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Durante o caminho

Lourenço Astúa e Melissa Bottrel- Comissão de Mídias das XXVIII Jornadas Clínicas EBP/ICP-RJ

indicações:

1- copie e cole este texto no google tradutor

2- ouça com a voz do google

3 – depois, leia com sua própria voz

Inicialmente criado para fins bélicos, o GPS, hoje utilizado para fornecer outros tipos de informações de localização, nos inspirou sobre a maneira com a qual apostamos neste posicionamento durante um caminho que nos leva a algum lugar, ou não.

Esse dispositivo que auxilia durante um trajeto, oferece outras informações que vão para além do final dele. Assim, não sem precisão no direcionamento, apostamos que é durante o deslocamento que existe espaço para invenção. Como nos lembra Fabián Naparsterk, citando Lacan no encontro de lançamento das XXVIII Jornadas, uma invenção com a presença do Outro, não sem ele.

O GPS, como bem aponta Naparsterk difere muito da bússola que, indicando o norte, se orienta pelo significante. “Podemos dizer que se orienta pelo Nome do Pai. O norte é o Nome do Pai”. Já o GPS se orienta pelo objeto a voz: uma voz que nos diz onde nos localizamos. “É preciso crer nessa voz, crer que estamos localizados no bom lugar”. A passagem da bússola ao GPS, nos diz Naparsterk, indica a passagem do Nome do Pai e da época de sua prevalência – notemos que o norte é um, um para todos – à época da prevalência do objeto a, agora no zenit da civilização. “Quando Lacan introduz o objeto a, ele fala do objeto transicional de Winnicott, por ser um objeto que permite que nos enlacemos ao campo do Outro”, um objeto de trânsito.

Carregar o objeto a no bolso, nos diz Lacan, é a prerrogativa daqueles que habitam a linguagem a partir de uma organização dita psicótica. Quais seriam, então, as consequências que podemos tirar do fato de, como nos diz Fabián Naparsterk, carregarmos quase todos no bolso um smartphone GPS?

A que ponto chegamos, sem ponto de interrogação. Estranha pergunta-afirmação que, assim como uma análise, questiona e mantém em aberto a própria ideia de destino e deixa implícita a ideia de uma jornada, de um percurso e de um trabalho de cartografia que deixa e assinala atrás de si marcas, sulcos, Bahnungen.

O GPS não nos guia para o final da pandemia, nem para o final das jornadas, sejam elas clínicas ou não. Entretanto, é justamente ele que nos direciona em nosso trabalho com a palavra dentro da pandemia em curso. Enquanto este furo, cratera, pedra no meio do caminho, rocha gigante e invisível, nos contamina, nos traz angústia e nos mata, apostamos na utilização do GPS. Uma aposta de que há vida, há trabalho e há direção dentro de um contexto marcado pela presença tão imponente do real e da morte.

Nosso boletim escolhe esse nome entendendo a importância deste dispositivo que recalcula rota, um cálculo necessário e presente em nossa prática enquanto analistas. Que possamos então nos localizarmos a partir da palavra e inventar novas direções até às jornadas, e também para além delas!

Rio, julho de 2021
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