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Seminário por conta e risco

Reviramentos topológicos e política do sintoma na clínica lacaniana. Leituras dos Seminário 24 e 25 de Lacan

Eneida Medeiros (EBP/AMP), Gustavo Ramos (EBP/AMP) e Liège Goulart (EBP/AMP)

O primeiro encontro do seminário foi todo dedicado a trabalhar o título do Seminário XXIV e sua quase impossibilidade de tradução, em função da variedade de homofonias e equívocos inventados por Lacan. Uma proeza poética. O título aloja em si mesmo uma outra forma de pensar a questão do sentido no campo da psicanálise, colocando em primeiro plano grandes temas, tais como o saber, o inconsciente e o amor; o insucesso, o fracasso, e tudo o que surge do inconsciente, mas apenas como efeitos de linguagem. Então ele conclui que o equívoco, que procede de lalíngua, é o tecido mesmo do inconsciente. Há inconsciente quando a consciência se equivoca. É também esse próprio equívoco que faz alçar o amor, “L’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre”

Abordamos também, por meio da manipulação do objeto Toro, uma nova concepção de Lacan sobre a estrutura do sujeito, quando diz que ela é tórica. O homem gira o tempo todo em círculos, gira em torno de um furo. A topologia do Toro e seu furo permitem abordar o desejo, a demanda, a repetição e a identificação, como recursos pelos quais o sujeito se faz um ser.

Fizemos um desvio ao início do ensino de Lacan, quando ele constrói o Modelo ótico, um aparato profícuo para pensar o Ideal do Eu como a resposta do Outro que fixa o sujeito em uma dada posição. A partir da captura imaginária no espelho, o sujeito, ao se deslocar ao campo do simbólico, depois de um giro do espelho plano, vislumbra a ficção que criou de si e a possibilidade de constatar isso constitui um evento decisivo no percurso de uma análise. Lacan diz: “Assim, a função do modelo [ótico] é dar uma imagem de como a relação com o espelho, isto é, de como a relação imaginária com o outro e a captura do Eu ideal serve para arrastar o sujeito para o campo em que ele se hipostasia no Ideal do Eu” (p. 686 dos Escritos)

Nas últimas reuniões, voltamos ao chamado momento do estádio do espelho, escrito em 1936, para fazer um apanhado de algumas referências etológicas de Lacan, seu contato com Alexandre Kojève, Henri Wallon e os surrealistas da revista Minotaure. Em seguida, questionamos o que seria uma imagem a partir da instauração do Eu para o sujeito como o lugar psíquico onde se forma a imagem para Freud. Há uma postulação de Lacan no Seminário 23 sobre a homogeneidade do real e do imaginário que ficou como uma questão a ser discutida e trabalhada nos próximos encontros.

Interpretamos o título do nosso seminário a partir de uma frase de Eric Laurent e assim postulamos um manejo possível da política do sintoma a partir do modo como cada um lida com sua própria imagem.

Essa questão nos levou a outra muito importante: o objeto a não tem imagem, portanto não é especular, assim como a topologia. Quando algo aparece ali onde não haveria uma imagem, uma angústia se apresenta.

Nas próximas reuniões falaremos sobre as mutações contemporâneas do espelho e as ressonâncias na clínica.

Fica aqui o convite para quem desejar participar dos encontros.

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