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Notícias da Diretoria de Cartéis e Intercâmbio da EBP Seção Sul

 

Arte: Yayoi Kusama

Assim de supetão, qualquer recém-chegado pode fazer avançar a psicanálise? Sim, é essa a aposta inicial da Escola, quando não se define como uma “escola de psicanalistas e candidatos”, mas de trabalhadores; quando não deixa quem a ela se dirige em posição de pedinte à espera de iniciar-se num Suposto Saber, mas quando faz desse Suposto Saber o princípio de uma transferência de trabalho, quando faz de outros saberes, saberes que não os da psicanálise, uma razão para interrogar esta (BASSOLS, 2021, p. 49)

Partindo dessa perspectiva de não deixar na espera aqueles que dirigem sua transferência de trabalho à Escola, realizamos na noite do último dia 05 de julho a atividade “Procuram-se Cartéis”. Foi um momento importante, marcado principalmente pela aproximação de novos colegas.

Tínhamos uma lista com mais de noventa inscrições de interessados em trabalhar suas questões de pesquisa em cartel. Esse movimento afirma não apenas a função do dispositivo como “porta de entrada” na relação entre a psicanálise e a Escola, como também a força e a atualidade dessa invenção de Lacan, nascida no momento de fundação de sua escola. Assim, no “Plano Lacan”, assume-se que o lugar do cartel é de centralidade no trabalho e na formação contínua do analista.

O tom de “porta de entrada” que a atividade acabou assumindo está em consonância com a etimologia da palavra escolhida por Lacan para nomear essa forma de trabalho. Cartel tem origem no termo “cardo”, do latim, que significa dobradiça. O cartel condensa a proposta de um trabalho em que três, quatro ou cinco pessoas se reúnem para se colocar a trabalho a partir de um não saber, com a participação de um mais-um.

O mais-um é aquele que pode, como bem disse Fernanda Otoni (2021), fazer a função de um “um zelador que cuida para que nenhum Senhor tenha assento nesse grupo” (p. 157), e que precisa zelar também para que a dobradiça entre o que é o traço mais singular de cada participante e sua questão de pesquisa possa se manter pulsante e em articulação com o trabalho coletivo do cartel.

Importante ressaltar que a dobradiça aqui também toca no ponto de articular as alteridades, inclusive entre os que estão chegando e os que já têm um percurso em sua formação, sempre contínua, fazendo do cartel o dispositivo central para o trabalho realizado na Escola, tal como queria Lacan. Pois, como disse Bassols (2021), trata-se de uma “escola de trabalhadores” e assim tanto os recém-chegados, como os chegados há mais tempo, podem, a partir do trabalho em cartel, aportar suas contribuições para fazer avançar a psicanálise.

Nesse sentido, cada um dos membros desta Diretoria de Cartéis falou, a partir da sua própria experiência, sobre o que é um cartel, a diferença entre um cartel e um grupo de estudos, a função do mais-um, os tempos de um cartel em sua construção, crises, produto e dissolução. Na sequência, passamos ao trabalho com as inscrições na lista do “procura-se cartel” na página da Seção Sul. Estudamos a lista e sistematizamos os temas semelhantes com intuito de favorecer a visualização das possibilidades de trabalho. No momento mesmo da reunião quatro colegas se organizaram para trabalhar na formação de um cartel e, nos dias seguintes, outros nos procuraram dando notícias de mais três iniciativas de formação de cartel. Portas abertas para novos enlaces com a psicanálise e quiçá com a Escola.

 

Diretoria de Cartéis e Intercâmbio da EBP Seção Sul

  • Adriana Rodrigues (diretora)
  • Juliana Rego Silva
  • Maria Luiza Rovaris Cidade
  • Mauro Agosti
  • Verônica Montenegro

REFERÊNCIAS
BASSOLS, Miquel. A porta do cartel. In: BROWN, Nohemí (org). Cartel: novas leituras. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, 2021. p. 49-51.
OTONI, Fernanda. O Plano Lacan no século XXI. In: BROWN, Nohemí (org). Cartel: novas leituras. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, 2021. p. 155-161.
Zelma Galesi, A.P., membro da EBP/AMP, formação em Psicanálise na ECF-Paris.
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