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 Referências Bibliográficas:

 SIGMUND FREUD 

  • FREUD, SO infamiliar [Das Unheimliche] – Edição comemorativa bilíngue (1919-2019): Seguido de O homem da areia de E. T. A. Hoffmann. São Paulo: Ed. Autêntica, 2019.

“[…] o infamiliar é uma espécie do que é aterrorizante, que remete ao velho conhecido, há muito íntimo. Como é possível, sob quais condições, o que é íntimo se tornar infamiliar, aterrorizante[?]” (p.33)

“De todo modo, lembremos que essa palavra heimlich não é clara, pois diz respeito a dois círculos de representações, os quais, sem serem opostos, são, de fato, alheios um ao outro, ao do que é confiável, confortável e ao do que é encoberto, o que permanece oculto. Unheimlich seria usualmente oposto apenas do primeiro significado, mas não do segundo” (pg. 45)

“Talvez, o fator da repetição do mesmo como fonte do sentimento infamiliar não seja reconhecido por todos. Segundo minhas observações, sob certas condições e combinações em determinadas circunstâncias, um sentimento dessa ordem é, sem dúvida, evocado, o que além disso, lembra as situações de desamparo em muitos sonhos” (pg. 75)

“Em outra série de experiências também reconhecemos, sem esforço, que o fator da repetição involuntária é aquele segundo o qual até mesmo o inofensivo se torna infamiliar, impondo-nos a ideia do fatídico, do inescapável, onde nós até então falávamos de ‘acaso’.” (pg. 77)

  • FREUD, S. A feminilidade (1933). In: ______. O mal-estar na civilização, novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, pp. 263-293.
[…] vocês devem ter dúvidas quanto ao significado decisivo desses elementos e concluir que o que constitui a masculinidade ou feminilidade é uma característica desconhecida, que a anatomia não pode apreender. (p. 266)


JACQUES LACAN

  •  LACAN, Jacques. O seminário; livro 17 – o avesso da psicanálise (1969-1970). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992.

“Evidentemente, Freud quanto a isso às vezes se esquiva, nos abandona. Ele abandona a pregunta sobre o gozo femenino.” (p. 67)

  • LACAN, Jacques. O seminário; livro 19 – … ou pior (1971-1972). Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

“Que se diga, como fato, fica esquecido por trás do que é dito. O que é dito não está noutro lugar senão no que se ouve. É isso a fala. O dizer é outra coisa, é outro plano, é o discurso.” (p.221)

  • LACAN, Jacques. A Terceira. Opção Lacaniana; Revista Brasileira Internacional de Psicanálise. São Paulo: Eolia, v. 62, pp. 11-36, dez. 2011.

“Tanto o gozo fálico está fora do corpo, quanto o gozo do Outro está fora da linguagem, fora do simbólico.” (p.32)

  • LACAN, Jacques. O Seminário, livro 20: mais, ainda (1972-1973). Trad. de M. D. Magno. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

 Cap. II. A Jakobson:

“O que não é signo do amor é o gozo do Outro, o do Outro sexo e, eu comentava, do corpo que o simboliza […] O significante […] deve ser estruturado em termos topológicos. Com efeito, o significante é primeiro aquilo que tem efeito de significado, e importa não elidir que, entre os dois, há algo de barrado a atravessar.” (p. 24-25)

Cap. III A função do escrito:

“Um homem, isto não é outra coisa senão um significante. Um homem procura uma mulher – isto vai lhes parecer curioso – a título do que se situa pelo discurso, pois, se o que aqui coloco é verdadeiro, isto é, que a mulher não é toda, há sempre alguma coisa nela que escapa ao discurso.” (p. 38)

Cap. VI. Deus e o gozo d’A/ mulher:

“Há um gozo dela, desse ela que não existe e não significa nada. Há um gozo dela sobre o qual talvez ela mesma não saiba nada a não ser que o experimenta – isto ela sabe. Ela sabe disso, certamente, quando isso acontece. Isso não acontece a todas elas.” (p.80)

  • LACAN, Jacques. Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

(1955-1956) O seminário sobre ‘A carta roubada’:

“Os escritos carregam ao vento as promissórias em branco de uma cavalgada louca. E, se eles não fossem folham volantes, não haveria letras roubadas, cartas que voaram.” (p. 30)

(1955-1956) O seminário sobre ‘A carta roubada’:

