Licene Garcia A Comissão da Diretoria de Biblioteca da EBP-Seção Sul, nesta 7ª edição extraordinária…
Encerramento 5ª Jornada da EBP- Seção Sul- Discursos e Corpos: a causa do dizer.
Teresa Pavone (EBP/AMP)

Boa noite, chegamos ao final dessa rica e intensa jornada da EBP da Seção Sul com muitas alegrias, mas, suponho que, também, com muitas inquietações. A 5ª JORNADA DISCURSOS e CORPOS: A CAUSA DO DIZER, aumentou o que já se constituiu como uma série, série de muitas mais que ainda virão, assim esperamos.
Pensei: o que me resta a dizer, depois de um trabalho enorme que começou muito antes desse momento, de um grande encontro entre nós que é a jornada? Ou, melhor dizendo, desses múltiplos encontros que se fizeram presentes em todos os momentos, nesses dois últimos dias. Nas conferências de Graciela Brodsky, a quem agradeço a clareza e a generosidade de sua transmissão; nos trabalhos apresentados com a demonstração das vinhetas sensíveis da clínica e no rigor conceitual e complexo do último e do ultimíssimo ensino de Lacan, que tem nos norteado; nos comentários, nas conversações, nas conversas no cafezinho, nas trocas transferenciais, nas passagens pelas livrarias e por aí afora. Na belíssima apresentação, clara e muito ensinante, de Sergio de Mattos sobre o ensino do passe. Então, pensei o que eu poderia fazer além de um efusivo agradecimento a todos e a todas participantes desse grande evento de psicanálise de orientação Lacaniana. O que eu poderia falar?
Considerei desnecessário resumir, trazer recortes de cada acontecimento nesse percurso, de tudo que se passou e que foi debatido nessa profunda experiência de uma jornada de Escola de Orientação Lacaniana. Eu seria superficial e não expressaria, talvez, a vivência que cada um pôde desfrutar. Porque, afinal, são destes restos que caem do que os discursos não podem apreender pela fala, e que se calam em nossos corpos, e “dizem” tantas coisas como ressonâncias, restos dessa Jornada, que compreendo ter sido um verdadeiro Encontro entre os que são causados pela psicanálise e por sua prática. É a partir desses restos que vamos continuar tentando tangenciar o real de nossa experiência. Dito isto, escolhi finalizar com poema, com poesia, para trazer algo do indizível que agita o corpo, e algo que diz dos restos da fala, das palavras.
O primeiro poema é um trecho extraído de “As contradições do corpo”, de Carlos Drummond em seu livro Corpo, novos poemas:
Meu corpo ordena que eu saia
em busca do que não quero,
e me nega, ao afirmar
como senhor do meu EU
convertido em cão servil
Meu prazer mais refinado,
não sou eu quem vai senti-lo.
é ele, por mim, rapace,
e dá mastigados restos
à minha fome absoluta.
Se tento dele afastar-me,
por abstração ignorá-lo,
volta a mim, com todo o peso
de sua carne poluída,
seu tédio, seu desconforto.
Quero romper com meu corpo,
quero enfrentá-lo, acusá-lo,
por abolir minha essência,
mas ele sequer me escuta
e vai pelo rumo oposto.
E nesse último momento, escolhi a poesia “Tem Palavras”, de Alice Ruiz, nossa querida poeta, haicaista, letrista e tradutora curitibana, em seu premiado livro “Poesia para cantar no rádio”:
tem palavra
que não é de dizer
nem por bem
nem por mal
tem palavra
que não é de comer
que não dá pra viver
com ela
tem palavra
que não se conta
nem prum animal
tem palavra louca pra ser dita
feia bonita
e não se fala
tem palavra
para quem não diz
para quem não cala
para quem tem palavra
tem palavra
que a gente tem e na hora H
falta
Revisão: Juan Cruz Galigliana