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Para o lançamento das XXVIII Jornadas – Os nomes da vida: marcas da pandemia

Por Marcia Zucchi – Diretora Geral do ICPRJ

Gostaria de agradecer a todos os que têm trabalhado com tanto desejo para que essas Jornadas aconteçam.

As Jornadas Clínicas anuais são o auge de um trabalho que mantém causada toda a comunidade da Seção Rio e do ICP-RJ, ao longo de um ano, em torno de um tema que afeta não só a nós psicanalistas, mas que reflete as inquietações do nosso entorno. Como ficou destacado na fala de Ruth, cada vez mais as Jornadas têm se tornado nossa porta aberta à cidade.  Momento em que nos deixamos interpelar pelas questões centrais que a afetam e nos forçam a refletir sobre nosso lugar e papel nelas.

Tais questões exigem que estejamos permanentemente reinterpretando a psicanálise. Nesse sentido, quero agradecer muito a presença de Fabian Naparstek, amigo da Seção Rio e do ICP, já de longa data, que em sua extimidade vai nos ajudar a repensar, hoje, a potência da psicanálise em nossa cidade tão sofrida e em nosso país com vários genocídios em curso. Como fazer da psicanálise uma máquina de vida que se oponha à máquina mortífera que estamos enfrentando desde 2018?

Bem, e como o ICP vai participar dessas Jornadas?

Uma breve introdução antes de responder.

Seguindo Krenak, será que inventamos paraquedas quando compartilhamos saberes e não-saberes? Penso que sim!

Transmitir um saber adquirido com a prática e a pesquisa psicanalítica, de modo sempre aberto, buscando nomes para o nosso espanto, pode ser um paraquedas. Mas cabe cuidar que essa transmissão zele para que o furo no simbólico que aponta o real não seja obturado. Isso faria desse saber, letra morta. Apostar nas contingências e invenções pode criar pontes no abismo. Mas não à custa da negação do real. Chega de terraplanismo e de antivacinismo!

Nesse sentido é que o ICP proporá nestas Jornadas 3 cursos que percorrerão os modos como a psicanálise busca ser essa máquina de vida.

Tomando os 3 eixos temáticos das Jornadas – 1- Psicanálise e Formação; 2- O real e o virtual; 3- Arte e artifício; proporemos 3 cursos que se articulam aos eixos.

Os títulos podem sofrer mudanças. Mas os temas serão esses:

  1. Perdas, luto, depressão e melancolia na obra de Freud/Lacan.
    2. Internet e semblantes- o lugar do corpo- a imagem e a tecnologia.
  2. Sublimação e Sinthoma— arte e artifício, sobre a satisfação no ser falante.

Desde já, convidamos vocês a se engajarem nos cursos, para que formulemos juntos boas questões e arrisquemos algumas respostas para esses temas tão importantes da clínica psicanalítica contemporânea.

Faço também outro convite, e este especialmente dirigido às nossas alunas e alunos: que inscrevam trabalhos para as mesas simultâneas. Essa é, sem dúvida, uma importante experiência de formação. Trata-se de uma troca, na qual estamos todos na condição de pares. Todos analisantes, pondo a trabalho nosso não-saber. Ganhamos todos com esse compartilhamento…

Aproveito para convidar, também, os participantes dos Núcleos e Unidades de Pesquisa a apresentarem, nas mesas simultâneas, suas investigações particulares sobre as diversas questões clínicas que vêm trabalhando nos núcleos.

Pensando nas marcas da pandemia, constatamos que para além do medo real da morte, a angústia é, talvez, a principal marca nos sujeitos nesses tempos atuais. Lembrando que angústia é a presença do objeto onde deveria haver furo para que o desejo pudesse circular, como desejar quando o tempo parece haver se congelado e o futuro desaparecido? Quando nomes que deveriam proteger, são eles mesmos que nos ameaçam?

Onde há prevalência do objeto, não há nome, o significante escapa. Daí a necessidade desse esforço de poesia, parafraseando Miller, de extrair do real da pandemia, das perdas, das ameaças, as palavras que nos permitam manejá-lo com um menor sofrimento.

Não parece ser à toa que as demandas por atendimento explodiram ao longo da pandemia. Explodiu também o uso de medicamentos, de bebidas alcoólicas, de fobias, de práticas compulsivas, de violências… Obviamente são soluções diferentes. Mas aqueles que nos procuram têm um traço comum: afirmam se sentir no limite de sua capacidade de invenção. Recomendo a quem ainda não viu que assista o Greg News de 25 de junho último – Pare de Sofrer. Sugiro que se observe as estatísticas ali apresentadas. Segundo eles, em 2020, o Brasil consumiu 13 bilhões de litros de cerveja. Só superando a marca de 2014, quando a Copa do Mundo se realizou aqui, com muita ansiedade e decepção. O Brasil é também o maior consumidor de Rivotril do mundo (remédio indicado para ansiedade, síndrome do pânico e insônia, sintomas frequentemente referidos nesta pandemia. E é barato!). Isso, certamente, nos diz respeito enquanto psicanalistas!

Esperamos, para estas Jornadas, poder recolher das práticas das e dos colegas, alunos, professores, coordenadores de núcleos e convidados, alguns fragmentos, pistas, vislumbres de como a psicanálise pode ajudar a pensar essas questões e a encontrar e produzir nomes de vida face aos mal-estares atuais.

Vale conferir. Aguardamos vocês!

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