“[…] é significativo que a carta que em suma o ministro endereça a si mesmo seja a carta de uma mulher: como se, por uma convenção natural do significante, essa fosse uma fase pela qual ele tivesse que passar. Do mesmo modo, a aura de displicência que chega a afetar uma aparência de languidez, a ostentação de um tédio próximo do fastio em suas palavras, a ambiência que o autor da filosofia do mobiliário sabe fazer surgir de observações quase impalpáveis, como a do instrumento musical sobre a mesma, tudo parece arranjado para que o personagem marcado por todos os seus ditos com os traços da virilidade exale, ao aparecer, o mais singular odor di femina.” (p. 39)

(1960) Para um Congresso sobre a sexualidade feminina:

“Princípio simples de formular, de que a castração não pode ser deduzida apenas do desenvolvimento, uma vez que pressupõe a subjetividade do Outro como lugar de sua lei. A alteridade do sexo descaracteriza-se por essa alienação. O homem serve aqui de conector para que a mulher se torne esse Outro para ela mesma, como o é para ele.” (p. 741)

  • LACAN, Jacques. Outros escritos. Trad. de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

(1971) Lituraterra:

“Mas é digno de nota que eu abra essa coletânea com um artigo que isolo de sua cronologia, e que se trate de um conto, por sua vez muito particular, por não poder entrar na lista ordenada das situações dramáticas: o conto sobre o que acontece com a postagem de uma missiva, com o conhecimento daqueles que se encarregam de sua remessa, e em que termos se apoia eu poder dizer que ela chegou a seu destino, depois de, com os desvios por ela sofridos, o conto e sua conta se sustentarem sem nenhum recurso a seu conteúdo. Ainda mais notável é que o efeito que ela exerce sobre os que a cada vez a detêm, por mais que estes arguam o poder que ela confere, para aspirar a tê-la, possa ser interpretado, como faço eu, como uma feminização. É esse o relato bem-feito do que distingue a carta do próprio significante que ela carrega.” (p. 16-17)

“A fronteira, com certeza, ao separar dois territórios, simboliza que eles são iguais para quem a transpõe, que há entre eles um denominador comum. Esse é o princípio do Umwelt, que produz um reflexo do Innenwelt. É incômoda a biologia que tudo já dá a si mesma por princípio, notadamente a realidade da adaptação; nem falemos da seleção, esta uma franca ideologia, a se bendizer por ser natural. Não é a letra… litoral, mais propriamente, ou seja, figurando que um campo inteiro serve de fronteira para o outro, por serem eles estrangeiros, a ponto de não serem recíprocos? A borda do furo no saber, não é isso que ela desenha? E como é que a psicanálise, se justamente o que a letra diz por sua boca ‘ao pé da letra’ não lhe conveio desconhecer, como poderia a psicanálise negar que ele existe, esse furo, posto que, para preenchê-lo, ela recorre a invocar nele o gozo?” (p. 18)

“O escoamento é o remate do traço primário e daquilo que o apaga. Eu o disse: é pela conjunção deles que ele se faz sujeito, mas por aí se marcarem dois tempos. É preciso, pois, que se distinga nisso a rasura. Rasura de traço algum que seja anterior, é isso que do litoral faz terra. Litura pura é o literal. Produzi-la é reproduzir essa metade ímpar com que o sujeito subsiste.” (p. 21)

“Entre centro e ausência, entre saber e gozo, há litoral que só vira literal quando, essa virada, vocês podem tomá-la, a mesma, a todo instante. É somente a partir daí que podem tomar-se pelo agente que a sustenta.” (p. 21-22)

(1972) O Aturdito:

“Indiquemos apenas que as mulheres aqui nomeadas fizeram um apelo – tal é sua inclinação nesse discurso – do inconsciente à voz do corpo, como se não fosse justamente pelo inconsciente que o corpo adquire voz. É curioso constatar, intacta no discurso analítico, a desmedida existente entre a autoridade de que as mulheres dão a impressão e a ligeireza das soluções pelas quais essa impressão se produz.” (p. 463-464)

“O não há relação sexual não implica que não haja relação com o sexo. É justamente isso que a castração demonstra, porém não mais: ou seja: que essa relação com o sexo não seja distinta em cada metade, pelo fato mesmo de separá-las. Sublinho: eu não disse ‘de separá-las’ por repartir o órgão entre elas; véu onde extraviaram Karen e Helene, Deus conserve suas almas, se é que já não o fez. Pois o importante não é que isso parta das titilações que os queridos pequerruchos sentem na metade de seu corpo a ser atribuída a seu alto-eu [moi-haut], mas sim que essa metade faça sua entrada como impereza, para que só entre nisso como significante m’estre dessa história de relação com o sexo. Isso, unicamente (e nesse ponto, com efeito, Freud tem razão) pela função fálica, visto que é justamente ao proceder como suplemento de um único fânero que ela, essa função, se organiza, encontra o organon que reexamino aqui.” (p. 464-465)

