Apesar da chuva que voltou a cair no último dia 05 de julho, sobre a…
“O Exílio e a identificação”
por Christiane alberti
“- Fora de
É a noção de “fora de”, contida na definição do termo “exílio”, que me serviu de fio condutor. Exílio significa ser expulso para fora de, e significava inicialmente tormenta, dor. É nomear precisamente o que advém aos sujeitos que, por quaisquer razões, se encontram em um contexto de exílio forçado ou querido, fora daquilo que era seu lugar, o lugar do Outro no qual ele se inscrevia como sujeito: sua home, sua pátria, sua “casa” [chez soi], seu mundo. Esta expulsão para fora do Outro, para fora de sua paróquia, indica que só há exílio para os seres falantes. Ao passo que falamos de migração para os animais. O exílio se mostra sempre como uma dor de existir, ser arrancado [arrachement] para fora do lugar do Outro, e para fora de si. Mesmo quando ele é querido.
Eu me lembro – e é sem dúvida uma das razões que me trazem aqui hoje – de um trabalho de mestrado que Sofia Guaraguara defendeu no departamento de psicanálise da Universidade Paris VIII, no qual ela se interessou justamente pelas jovens mulheres que deixaram tudo em seus países, incluindo seus filhos. Ela se interrogou a fundo sobre esta vontade obscura, ou enigmática à primeira vista, que lhes levava a deixar seus países e a dirigirem-se à Europa, frequentemente nas piores condições. Foi muito interessante que no cerne de seu trabalho de pesquisa havia esta pergunta sobre o que leva alguém a encontrar-se fora de seu lugar, fora de sua família. Destaquemos aqui que alguns sujeitos estão sempre fora de, jamais em casa [chez soi], um exílio existencial, Nenhum lugar, em parte alguma, para retomar o título de Christa Wolf.
A questão então é de saber o que se deixa e o que se leva consigo, aquilo que cola na nossa pele. Os próximos? Os objetos? A vida que inventamos para nós mesmos, a história que nos contamos sobre nossa existência, sobre a vida que fundamentalmente não tem sentido, a máquina de produzir sentido que compõe nosso delírio ou ainda nosso modo de não querer saber sobre o que faz a condição humana e o que faz nossa debilidade? Em resumo, ficções, identificações que vestem os corpos e os sustentam, é isso exatamente o traumatismo fundamental do ser falante: podemos acreditar que é a morte que traumatiza, mas do ponto de vista de Lacan é o contrário, é a vida que traumatiza, pois ela não tem sentido, e desde que nos damos conta disso, como um clarão – pois nem sempre podemos ver isso. Quando acontece um exílio ou um atentado, é onde finalmente surge o trauma. O exílio é como uma trajetória do horror em direção ao ideal, que vai e volta. Mas não é mais o mesmo horror. Eu gostaria de me deter sobre essa travessia. Eis algumas questões a partir das quais eu gostaria de me orientar. ”