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Ser louco é não ser louco da loucura de todo mundo
Comentário sobre a conferência de Antonio Teixeira em Noite de Biblioteca
Valéria Beatriz Araujo
Antonio Teixeira nos leva em sua conferência ao aforismo de Blaise Pascal, para quem “ser louco é não ser louco da loucura de todo mundo”. E depreende, a partir daí, uma questão clínica fundamental: como se delira em cada estrutura? Questão se articula, a meu ver, com o que Miller coloca no primeiro capítulo de Matemas I, apontando o conceito de estrutura como o que localiza uma experiência para o sujeito que ela inclui. A ação da estrutura acaba por ser suportada por uma falta.
Assim, Antonio convida a interrogar “se o enigma ao qual o neurótico responde com a tela fantasmática que lhe permite enquadrar a realidade não seria, justamente, o ponto em que a psicose perfura a tela e a faz vazar na loucura singular que seu rigor implica”. O discurso do analista, podemos acrescentar neste ponto, se propõe como uma prática que “não apaga as estruturas clínicas e que ressalta os modos de gozo”, como indica Christiane Alberti.
Neste sentido, a conferência também aponta para a importância de se estabelecer as diferenças nos usos da língua, uma vez que, seguindo Lacan, a língua não se encontra naturalmente vinculada a nenhum referente externo a ela. Neste ponto podemos localizar que o inconsciente é a política, pensando com Marie-Helène Brousse, no que Lacan afirma sobre a interpretação do político não a partir do sentido, mas dos significantes em jogo em cada contexto.
Por último, mas não menos importante, vale ressaltar a escolha feita por Antonio Teixeira em relação à imagem do cartaz da atividade, a saber, o quadro de Hieronymus Bosch, “A extração da pedra da loucura”. A obra revela de forma ímpar o significante mestre em jogo levando a crer que os loucos eram aqueles que tinham uma pedra na cabeça, além de mostrar os discursos de dominação que corroboram com essa referência do louco (a religião, a medicina, a ignorância).