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Experiência de Escola

Célia Ferreira Winter (EBP/AMP)

Arte: Jaider EsbellA atividade proposta por essa Diretoria: “Experiência de Escola”, inaugura, hoje, sua série, com o convite aos participantes da Nova Política da Juventude. Um espaço para que falem de sua experiência, do ponto em que cada um se encontra tocado.

Pensando em como apresentar esta atividade, relembrei meu próprio percurso, o que levou-me a dirigir à Escola o pedido para me tornar membro? Também essa pergunta pode ser dirigida aos jovens: o que os motivou a circularem pela nova política da juventude? O que leva os jovens a fazerem esse pedido? Ou cada um de nós?

Existem pessoas que não querem se tornar membro de Escola; pessoas que estão ao nosso lado, que participam de atividades, de cartéis, que circulam na Escola há bastante tempo, mas não tem o desejo de se tornar membro. Eu me incluía nesse grupo, e foi em análise que pude trabalhar essa questão. É verdade ser um sintoma que sigo trabalhando, mas isso já é outra história.

A posição de Miller, ser dócil aos jovens, é muito orientadora, pois indica que é preciso aprender com eles, e nos atermos, nesta relação, no discurso do analista.

Das conversas de boas-vindas com os 05 participantes da Nova Política da Juventude, da Seção Sul, surgiu essa proposta: Experiência de Escola – conversa com os participantes da NPJ. Fazer deste encontro um momento de ouvir, e de falar da experiência, nos pareceu uma troca, que desejamos seja frutífera, não só para Arthur, Mariana, Paula, Verônica e Rafael, que trazem, cada um, questões para conversarmos, mas também aos que estão aqui hoje, pois Experiência de Escola concerne a todos nós.

No texto El Caldero[1], encontrei essa orientação: que a experiência não diz respeito apenas aos menores de 35 anos, mas envolve toda a Escola.  Por ser uma política da AMP, é uma política que diz respeito à Escola e aos seus associados, pois todos somos AMP.

Se equiparamos o conceito de Escola ao despertar, a questão de como provocar o desejo de uma formação a ser proporcionada pela Escola, e não em outro lugar, é de responsabilidade de todos os seus membros e participantes que sustentam a psicanálise de orientação lacaniana.

Esta política, estimulada por Jacques-Alain Miller, e apoiada por Christiane Alberti, propõe sair do automatom, sem ceder dos princípios que a regem. Ao ouvir o desejo do jovem por uma Escola, ou por uma Escola Jovem, sua resposta não foi apenas uma aposta, mas, também, o ato de nomeá-los “membro sob condições”. Isso implica trabalho, compromisso de construir o futuro currículo junto com a Escola. Seguindo a orientação de Lacan, trata-se de admitir, como promessa, as pessoas, as mais sérias, ou seja, aquelas que em sua enunciação se colocam na série e consentem na transferência do trabalho, todos iguais diante do trabalho.

Esse aggiornamento, proposto por Miller, exigiu do Conselho da EBP, um ou dois passos para trás, não para recuar, mas para orientar-se. Se tomarmos como sintoma o envelhecimento da Escola, temos o alerta freudiano para guiarmo-nos na prudência diante do furor curandis, para não arriscarmos uma abertura massiva. Não é essa a proposta de Miller. O cuidado com a admissão continua vivo e coerente com o sentido proposto por Lacan, e “valoriza a enunciação analisante mantendo a exigência analítica nas candidaturas, isto é, que o candidato sustente no seu pedido, a relação com o seu próprio inconsciente[2]”.

Em um texto de Marcus André Vieira[3] “Escola, Democracia e Corpo”, recolhi, que para Lacan, o sentido de Escola supõe três coisas:

  1. A existência de analistas na cidade, na singularidade de sua prática. De fato, Lacan na “Proposição…” não parte, como implicitamente fazia a IPA, de uma definição ideal de analista, para, a seguir, delimitar sua Escola como associação de analistas. Apenas assume que os analistas existem, não importa a partir de qual formação.
  2. Dado que há analistas, o que define um analista? É exatamente essa pergunta que permite que a Escola seja a comunidade dos que se interrogam “De onde vêm os analistas?”. A Escola é a forma coletiva, o modo de colocar em tensão os discursos dos analistas, e não analistas, sobre a prática da psicanálise.
  3. É preciso que essa comunidade se recuse a recobrir a singularidade dessa prática (e do sujeito dessa prática, o sujeito do inconsciente) com significados universais coletivos. A Escola aposta que a existência da psicanálise, do real da prática do analista, será abordada e demonstrada, a cada vez, por saberes que desvelam aspectos de sua verdade em contextos específicos e ao modo da surpresa, mais do que da acumulação de saber.

Essas três proposições equivalem a dizer que a Escola não pode ser pensada fora das situações concretas de sua existência ao preço de se tornar uma ideia congelada. Essas questões, apontadas por Marcus André, me auxiliam em minha questão sobre a NPJ.

É uma aposta forte nos jovens, mas também na própria Escola, que precisa, como Lacan propõe aos analistas, a responsabilidade de estar à altura de sua época.

Cristiane Alberti[4] relembra as palavras de Lacan, numa palestra na Itália, em 1974, quando associou a juventude à esperança: “Fico muito feliz por ver um número muito grande de rostos jovens porque (…) é neles (…) nestes rostos que coloco a minha esperança”.

De que esperança falava Lacan?  Que os jovens podem nos servir de interlocução para a compreensão do momento presente. Os jovens são sensíveis à contemporaneidade, ao discurso dominante. O que podemos aprender com isso? Que precisamos levar em conta o mundo como ele é hoje, para que a psicanálise não fique de fora, e possa sobreviver.

Lacan falou a língua do seu tempo, para que jovens frequentassem a sua Escola. De acordo com Alberti, esta orientação inspirou o Conselho da AMP, e encorajou as Escolas a se preocuparem em acolher esses jovens. Garantir a presença destes, nas Escolas, dando-lhes um lugar ativo. É por isso que esta política exige, também, a presença dos membros mais experientes, dos AMES, que transmitam a experiência da Escola de forma não anônima, que incentivem os jovens colegas no trajeto que lhes permitirá ingressar como membros.  Nesse percurso também a Escola se deixa questionar em um movimento Moebiano.

Por fim, compartilho a inquietação formulada por Mauricio Tarrab[5]: Como formular uma política de formação que tenha em conta as consequências da contingência de um desejo inédito e do ato analítico, com a regulação e avaliação transmissível de uma prática?  Tarrab propõe que ao tripé clássico freudiano: análises, controle e ensino, se agregue o que J.A.Miller chama “a imersão na Escola”. Uma imersão tão prolongada quanto exigente.

Uma formação com buracos, uma formação que não termina!

Sigamos!


[1] https://elcalderoeol.com.ar/Ediciones/015/index.php?file=noche-del-consejo.html Dezembro 2023 edição 15 Segunda Noite do Conselho: Nova Política de Juventude.
[2] Site EBP
[3] Vieira, Marcus André. Escola, democracia e corpo on-line.
[4] https://mondodispatch-com.translate.goog/en/2023/12/11
[5] https://www.wapol.org/es/acercaamp/Template.asp?Archivo=escuela_una/documentos/ocho_textos/tarrab.html
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