#04 - SETEMBRO 2024
O corpo falante é político
Mariana Dias
Cartel Fulgurante – Eixo 2
Sim, podemos dizer que o psicanalista ocupa no social uma posição de extimidade. O que quer dizer um nem dentro e nem fora. Mas não se trataria de encontrar a função social do analista. Pois a política da psicanálise está para uma ética do caso a caso e não para A verdade. O psicanalista precisa estar à altura da subjetividade de sua época, mas sabendo que é impossível estar à altura do real. A psicanálise precisa saber bem-aí-fracassar; é uma condição para sua existência.
Como disse Bassols em Una política para erizos y otras herejías psicoanalíticas: “a política não é outra coisa que o próprio lugar da fratura da verdade”². Em psicanálise, conhecemos este lugar da fratura da verdade também por um outro nome: chama-se ato analítico. Miller dirá em Respuestas de lo real que a consistência do Outro está fundamentada numa estrutura que se recobre a si mesma. E que a condição para situar-se a nível de ato analítico é, precisamente, a inconsistência do Outro³. Ou seja, uma lógica na qual a fratura não se recobre, fica exposta. Logo, não seria o ato analítico um ato político?