skip to Main Content

SEGUNDA NOITE DE BIBLIOTECA

Resenha da Segunda Noite de Biblioteca com Sérgio Laia “O analista, sua análise e o fator feminino”[1]

Por Licene Garcia
Arte: Robert Irwin
Arte: Robert Irwin

No texto “O analista, sua análise e o fator feminino”[2], Sérgio Laia propõe uma leitura do texto freudiano “A análise finita e a infinita” de 1937.

Laia com sua refinada e rigorosa leitura, percorre o texto freudiano onde um dos primeiros pontos a ser trabalhado é a “observação valiosa” de a análise pessoal é parte fundamental da formação do analista, visto que as dificuldades em um tratamento analítico não deixam de ter alguma relação com o próprio analista. “o analista, devido às condições especiais do trabalho analítico, realmente poderá ser prejudicado por seus próprios defeitos” porque estes últimos poderão implicar-lhe “dificuldades em aprender as condições do paciente de forma correta e reagir a elas de modo adequado”[3]

Dito isso, Laia propõe que a normalidade apresentada por Freud em “A análise finita e a infinita” é um ideal, que falseia a dimensão pulsional humana, mas que por outro lado, não deixa de fora, o impossível ao qual a prática de análise convoca a cada analista. Assim, aponta o que Lacan sustenta como orientação de que a formação analítica é uma formação infinita. Cito Laia: “a análise é infinita não porque ela não tenha um fim, mas porque, orientado pelo impossível do ato de analisar, um analista responde a essa impossibilidade tomando como infinita sua própria formação como analista.”[4]

Dito isso, o que Laia sustenta é que a reformulação do Eu proposta por Freud, não se trata de um fortalecimento do eu, mas que uma análise termina quando não se pode mais negar a existência do inconsciente, ou seja, que o fim de análise para um homem e uma mulher é quando a diferença sexual se torna elemento irrefutável. Em outras palavras, significa dizer que a “recusa da feminilidade” é um fator irredutível para todo ser falante e que o “desejo de masculinidade”[5] será sempre aquilo ao qual o inconsciente não para de resistir.

Assim, para além de todo e qualquer binarismo, o feminino aparecerá sempre como alteridade radical para o falasser, seja ele homem ou mulher.

O que Sérgio Laia propõe então, é “crer no inconsciente”[6] na medida em que possa ser sensível às peças que o inconsciente nos prega. Cito: “Passar por uma análise até chegar a seu fim e, mais ainda, perfazendo todo esse percurso, tornar-se analista, é fazer-se sempre disponível para o enfrentamento do grande enigma da sexualidade e, aqui, sublinho que todo ‘sempre’ – para ser mesmo sempre – convoca-nos ao infinito”[7]

O que Laia aponta como fator feminino, seria assim, uma mudança de postura, que se mostra quando “um fim de análise nos permite nos deixarmos afetar – até o infinito – pelo enigma que o fator feminino demarca nos corpos sexuados.”[8]


[1] Resenha da 2ª Noite de Biblioteca da EBP-Sul, realizada em 02/06/2021.
[2] LAIA, Sérgio. O analista, sua análise e o fator feminino. Correio, n. 84, 2021.
[3] FREUD, Sigmund. A análise finita e a infinita. (1937), p. 355, In: LAIA, Sérgio. O analista, sua análise e o fator feminino. Correio, n. 84, 2021, p.112.
[4] LAIA, Sérgio. O analista, sua análise e o fator feminino. Correio, n. 84, 2021, p.113.
[5] Ibidem. p.118.
[6] Ibidem. p.119.
[7] Ibidem. p.119.
[8] Ibidem. p.120.
Back To Top