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Uma lembrança – por Cristina Duba

Em 2010, o vulcão islandês soltou suas letrinhas e o céu de Paris ameaçava ficar cinza. Os voos foram cancelados. Estávamos à espera de partir para o Congresso da AMP. Quando finalmente o espaço aéreo abriu, a maioria de nós se encaminhou para o aeroporto e eu estava especialmente apreensiva. Como se fiar nas companhias aéreas, nos Governos, nesse Outro obscuro? Encontrei Stella nesse voo e seu humor e sua argúcia o tornou muito mais leve e … possível.  Foi muito bom conhecê-la e partilhar alguns momentos em que se fazia presente sua forma tão própria de se virar com a vida imprevisível, seja com a morte das pessoas que se ama, seja com o horror da ascensão do fascismo. O jeito próprio de Stella de enfrentar o horror com a palavra fina e dura e a alegria de viver os bons momentos da vida. Sem perder o humor.

Minhas lembranças de Stella são encontros, muitos, pontuais e marcantes. Encontros que traziam sempre algo de inesquecível, pelo humor, pelo espírito. Inumeráveis. Não são tantas as pessoas marcadas tão radicalmente pela psicanálise e tão resolutamente precisas, concisas. Essa argúcia, aliada à fineza, não turvou o afeto rápido que a fez saltar da cadeira e tomar a palavra, com a urgência que o momento exigia, quando a extrema-direita saiu das sombras e chegou ao Planalto.

Stella fará muita falta entre nós e, quando o luto passar, talvez tenhamos mais clareza das muitas outras marcas que nos ficarão a partir desta sua falta entre nós.

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