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Noite de Biblioteca: Conexão Psicanálise e Cinema

Mariana Zelis (EBP/AMP)

Wassily Kandinsky

No dia 20 de Novembro de 2024 aconteceu a última atividade da Diretoria de Biblioteca Conexão Cinema que propôs o debate do filme “A voz humana” de Pedro Almodóvar. A convidada Heloísa Caldas (AME,EBP/AMP) apresentou seus comentários do filme fazendo uma leitura precisa e preciosa que abriu um debate muito interessante tocando questões contemporâneas que atravessam a clínica atual.

Poderia  resumir numa pergunta o eixo do debate dessa noite: Haveria alguma saída para o amor devastação que não seja pela via mortífera?

Heloísa Caldas faz uma articulação entre o amor e os objetos a, voz e olhar, que são os objetos privilegiados que aparecem em cena encarnados na protagonista.

Perante a perda do amor da protagonista, anunciada no telefone, uma cena subjetiva se desmonta, Heloísa lança a pergunta: “a fantasia fracassa?” O filme transcorre numa dramaticidade desencadeada a partir desta perda. Assim a “vociferação” entra em cena.

Heloísa pontua o “objeto a arrebatado entre semblante e real”, num gozo não-todo na posição feminina que, através da voz da protagonista modulada pelas paixões do ser vai fazendo um tratamento, diria, dessa dor pela perda anunciada.

Importante salientar a precisão teórica transmitida pela convidada sobre o objeto olhar e o objeto voz como vazios logicamente anteriores ao advento do sujeito, na origem do sintoma sendo os primeiros encontros com o gozo.

No filme o amor vela o real via ilusão, o amor regulado pela fantasia, gozo fálico que sustenta o cenário da vida subjetiva. Vale destacar que o filme transcorre num cenário montado que se dá a ver, a ficção teatral mantém a tensão do filme. Heloísa enquadra a posição subjetiva da protagonista nesta cena amorosa de ditos e falas, significante e objeto de gozo articulados, mas, se o objeto cai, a cena desmonta e o gozo descarrilado, não-todo fálico, transborda a fantasia.

Voltando à pergunta inicial, qual saída para esta dor? O risco de uma passagem ao ato suicida se vislumbra, melancolia ou posição melancólica? A saída encontrada pela protagonista nos dá indícios que “se for fiel à perda seria uma melancolia…mas ela segue, supera … mulher contemporânea, enfrenta a inconsistência do Outro, enfrenta a possibilidade de um novo amor”….nas palavras de Heloísa.

A cena final na qual queima, toca fogo na casa, cena-cenário do amor, do romance, diz desta saída debatida nessa Noite de Biblioteca como ato, já que é a cena que queima e não ela-sujeito, cena que a protagonista dá a ver ao amante, apela a seu olhar para atingi-lo, feri-lo pelo abandono.  Depois disto, se vislumbra uma separação do objeto e possível luto a elaborar junto com o personagem –cão também abandonado, e pelo qual se responsabiliza. Aqui se debateu a saída pela vida, um ato que faz um corte delimitando um antes e um depois subjetivo.

Como bem foi colocado pela comissão de Biblioteca, “o que está em jogo não é o outro, é a opacidade desse gozo sem Outro”.

O debate entre os participantes também colocou o papel da voz como vociferação no filme, na dramaticidade da fala dela ao telefone, a voz imperativa do supereu, S1 sozinho, verbo encarnado, puro gozo até o final do filme em que aparece a possibilidade de separação, foi proposto como uma equivocação, já que cede gozo, algo equivoca, se descola.

Uma questão para pensar seria se este filme teatral, montando e desmontando uma cena, nos falaria de um acting out que, após atravessados os três tempos lógicos (de ver, compreender e concluir) também mencionados no debate, encontraria uma saída via ato.

Resta assistir ao filme para continuar o debate!

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