Gustavo Ramos (EBP/AMP) Teresa Pavone (EBP/AMP) O VI Boletim da Seção Sul, assim como…
Inauguração da Biblioteca do Paraná da EBP- Seção Sul -14/04/2023
Teresa Pavone (EBP/AMP)
Boa Noite a todos! É com grande alegria que abro esse evento como um marco primeiro de um encontro mais pulsativo, mais vivo pela presença de corpo de todos nós, depois das angústias, das perdas, do isolamento das devastações vividas pela pandemia por mais de dois anos. A motivação deste encontro promete ser maior, momento no qual a Biblioteca do Paraná da EBP-Seção Sul abre suas portas para que a letra de Lacan alce voo na cidade. Foram muitos empenhos e um trabalho decidido de cada um de nós da diretoria da Seção Sul. Foi valioso, também, o apoio de todos os membros da Seção para a construção desse lugar que agora inauguramos. Agradeço a presença especial de Graciela Bessa, membro da EBP Minas e da AMP, que, em breve, se despede da função de diretora de Biblioteca da EBP no Congresso de membros da nossa Escola. Agradeço também a presença de Marcia Stival, nesta mesa, para nos agraciar com a sua fala, ela é a pessoa que assumirá a função de Diretora de Biblioteca da EBP, no mesmo Congresso, para levar adiante o bom trabalho das nossas Bibliotecas.
A FIBOL, Federação Internacional de Bibliotecas de Orientação Lacaniana do Campo Freudiano, foi fundada por Judith Miller, em 1990. Durante décadas, ela realizou um incansável trabalho para preservar a memória e ensino de seu pai, Jacques Lacan. Não mediu esforços para impulsionar o desenvolvimento de Bibliotecas de psicanálise e de outros campos afins, promovendo um fecundo intercâmbio entre elas. Lembro-me de algumas reuniões, quando Judith Miller carregava consigo muitos livros e os distribuía nos Congressos da Associação Mundial de Psicanálise e nos Encontros do Campo Freudiano. Sempre demonstrou grande generosidade, para estimular as Bibliotecas da FIBOL das diferentes Escolas. Naquela época já se considerava o valor das Bibliotecas na orientação política da Associação Mundial de Psicanálise e no Campo Freudiano, a partir de seu lugar de ação lacaniana, como sempre dizia Judith. Ela considerava as Bibliotecas como o grande elo da psicanálise de orientação lacaniana com os interessados em psicanálise, e com a interlocução na cidade.
As Bibliotecas da Seção Sul inscritas na FIBOL seguem os princípios e orientações desta Federação com o intuito de inscrever a psicanálise de orientação lacaniana entre os outros discursos da cidade e alimentar a interlocução com áreas afins. Os meios da nossa Biblioteca para a divulgação do ensino de Lacan, na estrita orientação lacaniana do Campo Freudiano é realizada através da atualização e aprimoramento do acervo (físico e digital), e conta com o trabalho de nosso bibliotecário Edson Morh que procede o arquivamento, catalogação, etc. Edson é um parceiro e tanto nessa construção da Biblioteca Una cuja função é de preservação da memória e do trabalho de transmissão em sua relação com o escrito e com a leitura, agregada ao poder da transferência de trabalho entre os colegas psicanalistas afetados pela causa analítica e por sua prática.
Com Freud, desde os textos de 1900 sobre as formações do inconsciente, em sua obra sobre os sonhos, aparece a concepção do Inconsciente como aquilo que está escrito e demanda decifração. Tal qual uma escrita hieroglífica, localizamos já neste momento uma aproximação com a escrita e com a leitura na experiência da psicanálise contextualizada em seu trabalho sobre os sonhos. Sabemos do interesse e amor de Freud pelas escritas antigas associando aos sonhos, os hieróglifos, e da escrita chinesa valorizada por Lacan, evocando a permanência de algo que se escreve para o ser falante.
. Assim, a Biblioteca da Escola de Psicanálise de Orientação Lacaniana da Seção Sul abre as suas portas à letra viva, que tem sua permanência na escrita e compõe um seleto acervo.
O tema da escrita em Lacan pode ser tratado em um caminho que segue da instância da letra no inconsciente, até a escrita do Sinthome, passando pela leitura do fantasma. É nesse caminho que Lacan afirma que a escrita vem do real.
O sintoma freudiano retomado por Lacan é um trabalho de inscrição, tendo ali uma condição de singularidade, na medida em que já há um trabalho de amarração da letra, da escrita e da leitura e, pensando mais adiante, o Sinthome como uma estrutura que ultrapassa os fenômenos clínicos, e permite a sustentação dos registros simbólico real e imaginário que se enlaçam com o objeto na composição do nó borromeano. Advém a formulação de Lacan de que a escrita vem do real e tem a função de permanência.
Que se cumpra através de nossa Biblioteca, que ora inauguramos, a função de permanência da Psicanálise de Orientação Lacaniana em nosso Estado e na Seção Sul.