente, a busca das relações virtuais, escancarando nossa dificuldade diante da evidência da não existência da relação sexual, a posição do analista, suas intervenções, e a percepção daquilo que produz efeito, foram levantadas e debatidas. A prática analítica assegura essa tensão entre o singular e a coletividade.

O momento político atual nos traz uma reflexão sobre a prática da psicanálise quando se esvai a democracia. A democracia não é natural. O cartel, propiciando a construção de um saber atravessado pelo Outro, permite a circularidade dos discursos singulares, indicando uma prática política calcada sobre a democracia e sobre o esforço necessário para sua existência. Assim, o momento político, seja dos cartéis, seja da Escola ou do mundo, coloca a possibilidade de pensarmos essa articulação entre o singular e o coletivo. Com as modificações dos laços sociais na contemporaneidade, há uma mudança na potência disruptiva dos cartéis quanto às identificações massivas que impedem o surgimento do novo? Supondo que essas modificações possam ser sujeitas, como fenômeno do social, aos sempre presente empuxos às identificações, a resposta poderá ser “sim”. Os cartéis, se suportados em suas dificuldades, podem continuar a exercer seus benefícios de privilegiar e permitir a singularidade.

Concluo com perguntas feitas nos trabalhos e na fala de Ram Mandil: teriam ainda os cartéis força para derivar esta tendência contemporânea ao individualismo numa boa direção? Pelo menos no âmbito e alcance da psicanálise nas Escolas da AMP.

Ram Mandil nos informa que no Relatório da Secretaria de Cartéis de 2017 já se chamou a atenção para certa afinidade entre os cartéis e os laços sociais contemporâneos. Permanece, no entanto, na forma em que se estrutura o cartel e na função do mais um, a potencialidade para que prevaleça o “furo do turbilhão”.

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