Gustavo Ramos (EBP/AMP) Teresa Pavone (EBP/AMP) O VI Boletim da Seção Sul, assim como…
EDITORIAL Modos de Usar #4
Teresa Pavone (EBP/AMP)
Gustavo Ramos (EBP/AMP)
- “[…] a topologia é um domínio da ciência através do qual a ciência dá conta de seu fracasso a suturar o sujeito: é por isso que topologia e psicanálise são solidárias”
- “Essa topologia – que faz parte do porquê a psicanálise procede da ciência, é correlativa à ciência – é aquela do sujeito, desse sujeito que a ciência visa foracluir, suturar, mas onde justamente ela fracassa”[1].
Esta quarta edição do Boletim Modos de Usar traz a publicação de textos que representam uma síntese do trabalho desenvolvido na EBP- Seção Sul nos últimos meses. Demonstra a direção de um trabalho pautado pela Orientação Lacaniana, no que ela comporta do rigor político, clínico e ético digno do ensino de Lacan. Os temas atuais de nosso Campo circulam na comunidade analítica fazendo ressoar o que nos causa. O desafio é manter viva a chama que anima nosso trabalho, nossas atividades e nossas produções em consonância com os temas em pauta na EBP e na AMP. Bem como, também, darmos prova de nossa clínica na direção de alcançar o último e o ultimíssimo ensino de Lacan, mantendo os elos de continuidade e de descontinuidade com o primeiro ensino e localizando e explorando os cortes epistêmicos produzidos pelos avanços circunscritos nos seminários de Lacan e as consequências na práxis. Manter a chama acesa do desejo de saber é manter as perguntas sobre o que é um psicanalista e como ensinar aquilo que não se ensina. É nesse espírito que nossa comunidade não cessa de zelar por manter um espaço que seja de formação permanente. Nesse sentido, tal veículo não é apenas uma agenda ou um noticiário das atividades desenvolvidas. Vocês poderão atestar isso pelo teor dos textos que seguirão.
Celia Carta Winter (EBP/AMP), diretora atual da Seção Sul, apresenta a proposta e a direção que pretende imprimir na gestão que corre e pontua que se trata de “seguir, colocando o corpo, estreitando os laços transferenciais sustentados na concepção lacaniana do coletivo não-todo e da transferência de trabalho.” Ela parte das interrogações: “Como dar lugar ao Um no coletivo?” e “Como fazer existir a partir do Um, algo que seja múltiplo, articulado e discutido?” para fazer reflexões acerca da Escola como refúgio ao mal-estar e sobre a formação do analista.
Flávia Cêra (EBP/AMP), presidente do Conselho da Seção Sul, discorre sobre a orientação lacaniana e sobre a proposta do seminário do Conselho deste ano, em relação ao tema de trabalho do seminário do ano de 2022. A formação do analista e o ensino se entrelaçam com a nova proposta: “como podemos ler no texto de Miller para o próximo congresso: estamos entre o impossível de ensinar e o necessário do ensino. Como fazê-lo? Ou ainda, como preservar esta tensão tão importante para discurso analítico que, segundo Lacan, é o único que não pretende dominar?”
Da diretoria de Biblioteca, os comentários das Noites de Biblioteca começam pelo texto de Samira Assad (EBP/AMP), que reporta um resumo de seu texto apresentado ainda no ano passado às vésperas das eleições em nosso país e que produziu um fecundo debate de assuntos atuais, políticos e sobretudo sobre a situação da psicanálise nos dias de hoje e de sua permanência, que se situa na preservação de seu trabalho com o real. O debate foi também incrementado pelos comentários de Luis Francisco Camargo (EBP/AMP). Destaco o trecho em que Samira sublinha: “Se à psicanálise é reservada uma resistência que lhe é inerente a partir de um mal-estar na civilização – ou um ‘impasse na civilização’ como diz Miller – sob a égide de uma orientação em direção ao real, sua resposta é e sempre foi uma subversão, desde a sua origem. A experiência que ela permite trilhar, fora do domínio do Mestre, do significante Mestre do Estado, desvela e transmite, por fim, uma desalienação.”