“É ele: para se introduzir como metade a se dizer das mulheres, o sujeito se determina a partir de que, não existindo suspensão na função fálica, tudo possa dizer-se dela, mesmo que provenha do sem-razão. Mas trata-se de um todo fora de universo, que se lê de chofre a partir do quantificador, como nãotodo. O sujeito, na metade em que se determina pelos quantificadores negados, vem de que nada existente constitui um limite da função, que não pode certificar-se de coisa alguma que seja de um universo. Assim, por se fundarem nessa metade, ‘elas’ são não-todas, o que tem também como consequência, e pela mesma razão, que tampouco nenhuma delas é toda.” (p. 466)

“Dizer que uma mulher não é toda é o que nos indica o mito por ela ser a única a ser ultrapassada por seu gozo, o gozo que se produz no coito. É também por isso que é como única que ela quer ser reconhecida pela outra parte: isso é mais do que sabido. Mas é também nisso que se apreende o que há por apreender, isto é, que, mesmo se satisfaça a exigência do amor, o gozo que se tem da mulher a divide, fazendo-a parceira de sua solidão, enquanto a união permanece na soleira.” (p.467)

“E para que o faça em torno de um furo desse real pelo qual se anuncia aquilo que, a posteriori, não há pluma que não se descubra atestando: que não há relação sexual. Assim se explica o meio-dito que superamos, aquele segundo o qual a mulher seria, desde sempre, um engodo da verdade. Oxalá o céu, rasgado enfim pela via que abrimos láctea, faça com que algumas delas, por serem nãotodas, venham a criar para o homodito [l’hommodit] a hora do real. O que não seria forçosamente mais desagradável do que antes.” (p. 495)

(1974) Prefácio a O despertar da primavera:

“Mas o Pai tem tantos e tantos que não há Um que lhe convenha, a não ser o Nome do Nome do Nome. Não há Nome que seja seu Nome-Próprio, a não ser o Nome por ex-sistência. Ou seja, a aparência [semblant] por excelência. E ‘Homem mascarado’ o diz nada mal. Pois, como saber o que ele é, se está mascarado, e se não usa uma máscara de mulher – no caso, o ator? Somente a máscara ex-sistiria no lugar de vazio em que coloco A mulher. No que não digo que não existam mulheres. A mulher, como versão do Pai, só se afiguraria como Pai-versão [Père-version].” (p. 559)


 JACQUES-ALAIN MILLER

 “Mesmo que seja de forma brusca, por que não dizer que as mulheres parecem, às vezes e na medida do possível, mais amigas do real? De qualquer forma, isso se explica pelo fato de elas não terem necessariamente a mesma relação com a castração que os homens.” (p.2)

“A posição feminina incluiria certa “intuição” ( entre aspas) – entendida como algo que não é da ordem do conceitual no sentido que recordei na última vez a partir de Kant – de que o real escapa à ordem simbólica, o que aproximaria essa posição à do analista.” (p.2)

“Ao afirmar A mulher não existe, Lacan não pretendeu ser original, mas oferecer a fórmula mais econômica, mais lógica, que organiza as maluquices do amor e as bobagens que se tem dito das mulheres, entre as quais que é possível dizer tudo delas.” (p. 23-24)

Um objeto que não fala e um Outro que fala

“Sobre qual relação binária repousa a elaboração do gozo feminino para fornecê-la rapidamente? Inicialmente, sobre a diferença entre o gozo fálico e o gozo suplementar. E depois, quando Lacan diz: – “Mas esse gozo suplementar é este que é o próprio da mulher, é este do qual ela não diz nada…”. (p.37)


OUTROS AUTORES DO CAMPO FREUDIANO

  • BASSOL, M. O feminino, entre centro e ausência OPÇÃO LACANIANA ONLINE  8 • Número 23 • julho 2017. Disponível em:

http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_23/O_feminino_entre_centro_e_ausencia.pdf

“Oxalá houvera um “entre” entre o homem e a mulher! Ao menos isso nos daria a ilusão de que há relação sexual, de que esse “entre” existe. É exatamente isso que Lacan vai por em questão. Quando diz: “por interpor-se como Outro”, esse “entre” não funciona. “É curioso que, ao posicionar esse Outro, o que tive para enunciar hoje diz respeito apenas à mulher.” (p.1)

