skip to Main Content
[eikra-vc-text-title style=”style2″ title=”EIXOS DE TRABALHO”][/eikra-vc-text-title]

Eixo 4: Qual o estatuto do que faz falar?

Gilberto Rudeck da Fonseca (EBP/AMP)[1]

Lacan, ao comentar o título do seu Seminário livro 19  –  … ou pior – , afirma que os três pontos do título servem para “criar um lugar vazio” e ao enfatizar “a importância desse lugar vazio”, ressalta que “essa é a única maneira de dizer alguma coisa com a ajuda da linguagem”[2]. E acrescenta que “o vazio é a única maneira de agarrar algo com a linguagem” e permite, “justamente, penetrar na natureza desta última”[3].

De que vazio estamos falando? Como Jacques-Alain Miller nos explica no seu curso O ser e o Um, citando Frege, de um ponto de partida, de uma inexistência, de um conjunto vazio[4].

O Outro não existe, deste vazio se extrai que o Um existe, este ex-siste. Com a linguagem falamos sobre o que não existe, mas que pode ser. Não há ser senão do dito, afirma Lacan no seminário XX.

Lacan introduz outro dito que acentua o vazio: não existe relação sexual. Este vazio coloca que “o sexo não define relação alguma no ser falante”[5]. Mas, ao falarmos disto, podemos introduzir ou agarrar uma ex-sistência.

Para Lacan, o existencialismo é um logicismo. “A existência, para Lacan, é o que resulta daquilo que a lógica seleciona entre os semblantes dos seres da linguagem para neles reconhecer o real. A existência lacaniana depende, se depreende de uma operação significante. […] A existência surge da linguagem[…]”[6]. Esse real da existência é o significante. Este é o há um da ex-sistência.

A lógica prevalece às identificações, a ex-sistência prevalece ao ser. Falando do Outro que não existe, da relação sexual que não existe, podemos agarrar o há um, que não faz relação, ficando assim, a questão de como cada um pode se virar com isto?

“Ao levantar uma questão, a relação sexual, que não existe – no sentido de que não se pode escrevê-la -, essa relação sexual determina tudo o que se elabora a partir de um discurso cuja natureza é ser um discurso rompido.”[7] Não será este o verdadeiro estatuto do que faz falar?

O todo submetido à castração, implica num significante que é gozo, cujo falo é o significado, é isto impede a relação, donde se extrai o não há relação sexual.

A lógica do não-todo implica numa inexistência.  A ex-sistência de um gozo que não é submetido ao todo, isto é, não é submetido à castração. Não é submetido à linguagem.

A inexistência, o não existe, tem um gozo não-todo, não submetido às leis da linguagem que não passa pela castração, mas que está no centro do que faz falar?

Neste sentido, Fabian Fanjwaks, nos deu uma orientação que podemos retomar aqui: “o ser se associa à palavra, então, há algo que existe antes e fora dela, ou, empregando a terminologia de Martin Heidegger, ex-siste, isto é, que é exterior em relação a ela. Trata-se do campo de gozo, que, justamente não se reduz à palavra e não se deixa tomar pela palavra. A ex-sistência se apresenta assim como exterior em relação ao domínio do significante e de todas as ficções que ele é capaz de articular. Lacan afirmava que a verdade tem estrutura de ficção. Assim, a verdade ou as verdades são na medida em que se articulam ao significante; o real do gozo, entretanto, ex-siste em relação a ele.”[8]

Com esta precisão epistêmica, tomada do último ensino, podemos nos perguntar: em que consiste a operação do analista a partir deste momento? Qual o valor da interpretação?

Neste eixo visamos trabalhar partindo do vazio, do que faz falar, do que não existe, criando seres, semblantes, que através da linguagem, possibilita introduzir uma lógica de onde se pode extrair a ex-sistência que promove o falasser. Precisando os conceitos que nos orientam em diferentes momentos do ensino de Lacan e suas consequências na experiência analítica. Bom trabalho a todos.


[1] Agradecimento especial aos leitores: Nohemi Ibañez Brown, Laureci Nunes, Blanca Musachi, Célia Aparecida Ferreira Carta Winter
[2]Lacan, J. O Seminário, livro 19: …ou pior. Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Rio de Janeiro, Zahar, 2012. p.11
[3] Ibid., p.12
[4] Miller, J.-A. O ser e o Um. Aula VII, de 16 de março de 2011 [inédito]
[5] Lacan, J. O Seminário, livro 19: …ou pior, op. cit., p. 13
[6] Miller, Jacques-Alain. O ser e o Um, op.cit
[7] Lacan, J. O seminário livro 19.  … ou pior, op. cit., .p..23
[8] Fanjwaks, F. Ficções e real na psicanálise e na cultura: do ser à ex-sistência.
 Disponível em: https://ebp.org.br/sul/eventos/jornadas/2a-jornada-da-secao-sul-falar-sobre-o-que-nao-existe-do-gozo-do-sentido-as-bricolagens-possiveis/textos_referencias-2a-jornada-da-secao-sul-2/
Back To Top