Já na primeira noite de Biblioteca, realizada em abril de 2023, nosso querido colega Patricio Alvarez Bayon (AME EOL/AMP) animou uma calorosa discussão em torno do tema do autismo, e Diego Cervelin é o autor da nota de destaques sobre essa noite, que ressalta um “interesse especialmente atento às posições que os sujeitos poderiam assumir diante da linguagem, dando lugar ao singular da experiência em vez de simplesmente determiná-lo pela estrutura na qual cada um poderia ou não se inscrever”.
Na sequência, o texto de abertura de Teresa Pavone (EBP/AMP) da Noite de Biblioteca, na inauguração da Biblioteca da EBP – Seção Sul, em Curitiba, pode ser lido como um momento de conclusão no qual esta Biblioteca do Paraná da EBP – Seção Sul abre suas portas para que a letra de Lacan alce voo na cidade. O texto de Graciela Bessa (EBP/AMP), convidada da mesma noite, nos brinda com considerações ao lembrar da criação da Federação Internacional de Bibliotecas de Orientação Lacaniana (FIBOL) em 1990 e dos três pilares, segundo Judith Miller, pelos quais as Bibliotecas se orientariam: “sustentar polêmicas, praticar a discussão e obter informações de novas fontes”. São esses eixos que tocaram Gustavo Ramos (EBP/AMP) ao receber a chave da Biblioteca da Seção Sul da EBP. Teresa Pavone (EBP/AMP) entregou a cada um dos membros da Seção Sul uma cópia da chave da Biblioteca em um ato simbólico, pois “a chave serve não somente como instrumento para abrir uma porta, mas isso só acontece quando alguém decide colocar algo de si, seu corpo, nesse movimento de colocar a chave, abrir a porta e se deparar com o livro”.
É ainda na figura da porta que a Diretoria de Cartéis e Intercâmbio ressalta o dispositivo do cartel como porta de entrada na Escola e a importância, a força e a atualidade dessa invenção lacaniana concomitante ao surgimento de sua Escola. Foi realizada uma atividade de “Procuram-se cartéis” na qual já surgiu uma proposta de cartel e nos dias seguintes mais três iniciativas de formação surgiram. Cartel tem origem latina de “cardo”, significando dobradiça. A dobradiça da porta entre o traço singular de cada um e a questão elaborada por cada cartelizante em torno de um tema a partir da função do Mais-um como um provocador-provocado.
O Seminário por Conta e Risco de Zelma Galesi (EBP/AMP) refletiu sobre “Os afetos negativos na cultura: ódio, violência, racismo e segregação”. Na época da queda do Nome do Pai, houve uma mudança na ordem simbólica em direção a uma superestimação do supereu sob a forma do imperativo de gozar. Esse seria o pontapé para os afetos negativos espalhados pelo mundo.
Em 2023 também tivemos o início do Seminário por Conta e Risco ministrado por Liège Goulart (EBP/AMP), Eneida Medeiros (EBP/AMP) e Gustavo Ramos (EBP/AMP) sobre o tema “Reviramentos topológicos e política do sintoma na clínica lacaniana”. Com quatro encontros programados para o segundo semestre de 2023, a partir da leitura dos Seminários 24 e 25 de Lacan, cada um levantará sua questão específica, perpassando a nova concepção sobre o imaginário e o significante, o ensino e o saber, a equivocação e o furo, a letra e seus diferentes estatutos, conforme ela esteja articulada ao sintoma ou ao sinthoma.
Para terminar, nos dias 13 e 14 de outubro nós teremos a 4ª Jornada da Seção Sul da EBP “Louco-motiva: a cada um seu acento” a ser realizada no Solar do Rosário em Curitiba, no Paraná, com Daniel Millas (EOL/AMP) como nosso convidado. As inscrições ainda estão abertas e você pode assistir ao teaser aqui embaixo mesmo.
Até o próximo Modos de Usar!