Borda, limite e fronteira

“Para o feminino se há bordas estas são, de qualquer forma, bordas sem um limite, sem uma fronteira definida. Para levar em conta a noção de limite que Lacan retoma da matemática, não se trata aqui do limite como um ponto de chegada.” (p.2,3)

“De fato, o que chamamos de corpo falante e seus orifícios se apresentam muitas vezes na experiência subjetiva, seja no sonho ou na experiência de um gozo estranho, com esta dimensão de borda sem limites. Esta dificuldade de localização do feminino que necessita recorrer a uma lógica e a uma topologia distintas da lógica binária do significante e do espaço métrico do contável, tem muito em comum com o espaço e a posição do analista tal como Lacan a situou na experiência analítico.” (p.3)

O feminino é neutro e singular

“O feminino, como distinto da feminilidade representável em diversas figuras fálicas, não é o gênero feminino, mas que tem a virtude do neutro, mais além do gênero, da significação, dos sexos como representáveis.” (p.4)

“Neutro quer dizer que escapam a essa lógica do significante que diferencia masculino e feminino. O neutro tem a terminação no masculino singular, porém é só um semblante. Decididamente o feminino escapa à linguagem. Outro detalhe gramatical importante do feminino é que não admite plural.” (p.5)

“A verdadeira diferença sexual não é a diferença significante, é – como destaca Lacan – a diferença do sexo e do gozo como Outro, como alteridade radical para cada sujeito.” (p.5)

A bússola do objeto a

“O primeiro ensino de Lacan levará ao limite os paradoxos da lógica freudiana e explorará esta “terra incógnita” do feminino com a bússola do objeto a. Com esse objeto a vai situar os sexos não só em uma assimetria radical, mas também – o que é mais importante – em uma não reciprocidade.” (p.5)

“A mulher, através do homem e sem que haja uma relação recíproca, é Outra para si mesma como o é para ele. Nesta alteridade, sem simetria nem reciprocidade, a feminilidade está confrontada ao feminino, ao a-sexuado do ser, sem representação possível.” (p.6)

“Devemos passar da lógica da borda como fronteira à lógica da borda como litoral, operação que Lacan indicará sobretudo, em seu texto “Lituraterra”, mas também no Seminário 19. Quando há uma fronteira entre dois países, isso supõe uma reciprocidade, se podem estabelecer vínculos, representações recíprocas, como por exemplo, consulados. Há um “entre” os dois campos. Aqui a borda funciona como uma fronteira, porém, permite também uma reciprocidade. A ideia que Lacan introduz com o litoral muda totalmente esta concepção espacial, porque o litoral supõe que não há um espaço “entre” possível.” (p.6)

A esfera e a elipse

“Entre centro e ausência se abre assim um espaço que já não pode funcionar segundo a lógica da presença e da ausência, do um e do zero. É o problema do número real que Lacan evoca em muitas ocasiões e também a propósito do paradoxo de “Aquiles e a tartaruga” que se movem em espaços de gozo distintos.” (p.7)

Solidão à segunda potência

“O espaço do feminino se produz, existe, entre centro e ausência, entre o centro simbolizado pelo falo e a ausência mais radical, a que se produz na solidão do gozo feminino quando o sujeito se confronta com sua própria ausência. É a solidão, se me permitem dizer assim, elevada à segunda potência, difícil de alcançar.” (p.8)

Ecolalias

“ Há em lalíngua uma continuidade de um gozo que estará vinculado à letra, até que a mãe, o Outro, fonetiza – disse Jakobson – o corpo da criança introduzindo essas diferenças significantes. Algo do materno recorta, significa, introduz diferenças significantes em uma materialidade do gozo que, em si mesma, não inclui estas diferenças. É a mesma lógica com a qual Lacan distingue lalíngua e a linguagem como elucubração sobre lalíngua. Não devemos esquecer que nós analistas trabalhamos diariamente com esta materialidade de lalíngua em cada sujeito. A mãe fonetiza o corpo da criança, quer dizer, recorta no corpo da criança uma série de ressonâncias ao introduzir diferenças de sons.” (p. 10)

“Em uma análise podemos vislumbrar como ressoa lalíngua no corpo do sujeito mais além da fonetização a que foi submetido ao longo de sua vida.” (p.11)

