Esta terceira edição do boletim P U L S a R contempla, logo nas Ancoragens, dois…
Uma análise que dura
Gresiela Nunes da Rosa (EBP/AMP)
Quanto tempo precisa se passar para que possamos dizer que uma análise dura? Seria esse um tempo cronológico? Com Lacan aprendemos a “calcular” o tempo em outra dimensão que não a cronológica. Falamos de um tempo lógico. O tempo seria então marcado por um tipo de sucessão de acontecimentos que implicam uma consequência. Mas como pensar essa “sucessão”?
Assim como não falamos de um desenvolvimento infantil que pressupõe um tempo cronológico e nem uma consecução estática de acontecimentos, também podemos pensar o percurso de uma análise na mesma condição. É certo que podemos pensar aí em alguns elementos comuns às análises que duram, mas podemos pensar que estes elementos se dispõem numa espécie de topologia em que qualquer disposição organizada seria apenas uma tentativa didática de demonstração da experiência.
Nesta tentativa didática podemos conceber alguns elementos temporais em uma análise que dura. O primeiro deles seria então o próprio momento que compreendemos como entrada em análise, onde o analisante pergunta-se por sua parte na desordem de que se queixa. O momento de implicação subjetiva com aquilo que lhe aparecia como alheio, o que lhe faz sofrer. Perguntar qual é a sua parte na tal desordem, significa pensar em que posição se encontra nisso, e porque não dizer, em que ponto se satisfaz com isso. Está aí uma pergunta que visa a localização do gozo.
Nos dispositivos analíticos clássicos, esta pergunta inicial leva a um querer saber o que o sintoma significa, coloca-se então à trabalho a cadeia significante. O que isso quer dizer? é o trabalho consequente de uma análise que começa. Sabemos que começar uma análise implica consequências analíticas e terapêuticas. A vivificação que é o encontro com a possibilidade de dizer, com a possibilidade de endereçamento da própria fala à Outro que escuta, carrega em si efeitos terapêuticos muito importantes, inclusive, às vezes, um verdadeiro maravilhamento com a experiência.
No entanto, se análise pode não se satisfazer aí com essa possibilidade de dizer, ela leva ao encontro com aquilo que se repete, e que não se deixa apreender na cadeia significante. Talvez possamos dizer que aí está a possibilidade de pensarmos uma análise que dura. Aquela que diante da impossibilidade da solução pela via da significação, diante do que se apresenta como opaco à cadeia significante, pode não recuar.
A repetição pode ser pensada então como uma maneira de dizer “isso não para de gozar”. E o próprio dizer na análise pode ser convocado então para outra posição ante o dito. De “o que Isso quer dizer?” ao “O que, ao dizer, isso quer?”. A resposta que virá será então: “Isso quer gozar”.