Deslocamentos e aberturas

Ana Tereza Groisman

É tempo de concluir, não parece fácil… foram dois anos de uma densidade diferente. Nos vimos deslocados de nossa rotina, de nossa casa e do convívio com todos. Ao sentar para escrever sobre o que se passou, me vejo diante de um impossível. A vida deu uma cambalhota e tirou tudo do lugar, ainda preciso de tempo para organizar num novo arranjo tudo o que surgiu a partir de então. Foi preciso reinventar um jeito de fazer Escola, sem nossa casa e o bate papo na calçada, sem a presença dos colegas, e sem Natalina, Jéssica e Rosane, tão fundamentais para o funcionamento da nossa seção Rio.

Seguimos funcionando e aprendendo na medida em que fazíamos, recolhendo os efeitos de cada proposta e atividade. Nem sempre deu certo, mas extraímos consequências dos tropeços e tentamos inventar um jeito de contribuir para uma Escola agalmática que envolvesse seus membros numa boa transferência de trabalho.

Depois desse ano pandêmico, parece difícil recortar o trabalho da diretoria de Cartéis da diretoria geral. Trabalhamos junto tentando inventar maneiras de seguir em frente.

Hoje, em retrospecto, tento desenhar um caminho: em nossa primeira jornada de Cartéis, em agosto de 2019, quando então contamos com a participação de Nohemi Brown e Rodrigo Lyra, diretora e ex-diretor de Cartéis e intercâmbios da EBP, traçamos dois eixos de trabalho e pesquisa: sobre a função do Mais-um como uma orientação para os membros de Escola e sobre a necessidade de incluir o trabalho em cartel no dia-a-dia da Escola. Considero que o encontro de Cartéis e as rodas de conversa em nossas jornadas foram atividades que tiraram consequências dessa investigação. E, a manhã de Cartéis que encerrou nosso biênio de trabalho, foi um ponto de conclusão e abertura para novas invenções com o dispositivo de Cartel em nossa Escola.

A Jornada Clínica de 2020 foi um momento de intercâmbio fundamental em nossa seção, um encontro aberto à cidade que contou com uma ampla participação de nossa comunidade e de diversos outros campos de saber e leitura sobre os exílios em suas diversas acepções. Até hoje recolhemos ressonâncias desse acontecimento. Com o confinamento e outras intercorrências, as atividades de intercâmbio ficaram prejudicadas, mas o cartel se revelou uma verdadeira máquina de guerra contra o isolamento e a dispersão dos membros de nossa comunidade. Muitos Cartéis se iniciaram em meio à pandemia, os encontros virtuais apagaram fronteiras e os Cartéis passaram a contar com colegas de outros estados e até de outros países.

Em nossa manhã de cartéis recebemos um número expressivo de trabalhos de colegas cartelizantes que propiciaram um encontro vivo e produtivo, a quem aproveito para agradecer. Os Mais-uns ad hoc, toparam a proposta de funcionamento e se mostraram provocadores provocados pelos trabalhos apresentados e propiciaram a conversa entre todos os participantes. Agradeço especialmente a cada um dos colegas que aceitou o desafio.

A transferência de trabalho e os laços de amizade foram fundamentais para sustentar o trabalho de Escola e mantê-la viva. Agradeço à minha querida equipe; Francisca Menta, Lourenço Astúa, Clarisse Bohechat e nosso saudoso Vicente Gaglianone pela parceria e confiança. A Anna Luiza Almeida que se juntou à nós na hora precisa.

Mas além das parcerias que construímos no trabalho em equipe, pude contar com inúmeros colegas da seção que participaram das jornadas, da noite sobre o Mais-um, das rodas de conversa e da manhã de Cartéis que encerrou as atividades desse biênio de trabalho. Agradeço aos Mais-uns que incentivaram a participação de seus cartelizantes.

Por fim, gostaria de agradecer enormemente minhas colegas de diretoria, Andréa Reis, Andréa Vilanova e Renata Martinez, pelo apoio e incentivo em cada passo desse percurso. Foi um período difícil e contar com o bom humor e a parceria de cada uma foi fundamental. O Cartel formado por nós com a contribuição do nosso querido Mais-um, Paulo Vidal, nos ajudou a formar uma diretoria enlaçada pelo desejo de fazer Escola, e na conclusão desse trabalho, percebo que conseguimos nos deslocar dos lugares instituídos.