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À Estela, minha irmã de vida – por Gloria Georgina Seddon

 

Stella foi uma grande amiga, uma irmã de vida. Compartilhamos desde o exílio e a política à criação dos filhos; desde a psicanálise à arte e ao cinema; desde o tango ao samba. Ela sempre lutou pela liberdade e pela democracia, tanto na Argentina, quanto no Brasil. Dentro desses princípios e ideais criou sua filha, a querida Cecilia, o seu maior legado, hoje aqui presente conosco.

Como cidadã, mulher e psicanalista, Stella fez de sua vida um laboratório de compromisso com o seu desejo, arriscando-se e comprometendo-se eticamente com tudo que fazia. A sua força, creio que vinha da sua atitude reservada, no entanto Stella sempre nos surpreendia com seus gestos generosos, com seus intensos laços afetivos, e suas vastas articulações e inserções sociais.

Ela pensava que o psicanalista tinha que se comprometer com a Polis, e se fazer cargo daquilo que a própria psicanálise produz no social. Stella nunca se deixou encantar pelo poder, pelo contrário, analisava as causas desse encantamento. Nos seus últimos escritos elabora uma análise preciosa do porquê as pessoas se voltam para um sistema fascista, como o que vivemos no Brasil atual: segundo ela, a democracia seria o sistema político mais próximo da complexa estrutura do sujeito e o que garantiria a existência da própria psicanálise,  permitindo que o homem possa ser cidadão e também um sujeito desejante.

A solidão era o campo aonde ela cultivava sua singularidade, da onde ela se arriscava a lançar-se para dar voo ao seu livre pensamento, se defrontando com aquilo que não queremos saber e indo mesmo até o não sentido final da vida.

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