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NOITE DE CARTÉIS

Uma Noite de Cartéis na EBP-Sul[1]

Por Eneida Medeiros Santos (AP, EBP/AMP)
Arte: Robert Irwin
Arte: Robert Irwin

Animada por Oscar Reymundo, seu novo diretor, e por sua equipe de trabalho, iniciou-se na EBP-Seção Sul um instigante debate em torno da função do Mais-um neste que é, por excelência, o dispositivo de produção de saber em uma Escola de psicanálise.

Muito bem destacada por Oscar foi a peculiaridade desse saber produzido no cartel ou, mais precisamente, do não saber norteador da leitura, da pesquisa e do intercâmbio entre seus integrantes. O Mais-um, ao mesmo tempo em que estimula a construção da pesquisa de cada um, velando pelo bom andamento dos trabalhos, descompleta o grupo, perfurando as certezas, inclusive as suas próprias, já que ele é também um integrante do cartel.

Zelma Galesi inicia a noite nos brindando com um trabalho sobre o estatuto da palavra do Mais-um no dispositivo do cartel. Assinala só ser possível haver verdadeiramente um cartel – diferenciando-se aí de um grupo de estudos -, quando o Mais-um está posicionado como um analisante, situado como um não incauto, um não tolo do real que há na formação psicanalítica. Isso, por si, já é suficiente para colocar no centro do debate sobre a função do Mais-um a questão de sua própria palavra. Assim, Zelma nos coloca duas perguntas instigantes, uma decorrente da outra: qual seria o estatuto desta palavra? Num cartel, seria possível ocorrer uma retificação subjetiva?

Cleyton Andrade no seu trabalho se propõe a circunscrever as dificuldades que podem advir em um cartel partindo de sua experiência como Mais-um. Para ele, o cartel busca fazer da escrita, da leitura e da experiência própria uma produção com valor científico. Ainda assim, não é raro que o cartel não funcione, ou seja dissolvido, devido aos efeitos de subjetivação que podem se produzir. O Mais-um pode recolher esses efeitos e fazer uma leitura inédita do que se passa no cartel, propiciando um importante trabalho em torno da enunciação de seus membros. O cartel tem um lugar fundamental na Escola de orientação lacaniana, constituindo, ele mesmo, um dos três pilares da Escola: o cartel, o passe e a própria Escola.

Um alegre encontro e excelente debate em torno do vivo do cartel produziram comentários entusiasmados de Márcia Stival Onyszkiewicz, Valéria Beatriz Araújo e dos demais participantes. Nessa Noite de Cartéis, o tema do Mais-um e do cartel me fez lembrar uma frase ouvida de um Mais-um em outra ocasião: “Um cartel não é uma experiência epistemológica, é uma experiência libidinal de construção de saber”.


[1] Realizada no dia 9 de maio de 2021, pela nova Diretoria de Cartéis e Intercâmbio da EBP-Seção Sul, animada por Oscar Reymundo, seu novo diretor, e por sua equipe de trabalho.
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