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Na quadratura do círculo, às vezes, o círculo é uma elipse

A arte não reproduz o visível, mas torna visível.

Paul Klee, “Credo criativo”

Como discursos, corpos e a causa do dizer poderiam se transformar em imagens-convites ao trabalho? Após mais de um século de intensos debates na arte, política e psicanálise, poderíamos falar em “representação” ou “figuração”? Não haveria aí o perigo de abrir mão da potência subversiva da psicanálise? Como sustentar a importância do dizer como suporte de implicação subjetiva se engrossássemos o coro de que “uma imagem vale mais do que mil palavras”? E os restos que adquirem uma contextura tão palpável em nossos divãs?

Na Comissão de Divulgação, decidimos apostar em propostas que comportassem algum abalo nos sentidos: imagens equívocas, corporeidades em movimento, inquietudes, mas também “polifonia”, significante que surgiu em um encontro com as demais comissões da 5ª Jornada. Propostas que dessem margem para cada um se sentir convidado a colocar algo de seu… uma surpresa, um estranhamento, alguma pergunta – as ressonâncias e os ruídos.

Nossa escolha pela pintura de Paul Klee se deu mais pela apresentação e tradução que pela representação e figuração. “Apresentação” para tornar visível o começo de uma caminhada orientada por significantes complexos, que instiguem o trabalho de membros e participantes através de um vazio pulsante. “Tradução” porque, na contramão da fixidez, trata-se de abrir brechas no saber e possibilitar leituras outras em torno do que escapa.

Antes de formas definidas,  Klee nos coloca diante de geometrias inexatas feitas com pinceladas tão grossas e rápidas que quase parecem uma pichação ou um baixo relevo. Traços e superfícies desenham um corpo a corpo no qual as tintas nem sempre se depositam de forma pacífica sobre a tela, já que os veios da trama se impõem, desvelando o inacabamento próprio do vivo. O nome, “Alea jacta”, ecoa parte da frase dita por Júlio César ao atravessar o Rubicão, mas falta um verbo: est. Por que não fazer dessa suspensão equívoca a intrusão topológica de um instante mais plástico que estático? Desse modo, o quadro parece pedir um pouco mais de inquietude e um pouco menos de certezas, como uma circularidade que se desprende do centro e se faz elipse, incluindo mais de um foco.

Nas propostas de trabalho desta comissão, ainda apostaremos em peças soltas para destacar pontos de interesse da Seção e também aquilo que, vindo de outros campos, possa descortinar novas nuances no arranjo até então vigente. Lançaremos recortes de filmes, leituras e comentários, incluindo referências, anúncios e ressonâncias do que for produzido desde as preparatórias até a 5ª Jornada.

Comissão de Divulgação:

  • Diego Cervelin (coord.)
  • Licene Garcia
  • Luciana Romagnolli
  • Priscila de Sá Santos
  • Valéria Beatriz Araujo
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