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Ecos da Revoada

Apesar da chuva que voltou a cair no último dia 05 de julho, sobre a tão conturbada cidade do Rio de Janeiro, nossos insetos queridos puderam, finalmente, entrar pelas janelas de nossa Escola, já há algum tempo abertas, à sua espera.

Tratava-se da leitura dramatizada da peça Insetos, de Jô Bilac, realizada pela Companhia dos Atores, em nossa seção, a convite Diretoria da EBP-Rio, Leituras em Cena* e de Isabel Diegues, Diretora Editorial da Cobogó.

Ao falar da Coleção Dramaturgia e de seu especial apreço por publicar peças teatrais, Isabel ressaltou que um texto dramatúrgico é criado para ser performado. Algo, portanto, como pudemos concluir, impactados, artistas e psicanalistas, durante o debate fomentado pelo escritor Luiz Eduardo Soares e o psicanalista Marcus André Vieira, da ordem de um acontecimento, assim como o é o encontro ocorrido entre analisante e analista. A contingência.

A experiência, passível, por via da arte, de ser compartilhada por muitos e que numa análise ocorre no um a um, de que algo cessa de não se inscrever.

Pudemos, naquela noite, a partir das tantas camadas sobrepostas na montagem da Companhia dos Atores – homens representando papéis femininos, corpos destacados das respectivas cabeças, diferentes línguas traduzindo um mesmo texto e até mesmo atores dentro e fora da cena, sendo capazes, ainda, de rir do frescor da performance uns dos outros após 30 anos de trabalho conjunto – tocar juntos, algum real e, exilados que estamos da crença em algum valor universal, reconhecermo-nos, enquanto um determinado coletivo, em nossa aposta. Ou seria esperança? A questão rendeu.

Há humor na peça, é certo – embora seja difícil reconhecer com clareza o que o provoca; há uma intrigante peculiaridade na montagem não linear das cenas que traduz o fato de estarmos, todos, neste difícil momento pelo qual atravessa o nosso país, “em trânsito’, como diz um trecho da peça – mas há, sobretudo, o tema da morte.

Não é a lógica infantil das antigas fábulas que humaniza as personagens da peça. Arrisco dizer que o que nos irmanou naquela noite, regada, também, a esfihas e cerveja, enquanto humanos, foi o reconhecimento de nossa experiência de transcender o fato de nos sabermos finitos, como também o sabem, na peça, os insetos. Alguns se perguntam se já terá chegado o fim dos tempos e se o passarão em um bunker ou em um resort, promovendo uma fina ironia diante da ideia de “guardar para quando não tiver mais”, outros espelham o medo que sentem e o que provocam. Há o que se ri da vã tentativa de evitarmos a realidade de que vamos morrer – “nasceu, fodeu” –, e ainda, a que, reconhecendo a morte presente na estrutura de seu corpo feito de prazos e medos, afirma, talvez, a única coisa que é possível afirmar: “eu estou viva agora”, pouco antes de ser degolada.

A pesquisa prossegue e promete. Até o próximo encontro!

* O trabalho desta comissão é orientado pelo cartel “Psicanálise, Arte e Política: variações em torno do objeto”, com Isabel do Rêgo Barros Duarte, Maricia Ciscato, Renata Martinez e Marcelo Veras (mais-um), e integrado também por Dinah Kleeve, Natasha Berditchevsky, Patricia Paterson e Thereza De Felice, além dos novos participantes Adriana de la Peña Faria, Cristina Frederico e Rodrigo Nocchi.

https://ebp.org.br/rj/carteis/outras-atividades/

Por Dinah Kleve
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