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Editorial – Boletim PULSaR #05

Um P U L S a R derradeiro…

Haroldo de Campos foi um poeta que, entre os psicanalistas, também advogou pela dignidade de “lalíngua”[1]. Sem medo do babelório e apostando justamente no entrechoque dos mal-entendidos, entre os anos 60 e 80, ele escreveu um projeto poético que chamou de Galáxias, um livro de viagem, de percursos e que, como o tema da VI Jornada da EBP – Seção Sul, implica tempo, espaço e sujeitos, suas derivas, repetições e invenções. Neste P U L S a R derradeiro, retomamos um pequeno trecho com o qual as Galáxias se encerram ou reabrem:

[…]

aqui me largo foz e voz ponto sem nó contrapelo onde cantei já não

canto onde é verão faço inverno viagem tornaviagem passand’além

reverbero não conto não canto não quero descadernei meu caderno

livro meu meu livrespelho dizei do livro que escrevo no fim do

livro primeiro e se no fim deste um um outro é já mensageiro do

novo no derradeiro que já no primo se ultima escribescravo tinteiro

monstro gaio velho contador de lériaslendas aqui acabas aqui

desabas aqui abracadabracabas ou abres sésamoteabres e setestrelas

cada uma das setechaves sigilando à tua beira à beira-ti beira-

-nada vocêvoz tutresvariantes tua gaia sabença velhorrevelho contador

de palavras de patranhas parêmias parlendas rebarbas falsário de

rebates finório de remates useiro de vezos e vezeiro de usos

tuteticomigo conosconvosco contingens est quod potest esse et

non esse tudo vai nessa foz do livro nessa voz e nesse vós do livro

que saltimboca e desemboca e pororoca nesse fim de rota de onde não

se volta porque no ir é volta porque no ir revolta a reviagem que

se faz de maragem de aragem de paragem de miragem de pluma de

aniagem de téssil tecelagem […][2]

São três os textos que apresentamos neste momento: as mensagens de abertura lidas por Marcia Stival e Leonardo Scofield, em 24 de outubro, e “Ecos e perspectivas”, lido por Nohemí Brown, em 25 de outubro. Como vocês poderão perceber, os textos que compõem este boletim derradeiro – por hora – encerram uma jornada, mas no interesse de reabrir um percurso que há de seguir com seus ecos, novas ressonâncias, eventualmente repetições… repetições que, mesmo em sua mínima diferença, também podem – quem sabe – comportar um bom modo de acolher as contingências.

Boa leitura!

Comissão do Boletim P U L S a R


[1] Cf. CAMPOS, Haroldo de. O afredeudisíaco Lacan na galáxia de lalíngua (Freud, Lacan e a escritura). In: ___. O segundo arco íris-branco. São Paulo: Iluminuras, 2010, pp. 227-248. Cf. CAMPOS, Haroldo de. O poeta e o psicanalista: algumas invenções linguísticas de Lacan. In: ___. Op. cit., pp. 249-262.

[2] CAMPOS, Haroldo de. Galáxias. 2 ed. São Paulo: Editoria 34, 2004.

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