Alteridade radical do Um só

“O feminino é mais da ordem do contingente, não é nada necessário, é da ordem do encontro fortuito, do acaso sem relação necessária de causa e efeito como pretende a ciência. O feminino, como posição mesma do analista, no que chamamos sua atenção flutuante – que é uma maneira freudiana de dizer “aguardo, mas não espero nada” – em sua própria autorização no desejo que o sustenta, é desta ordem. Não esperem nada, só aguardem-no. Saibam só que tem que chegar … entre centro e ausência.” (p.12)

Respostas às perguntas e intervenções Fronteira no corpo

“As paralisias histéricas são um primeiro mapa com fronteiras que o sujeito tenta fazer sobre o feminino do gozo. O que chamamos somatizações na histeria seguem com frequência os modismos, as fronteiras que a moda vai estabelecendo no corpo feminino. (p.12)

“…também a história do sintoma histérico em geral como somatização – é uma tentativa de desenhar fronteiras no corpo do feminino. Como temos dito, o problema é que o feminino não tem fronteiras, porém o sintoma é justamente uma forma de escrever fronteiras no corpo sobre o gozo do feminino. (p.12,13)

  • Laurent, É. A psicanálise e a escolha das mulheres, Belo Horizonte: Scriptum Livros,2012.

Posição feminina: uma solução pela via do suplemento.

“[…] foi necessário tempo para que se pudesse compreender que o suplemento que definia toda posição feminina do ser era necessariamente correlato a: ter falta de alguma coisa.” (p. 98)

O Supereu femenino

“A voz do supereu feminino, os ditos que a representam se originam do gozo dela, de seu Outro gozo que lhe é proprio. A “super-meutade[surmoitié] que não se supereu-iza[surmoite] tão fácilmente quanto a consciência universal” quer dizer o seguinte: todo homem tem que enfrentar a voz desse tipo de sereia. A voz das sereias, das quais tão justamente Ulisses desconfiava era: “Torne-se amigo das mulheres, faça como Tiresias. Para comprende-las banque você mesmo a mulher, tente se aproximar do Outro gozo.” (p.121)

“O que se deve restaurar é a relação com S(A/), com a inconsistência, com o indesmostrável, com o indecidível, a relação com a incompletude do Outro. É aí que o homem pode realmente se fazer de ‘conector para  que a mulher se torne Outro para si mesma como ela o é para ele’.”  (p.123)

“Gostaria de enfatizar que não se deve dizer de forma alguma que Lacan tenha convocado o analista para o lugar da mulher, não se trata da feminização dos psicanalistas. Não se trata do encorajamento a “tornarem-se todos Tirésias”, não se trata do lugar feminino do psicanalista, mas, sim, do psicanalista como aquele que sabe responder ao supereu feminino, como aquele que pode reenviar o supereu femenino à verdadeira lógica da posição feminina a saber: denunciar os semblantes que visam a toda consistencia do Outro.”  (p. 124,125)

A resposta do analista ao chamado do gozo

[…]“A posição psicanalítica é dizer que a voz da super-meutade [surmoitié], o imperativo mortífero, só o é para aquele que se recusa a afrontar a originalidade da posição feminina., para aquele que negue a origem de um dizer feminino específico, em que há a incidência direta do Outro. A Santa Teresa de Bernini, em um sentido, testemunha sua proximidade com o pai morto, mas, em outro sentido, testemunha a alegria do Outro que não tem nome, mas, é presença certa.”  (pg.131)

  • VELÁSQUEZ, J.F. À borda do dizível.  Revista Arteira, online, n. 12, 2020. http://www.revista arteira.com.br/index.php/arteira-12

“O que caracteriza este Outro Gozo é um “sem limite”, “sem sentido”, “sem medida”, “sem produto sexual verificável”; é um “sem” que remete a uma ordem diferente da satisfação fálica; é um gozo que, quando se desata, não há para ele condições de verdade, não se cifra em formas lógicas de pensamento, nem se concretiza em uma figura.  É aquele outro espaço de gozo que se abre para a Alice do conto, quando atravessa o espelho, sem lógica, sem temporalidade, sem controle, sem normativa.”

