
nº2
EDITORIAL
Comissão editorial do boletim P U L S a R
Este segundo boletim traz, na abertura da seção “Ancoragens”, o primeiro eixo temático de nossa jornada, a saber, “O gozo e a época”, escrito por Oscar Reymundo, o qual inicia com uma questão orientadora, um farol por onde o tema se desdobra: “O que seria a época na perspectiva analítica?”. A partir da pergunta, articulam-se, entre outros, conceitos como modos de gozar, de viver a pulsão, segundo um conceito de discurso. Oscar acrescenta, retomando Lacan no seminário da Ética, que “no mundo de hoje prolifera um ruído, um mal-estar que, como psicanalistas, não temos motivos para não escutá-lo”. Escutar o ruído da época, uma questão ética e política da psicanálise, frente a qual Oscar se pergunta: como ofertar um bom uso de um analista, hoje?
Eixo 1: O gozo e a época
Oscar Reymundo (EBP/AMP)
O que seria a época na perspectiva analítica? No caso da próxima Jornada da Seção Sul, a época seria a atualidade? Em Anorexia e bulimia. Sintomas atuais do feminino, Fabián Schejman diz que poderíamos entender uma época como ela estaria marcada pelo modo predominante, datável, de gozar, de viver a pulsão segundo um contexto de discurso. Destaco “segundo um contexto de discurso”, uma vez que os laços sociais são laços discursivos e, enquanto tais, as relações de linguagem entre os seres falantes definem diferentes maneiras de se lidar com o corpo e com o gozo. Assim, os discursos que regem os laços sociais situam as possíveis relações entre falasseres agindo como um freio sobre o gozo, como se fosse um dique que detém o curso d’água, mas também regula sua passagem. Seria possível dizer, então, que uma época estaria…
Pontos de investigação
Comissão Epistêmica da VI Jornada da EBP – Seção Sul
Ao considerarmos “O mal-estar na civilização” e a estruturação dos discursos como formas de laços sociais através da linguagem, recortamos inúmeras referências das obras de Freud e Lacan, respectivamente, nas quais são pinçados elementos do gozo em épocas distintas.
Jacques-Alain Miller, ao se referir ao modo como trata das questões culturais, destaca que “abordamos estes fenômenos culturais exclusivamente pela perspectiva psicanalítica, quer dizer que reunimos material para esclarecer as condições da prática atual e que, ao fazer isto, procedemos a partir da psicanálise”.
Da solução sintomática do isolamento à solidão do falasser
Juan C Galigniana
(Participante das atividades da EBP – Seção Sul)
Foi lançado o argumento para a VI Jornada da Seção Sul: Cadê o gozo? O que diz a época e a clínica, apresentado por Márcia Stival. A pergunta, em seu contexto clínico e político, orientará nosso trabalho de pesquisa e abriu uma rica discussão na primeira preparatória realizada.
Se esta pergunta pressupõe um lugar, que lugar seria para o gozo? Ou melhor, de que lugar falamos?
O argumento desdobra várias linhas de pesquisa, pinçarei três.
A partir dos discursos como lugares e funções nos quais, segundo o argumento…
A época e o espírito do tempo: amor, desejo e gozo
Nancy Greca Carneiro (EBP/AMP)
Em seu discurso na Universidade de Milão – maio de 1972 –, Lacan afirma que antes de qualquer significação possível, o jogo do significante, o deslizamento do significante “… é isto o que determina o ser para aquele que fala”. A língua, a língua materna, a língua que se fala e seus usos, os usos da língua. O espírito do tempo fala e nela se inscreve a subjetividade da época. Nos tempos que correm, o sujeito romântico se retira, o sujeito da dúvida se dilui numa demanda incessante de gozo.
Mas se o sujeito se inscreve na subjetividade de sua época, a psicanálise o encontra na falta, no furo, em torno de uma perda. E é o discurso, no ordenamento do que se pode produzir pela existência da linguagem, que faz papel de ligação social. Em pleno maio de 1968, Lacan adverte que a aspiração revolucionária sempre termina no discurso do Mestre.E faz notar: “… é claro que nada é mais candente do que aquilo que, do discurso faz referência ao gozo”.
Referências e citações – #2
A equipe da Comissão de Referências Bibliográficas da VI Jornada da Seção Sul, acompanha a pulsação do Boletim desta vez a partir do eixo O gozo e a época. Conhecemos a frase de Lacan, “que antes renuncie a isso portanto quem não conseguir alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época. Pois, como poderia fazer de seu ser o eixo de tantas vidas quem nada soubesse da dialética que o compromete com essas vidas num movimento simbólico. Que ele conheça bem a espiral a que o arrasta sua época na obra contínua da Babel e que conheça sua função de intérprete na discórdia das línguas.”. Se nos deparamos com a época e o gozo que entra pela porta de nossos consultórios, como podemos então, pensar essa espiral?
