Licene Garcia A Comissão da Diretoria de Biblioteca da EBP-Seção Sul, nesta 7ª edição extraordinária…
SEMINÁRIO POR CONTA E RISCO OS AFETOS NEGATIVOS NA CULTURA: ÓDIO, VIOLÊNCIA, RACISMO E SEGREGAÇÃO.
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Zelma Galesi, A.P., membro da EBP/AMP, formação em Psicanálise na ECF-Paris.
O Seminário circunscreve o ponto crucial das contingências de nossa cultura, com a qual se confronta a subjetividade do corpo falante. Freud e Lacan sempre se interessaram pelo mal-estar na cultura e pelos sintomas atuais, sob os quais os sujeitos estão submetidos. Queremos dimensionar os afetos negativos que na atualidade atingem não apenas os homens e as mulheres, mas principalmente, as crianças.
A decadência do pai foi elaborada de diferentes maneiras por Lacan durante seu ensino, inicialmente era o garante da ordem simbólica, depois assumiu o estatuto de ficção, de parecer tapar o buraco do simbólico, para finalmente se pluralizar tornando-se uma função lógica pura, a da exceção.
Dessa maneira, a ordem simbólica mudou e houve uma fragilização no ordenamento do simbólico, as forças do ideal do eu, do Grande Outro, se apagaram progressivamente em favor do supereu.
Lacan predizia que os sombrios poderes do supereu agiriam sobre o psiquismo, de tal forma que o mestre moderno proclama o imperativo superegoico: Goza!!! O líder das massas contemporâneas é muito mais a encarnação de uma modalidade de gozo do que o representante de um ideal ao qual podemos nos identificar, trazendo em seu bojo a sequência dos afetos negativos que verificamos espalhados pelo mundo, tais como o ódio, a violência, o medo, o racismo e a segregação.
Anaëlle Lebovits- Quenehen1, em seu livro, situa o cenário dos afetos negativos: o ódio e o seu correlato, a violência, apontando que eles fazem retorno perceptível na atualidade como mal-estar generalizado na cultura, sendo que os racistas e antissemitas hoje se escondem menos que antes.2 O ódio se mostra, se revela nas vítimas das ruas, das casas, no seio das famílias, das Escolas, se evidencia através das mídias e principalmente das redes sociais. Que o ódio ganhe terreno não é sem consequências desagradáveis e terríveis.
“O ódio não é uma paixão nova, ele é tão velho como o mundo, mas, segundo os tempos e os lugares, essa paixão é mais ou menos revestida ou então mais ou menos palpável”.3 Essas consequências podem mesmo se tornar desastrosas se por exemplo o ódio se elevar às mais altas Funções do Estado, como a guerra entre a Rússia e Ucrânia.
Estamos vivendo uma era do “retorno da besta imunda, que assusta e assombra o mundo com força. Porque por ser imunda, esse afeto não deve ser pensado pelos homens, ou até mesmo tratado”.
Estamos na era de uma “Inquietante familiaridade” marcada mesmo por uma sorte de gozo maligno como ascensão dos afetos negativos. A partir do texto de Freud O Estranho (1901), apresentado e discutido, vamos localizar essa “inquietante familiaridade” na atualidade. Em seu texto, Freud deixa bem claro que o familiar se transforma em estranho a partir do recalque. Mas para Lacan o que seria este Estranho? Seria o real inassimilável e, portanto, impossível de suportar pelo sujeito falante, ou o Parlêtre, como situou Lacan em seu último ensino (período entre 1970-1981). Temos como referência a revue La cause du désir, Inquiétantes étrangetés, Navarin Editeur, n.109, 2009.
Convidamos aos que se interessam por essa temática.