  • BROUSSE, M.-H.  O que é uma mulher. Latusa Digital, Rio de Janeiro, ano 9, n. 49, jun. 2012. Publicação da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Rio de Janeiro. Disponível em:

http://www.latusa.com.br/pdf_latusa_digital_49_a1.pdf

Para resumir, diria, então, que esse gozo feminino no qual o ensino de Lacan desemboca, perto de seu final, é um gozo outro, é um gozo, portanto, que não é ligado a um órgão, que não está ligado às representações e à ordem significante, que está, portanto, para além do sentido sexual ou do sexo como sentido. É, por conseguinte, a problematização de uma posição feminina para além da função paterna. Ou seja, o feminino enquanto não inteiramente contido na função do Nome-do-Pai, função esta que Lacan considera, com Freud, que enuncia em termos edípico, como o centro e o pivô do funcionamento simbólico. Portanto, um gozo não totalmente simbolizável que escapa ao processo de simbolização.

  • BROUSSE, M.-H. Mulheres e discursos. Trad. de Ana Paula Sartori Lorenzi [et al]. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2019.

“Não é fácil para os seres falantes em geral, portanto, lidar com o corpo feminino. Escondê-lo é uma solução, porém ainda mais incontornável, pois esconder um objeto lhe dá a consistência simbólica que nenhuma evidência material pode conferir: a consistência do enigma, do lado do sentido, e a da proibição, do lado da lei, de tal sorte que, nos dois casos, o sujeito falante, até mesmo gritante, é transformado em objeto causa do desejo: desejo de saber ou desejo de possuir. A mulher existe, então, à condição de ser escondida.” (p. 37)

  • FUENTES, M.J.S As mulheres e seus nomes: Lacan e o feminino. Belo Horizonte: Scriptum Livros, 2009.

“A psicanálise como clínica do singular pode ser a via fecunda de demonstração de que desejo e gozo não se reduzem a uma questão política de direitos, e que o sexo não é um livre arbítrio, mas o nome de uma divisão subjetiva que designa um impossível. O feminismo reduz o feminino a uma construção discursiva histórica e refuta a diferença sexual. Se o feminino é como tal inominável, resta como tarefa para cada mulher que se inscreva do lado feminino das fórmulas da sexuação encontrar um meio de tratar esse gozo real quando a referência ao falo não satura o gozo nas mulheres.” (p. 104).

  • CALDAS, H. A fala e a escrita da mulher que não existe. Opção Lacaniana Online, n.10, mar. 2013. Disponível em:

http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_10/A_fala_escrita_mulher_que_nao_existe.pdf

[…] a letra é situada no ponto limite do trabalho significante quando a produção do sentido se esgota e resta como pura marca material articulada ao gozo. Lacan a chama de letra litoral para situá-la como o que traça a separação entre sentido e o gozo- duas coisas tão diferentes como o mar e a terra. (p.8)

“A devastação […]revelou-se no final de seu percurso analítico, como um dos nomes do gozo feminino impossível de ser dito.” (p.14)

“Parto de uma pergunta sobre o que torna indizível o gozo feminino para indagar se o dizer literário pode nos ensinar algo a esse respeito. O feminino macondiano busca situar em alguns homens e mulheres de Macondo, personagens de Cem anos de solidão, algo do dizer literário sobre esse gozo.”  (p.1)

“O extravio bizarro de Remedios, a bela arrastava-a ao sem limite, ao infinito do universo macondiano. Já a guerra, o Outro absoluto do Coronel Aureliano Buendia, é um gozo fálico, finito que busca dar consistência e completude a esse universo.” (p.5)

  • RÊGO BARROS, R. A diferença sexual e a diferença feminina. Opção Lacaniana Online, n.9, nov. 2012. Disponível em:

http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_9/Da_diferenca_sexual_a_diferenca_feminina.pdf

“Lembrei de uma distinção feita por Hegel entre fronteira e limite. A fronteira é a linha que divide o Brasil da Argentina; só existe fronteira quando você pode nomear o outro lado. O limite é a orla, aquilo além do qual não se precisa dizer o que há. Por exemplo: este é o limite das minhas terras; daqui para frente não preciso definir, talvez eu nem saiba. Existe alguma coisa nessa noção de limite que não é muito distante desta que estou tentando mostrar como alteridade.” (p.4)

  • KRUGER, F.  Mulher (A). Silicet:  Um real  para o século XXI, Belo Horizonte, Scriptum, 2014.

“Se Lacan, em seu último ensino, generalizou o gozo feminino, até transformá-lo  no ‘gozo como tal’, podemos concluir que o percuso do conceito, ao longo de seu ensino, vai até a feminização do gozo.” (p.249)


Comissão de referências Bibliográficas:
Gustavo Ramos, Louise Lhullier, Juan C. Galigniana e Teresa Pavone (coordenadora).
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