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Por Angela Bernardes

Agradeço à Diretoria pela organização desse encontro e o convite a mim feito para tomar a palavra hoje. Aceitei, ciente de que ainda é cedo para dizer em poucas palavras o que Stella representou pra mim.

Nesses dias de luto, vieram lembranças de diferentes momentos da minha história com ela.

Foi com Stella que comecei a ler Freud há 40 anos atrás. Fiz parte de alguns dos grupos de estudos que ela coordenava no início dos anos 80. Ela incentivava e orientava a leitura de cada um, contribuindo para a formação de muitos, numa época em que havia um vazio de Escola lacaniana no Rio.

Mais tarde, ela transferiu para seu trabalho de Escola – em cartéis, seminários e mesmo no Núcleo de pesquisa do ICP– esse seu talento para acolher e valorizar o traço de cada um e fazer com que, do seu lugar próprio, cada um tomasse parte no trabalho de construção de saber. Era nesse enquadre que suas pontuações precisas tinham efeito de transmissão. Nas trocas recentes de mensagens entre os participantes do Núcleo de Topologia muitos foram os depoimentos que deram testemunho disso.

Eu tive a chance de trabalhar próxima a ela em diferentes ocasiões. Ela chamou-me para a comissão de ensino do ICP quando foi coordenadora e convidou-me a compor o cartel que sustentou o Seminário de Orientação Lacaniana na Seção por 2 anos – 2010 e 2011, se não me engano. Aprendi muito com sua leitura arguta e sua orientação de trabalho. Muitas vezes recorri a ela quando precisei tirar uma dúvida ou encontrar uma referência.

Ao longo dos anos, fomos construindo uma amizade. Às vezes mais próximas, às vezes menos – em função de muitos fatores – mas eu sempre soube que poderia contar com ela se precisasse e isso me foi dito por ela  com todas as letras. A generosidade era um traço marcante da Stella: ela teve gestos de companheirismo para comigo que nunca serão esquecidos.

Nos divertimos muito também. Era uma delícia rir com Stella, desfrutar de seu humor inteligente…

Ainda não posso crer que nunca mais vou falar com ela…

Nos últimos dias, recebi muitas mensagens e algumas fotos da Stella. Sem velório e sem abraços, vamos compartilhando a dor da perda pelas redes…

Vendo agora seu sorriso, olhando as velas de seu bolo de aniversário, imaginei aquela menina de 5 anos que ganhou do pai o Dom Quixote de Cervantes do qual, até outro dia, era capaz de recitar de cor os primeiros parágrafos em um castelhano castiço.

Acho que eu gosto de pensar nela assim…

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