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Um SOL para 2023:

Arte: Yayoi Kusama
Flávia Cêra
Presidente do Conselho da EBP-Sul

Um dos horizontes de trabalho de um seminário é poder semear ideias, hipóteses, proposições, leituras. Dos seus efeitos de ensino, espera-se que essas sementes germinem, dando frutos, flores, novas ideias, caminhos, outras sementes. É pensando nesta lógica que o conselho da EBP-Sul vem trabalhando o Seminário de Orientação Lacaniana. Tratamos nos dois últimos anos sobre a formação do analista e sobre o ensino da psicanálise. Neste ano trabalharemos “Os tempos que correm”. Mas antes, gostaria de construir aqui um percurso que nos trouxe até essa escolha. As ofertas de ensino, bem como suas modalidades (cursos, grupos, etc.) se expandiram muito nos últimos tempos, sobretudo, com as redes sociais e a pandemia. O ensino tem sido tema de trabalho em muitas áreas que vêm se questionando sobre sua forma. Na orientação lacaniana chegamos aí também (ou desta discussão nunca saímos), como podemos ler no texto de Miller para o próximo congresso: estamos entre o impossível de ensinar e o necessário do ensino. Como fazê-lo? Ou ainda, como preservar esta tensão tão importante para o discurso analítico que, segundo Lacan, é o único que não pretende dominar? Foi neste sentido que trabalhamos o ensino e o impossível que tocam também a formação do analista quando temos aí um real em jogo.

Por outro lado, quando se supõe que tudo pode ser matéria de ensino tem-se aí uma virada importante em relação ao conhecimento e ao saber. Um acesso ilimitado, uma vertigem de opções e novas propostas que empurram a um “consumo de conteúdo”. Essa seria uma das formas do delírio generalizado da nossa época? acreditar que tudo pode ser ensinado, demonstrado, mensurado, consumido? Tomemos estas como pistas dos tempos que correm e que desdobram nosso trabalho.

Como dissemos, o Seminário da Orientação Lacaniana da EBP-Sul neste ano de 2023 trabalhará sobre “Os tempos que correm”. Este é o título da primeira aula do curso Todo el mundo es loco, de Jacques-Alain Miller, que será nosso ponto de partida e motor de reflexão. A aceleração do tempo na civilização, seus impactos no gozo, a quantificação e avaliação como modos de inscrição do sujeito mostram como a tendência a certa transparência e homogeinização tentam dar conta da opacidade do gozo que insiste. Os tempos que correm será tomado tanto na especificidade temporal da psicanálise – o tempo lógico, o tempo do inconsciente, as urgências, o corte – quanto na dimensão do tempo presente, do que se passa na cidade, no laço, nas questões políticas que nos tocam. Esses dois vieses se relacionam com as implicações que traz o aforismo lacaniano, tema do próximo Congresso da AMP, todo mundo é louco. De que maneira a loucura generalizada incide nos tempos que correm? Como o nosso manejo do tempo se articula a este universal pensado por Lacan e nos ajuda a ler os impasses clínicos da nossa época? Miller lembra nesta aula que o discurso analítico é nossa máquina. Então, como nos servimos dele nos tempos que correm?

Cada um dos responsáveis pela apresentação do seminário elegerá um recorte para trabalhar os tempos que correm. Teremos dois encontros: um em agosto e outro em novembro. Fica aqui o convite para conversarmos!

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