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Encerramento 5ª Jornada da EBP- Seção Sul- Discursos e Corpos: a causa do dizer.

Teresa Pavone  (EBP/AMP)

Artista: Paul Klee

Boa noite, chegamos ao final dessa rica e intensa jornada da EBP da Seção Sul com muitas alegrias, mas, suponho que, também, com muitas inquietações.  A 5ª JORNADA DISCURSOS e CORPOS: A CAUSA DO DIZER, aumentou o que já se constituiu como uma série, série de muitas mais que ainda virão, assim esperamos.

Pensei: o que me resta a dizer, depois de um trabalho enorme que começou muito antes desse momento, de um grande encontro entre nós que é a jornada? Ou, melhor dizendo, desses múltiplos encontros que se fizeram presentes em todos os momentos, nesses dois últimos dias. Nas conferências de Graciela Brodsky, a quem agradeço a clareza e a generosidade de sua transmissão;  nos trabalhos apresentados com a demonstração das vinhetas sensíveis da clínica e no rigor conceitual e complexo do último e do ultimíssimo ensino de Lacan, que tem nos norteado; nos comentários, nas conversações, nas   conversas no cafezinho, nas trocas transferenciais, nas passagens pelas livrarias e por aí afora. Na belíssima apresentação, clara e muito ensinante, de Sergio de Mattos sobre o ensino do passe. Então, pensei o que eu poderia fazer além de um efusivo agradecimento a todos e a todas participantes desse grande evento de psicanálise de orientação Lacaniana. O que eu poderia falar?

Considerei desnecessário resumir, trazer recortes de cada acontecimento nesse percurso, de tudo que se passou e que foi debatido nessa profunda experiência de uma jornada de Escola de Orientação Lacaniana. Eu seria superficial e não expressaria, talvez, a vivência que cada um pôde desfrutar. Porque, afinal, são destes restos que caem do que os discursos não podem apreender pela fala, e que se calam em nossos corpos, e “dizem” tantas coisas como ressonâncias, restos dessa Jornada, que compreendo ter sido um verdadeiro Encontro entre os que são causados pela psicanálise e por sua prática. É a partir desses restos que vamos continuar tentando tangenciar o real de nossa experiência. Dito isto, escolhi finalizar com poema, com poesia, para trazer algo do indizível que agita o corpo, e algo que diz dos restos da fala, das palavras.

O primeiro poema é um trecho extraído de “As contradições do corpo”, de Carlos Drummond em seu livro Corpo, novos poemas:

Meu corpo ordena que eu saia

em busca do que não quero,

e me nega, ao afirmar

como senhor do meu EU

convertido em cão servil

 

Meu prazer mais refinado,

não sou eu quem vai senti-lo.

é ele, por mim, rapace,

e dá mastigados restos

à minha fome absoluta.

 

Se tento dele afastar-me,

por abstração ignorá-lo,

volta a mim, com todo o peso

de sua carne poluída,

seu tédio, seu desconforto.

 

Quero romper com meu corpo,

quero enfrentá-lo, acusá-lo,

por abolir minha essência,

mas ele sequer me escuta

e vai pelo rumo oposto.

 

E nesse último momento, escolhi a poesia “Tem Palavras”, de Alice Ruiz, nossa querida poeta, haicaista, letrista e tradutora curitibana, em seu premiado livro “Poesia para cantar no rádio”:

 

tem palavra

que não é de dizer

nem por bem

nem por mal

 

tem palavra

que não é de comer

que não dá pra viver

com ela

 

tem palavra

que não se conta

nem prum animal

 

tem palavra louca pra ser dita

feia bonita

e não se fala

 

tem palavra

para quem não diz

para quem não cala

para quem tem palavra

 

tem palavra

que a gente tem e na hora H

falta

 

Revisão: Juan Cruz Galigliana

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