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Minha homenagem a Stella – por Elisa Monteiro

Nos 30 anos de convivência e trabalho com Stella, eu e ela nos aproximamos e nos tornamos amigas.  Stella era alguém com quem eu me sentia muito acolhida, com quem gostava de dividir momentos felizes, mas também uma companheira muito generosa, alguém com quem eu podia me abrir e pedir ajuda num momento difícil ou que vibrava quando eu conseguia algo que tinha sido muito difícil para mim.

A morte da Stella é mais do que a perda de uma colega que me ensinou muito – sempre me encantou como Stella conseguia indicar o Freud presente em Lacan e sabia apontar o Lacan intuído por Freud, como disseram muito bem nossos colegas do Conselho da Seção Rio. No entanto, o que é mais difícil para mim neste momento é a perda da amiga com quem eu tinha muitas afinidades, apesar de sermos bem diferentes:  para além da importância que ambas atribuíamos a psicanálise, tínhamos em comum o gosto pela música, pelo cinema, pelos livros, além da afinidade política.

Quando soube que ela estava gravemente doente, percebi que eu não conseguia aceitar a hipótese de que Stella estivesse morrendo. Que ironia, pensei depois: na última mensagem que recebi de Stella, ela me pedia para revisar um texto que ela acabara de escrever. Ela sabia bem que eu gostava muito de ler seus textos e de conversar com ela sobre eles – eu certamente aprendia muito.  Qual era o texto? A vingança do real, justamente aquele em que ela falava sobre a pandemia da covid19, doença que acabou levando nossa querida amiga.

Várias lembranças da Stella me vieram desde o dia 18 de agosto, quando soube que ela estava muito doente. Trago apenas uma. A partir da leitura do Seminário IX de Lacan, a identificação, Stella e eu, resolvemos estudar topologia. Um dia estávamos sentadas há horas no consultório dela, dedicadas a uma tarefa impossível. Buscávamos construir um cross-cap usando apenas o que tínhamos a mão… um rolo de papel higiênico… Eis que Cecilia entra na sala e, muito espirituosa, olha para gente e diz compenetrada: Puxa, esse professor de trabalhos manuais deu para vocês um trabalho de casa muito difícil… Será que é possível? Eu e a Stella caímos na risada…

Sentirei muita falta não só dos comentários precisos de Stella, mas também de vê-la dançar, da sua ironia, da sua alegria.

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