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REBOTALHOS NOVE

Célia Ferreira Carta Winter (EBP/AMP)

O título e sua provocação significante: Mistério do corpo falante…… por que mistério? Esse mistério estaria correlacionado ao Real? Esse realque Lacan descreve como impossível? Real a ser definido em relação ao Simbólico e, ao Imaginário, mas que não pode ser simbolizado totalmente na palavra e na escrita e, por consequência, não cessa de não se escrever? Corpo? Questão caraàpsicanálise desde Freud e as histéricas, é abordado por Lacan em toda sua obra. No Seminário 20Encore,joga com o equívoco da língua, um corps, ao falar do corpo. Apoiadono ensino de Freud, que introduzo corpo na psicanálise pelo sintoma, Lacan, em 1975,atualiza a questão do sintoma quando o definecomo acontecimento de corpo (unévenement de corps).Nisto temos o contingente e o mistério?

Em relação ao falante Lacan é incisivo, o fato de ser falante não deixa o animal humanoileso.O um da marca não vem do corpo, vem do significante, da linguagem.Dizer “Há Um”, “Il y a de l’Un”, é uma maneira simples de evocá-lo, de colocar que há um dizer. Imerso em lalíngua, em um banho de sons e palavras, e da musicalidade que lhe é própria, para além do sentido e da significação, em seu aspecto de gozo e materialidade sonora,um significante contingente, introduz o inconsciente no corpo do ser falante.Nesta mesma leitura, Laureci Nunes no seu trabalho “O falaser e o papagaiuo”, aponta que sem a frustração da demanda de amor não falaríamos, isto é, existiria a relação sexual.O Outro não se institui para o papagaio, ele fala mas não habita o simbólico. Na perspectiva biológica, poderíamos dizer que há um ser humano, mas não o falasser. Na medida em que há a fundação lógica do falasser, há uma perda real e o que há de ser, e só no campo do Outro que será buscado e ilusoriamente encontrado.

A partir disso, Elisa Alvarenga lança sua hipótese no seu trabalho “O mistério do corpo falante”: esse dizer do qual se trata no “Há Um”, circunscreve e convoca a existência, não do verdadeiro, mas do real, impossível de apreender, uma marca de gozo, distinto da fala, como gozo do sentido, ou gozo doblábláblá. O sujeito do inconsciente é aquele que a experiência da psicanálise engaja a dizer besteiras e, a partir daí, um certo real pode ser atingido, que tem a ver com o gozo, a substância gozante.

A psicanálise nos ensina que como sujeito do significante, se é disjunto do corpo, de tal maneira que dele se fala antes mesmo que se tenha um corpo ou que se o habite, antes do nascimento ou depois da morte. É por isso que a linguagem assegura esta margem no além da vida, que é a antecipação dosujeito ou a sua perenização namemória. Este é o mistério do corpo falante que nos permiteevocar o corpo como distinto, separado do ser do sujeito. “Se o sentido já não é puro significado, mas gozo-sentido, e sentido gozado – traduções do equívoco que Lacan promove com jouissens – é preciso transformar esse Outro em lugar de gozo do sujeito, pois ali onde isso fala, isso goza.”

Essa é resposta de Elisa Alvarenga, à questão que nos reúne nesta 2° jornada da EBPSUL: o estatuto do que faz falar é “não há relação sexual.” Há Um, gozo sinthomático e há a outra satisfação, da fala. O amor de transferência pode fazer suplência à relação sexual que não há, tornando-se o instrumento que faz falar para que o falasser encontre o Outro como alteridade do gozo Um, singular, que lhe é próprio, para além do ser propiciado por suas fantasias e identificações que recobrem a marca de gozo que lhe é peculiar.”

Isso que pude ouvir do trabalho maravilhoso de Elisa e Laureci…. que o mistério do corpo falante é o mistério do inconsciente!

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