EIXO 1 – Do Sujeito ao Falasser: o problema de Lacan
Célia Ferreira C. Winter (EBP/AMP)
Com Freud definimos o inconsciente, “isso fala”! A escuta seria então o encaminhamento lógico para acessá-lo? Freud inaugura a associação livre e vai se deparando com um “resto que está nas origens do sujeito, o acontecimento originário permanente, que se reitera sem cessar”[i]. Freud, deixa as pistas, seguidas por Lacan, que nos leva da escuta do sentido à leitura fora do sentido, proposto por Miller, no texto: Ler um Sintoma.
Escutar nos ensina a ler? A leitura faz nó com a escuta? Será uma relação moebiana? Fale besteiras, nos convida o analista. Onde está, no discurso analítico, o sublime da besteira? Como situar no discurso analítico a função do escrito?[ii]. Lacan precisou recorrer a topologia, não para uma demonstração, mas para uma mostração, de como “é o real que permite desatar aquilo em que consiste o sintoma, ou seja, um nó de significantes”[iii].
O que difere a escuta analítica de outras escutas? Das psicoterapias de “inspiração psicanalítica”? Lacan é enfático: “não que ela faça algum bem, mas ela conduz ao pior”. Alerta importante no momento em vivemos a época da escuta generalizada, no dizer de Miller, do bordão que “falar faz bem”, atestado pela multiplicidade de “escutadores” que a pandemia fez emergir. Isso nos leva à vertente da presença do analista. Que presença é esta? Como ficam as análises on-line? O que a experiência clínica, no um a um, nos ensina a esse respeito?
Este eixo interroga a escuta a partir de noções de transferência e interpretação, sustentadas pelo simbólico, e o analista alojado na posição de suposto saber, para, em seguida, pensá-la em um mundo onde essa suposição tem praticamente desaparecido e, o simbólico, não é o registro predominante. Como resultado, temos a desvalorização da palavra, o Édipo perde a eficácia simbólica e, o real desvelado, produz efeitos na cultura e na clínicaque se apresenta hoje, como clínica do Real. O corte, o equívoco, perturbar a defesa, como a intervenção pode fazer vacilar o sentido? Em uma clínica onde o Outro não existe, a leitura do fora do sentido, pode dar lugar a invenção de uma nova escrita? Aguardamos produções teóricas, casos clínicos; “vinhetas práticas”; ou “situações institucionais”em que o analista se faz presente na escuta.