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EDITORIAL Boletim Modos de Usar #01

Por Teresa Pavone (AP, membro da EBP/AMP)
Diretora de Biblioteca da EBP-Seção Sul
Arte: Robert Irwin
Arte: Robert Irwin

É com grande satisfação que lançamos o primeiro Boletim da EBP-Seção Sul, Modos de Usar, nome herdado do boletim da primeira Jornada desta nova Seção, que fez circular, com vivacidade, muitos textos, resenhas, entre outros em torno do tema proposto no ano passado. Adotamos este nome por sua originalidade e por evocar a ideia de produção e edição de textos dos quais cada um poderá fazer uso a seu modo, tanto pelo lado epistêmico como pelo lado da prática da psicanálise. Os textos que aqui figuram seguem como flashes, resenhas, marcas conceituais das atividades que ocorreram, em sequência, no primeiro semestre de 2021, na recém-fundada Seção Sul.

Sobre a atividade de abertura de nossa Seção, Louise Lhullier escreve a respeito do curso de Jaques-Alain Miller, de 2010-2011, que teve como título O Ser e o Um[1], no qual repousam os fundamentos que norteiam os trabalhos de pesquisa deste ano na Seção. Louise escolheu um trecho sensível de um conto de Mia Couto[2] para delinear uma orientação de pesquisa sobre o tema a partir das questões da existência e do Real em psicanálise.

Da primeira Noite de Biblioteca, o texto de Gustavo Ramos expressa a riqueza de questões que a convidada Nieves Soria provocou numa animada conversação sobre o conteúdo de seu livro La inexistencia del nombre del padre[3]. Ele comenta que “a inexistência do Nome do Pai provém do Outro que não existe” e que isto é ponto central para o trabalho em nossa Seção: “[…]que não existe”. Do texto de Gustavo, destaco o trecho em que ele cita Jacques-Alain Miller, com base no seu escrito Foraclusão generalizada: “dizer que o Outro não existe não significa, evidentemente, que ele não funcione. É necessário precisar o termo existir[4]. Gustavo faz, com isso, restar em seu texto a pergunta sobre a inexistência em psicanálise, sobre algo que não existe em relação ao ser, mas que funciona.

Sobre a Noite de Cartel, Eneida Medeiros Santos ressalta da fala do diretor de Cartéis da EBP-Sul, Oscar Reymundo, que o saber produzido no cartel “advém mais propriamente do não saber norteador da leitura, da pesquisa e do intercâmbio entre seus integrantes.” E, sobre a função do Mais-um, destaca a função de “descompletar o grupo”. Dos convidados da Noite de Cartel, Zelma Galesi e Cleyton Andrade, Eneida extrai relevantes considerações sobre a função do Mais-um, acerca do próprio significante “mais-um”. Nos aponta como Zelma aborda o estatuto da palavra do Mais-um no dispositivo do cartel e de sua posição “de um não tolo do real”. Da exposição de Cleyton, Eneida destaca como ele explora a questão dos efeitos de subjetividade que aparecem no cartel, que vai além da busca de produção científica através da escrita, e comenta sobre a importância, para o autor, de o Mais-um poder fazer uma leitura inédita da experiência, dos efeitos de subjetivação que podem ser produzidos em um cartel, em cada um dos membros, e fazê-lo, assim, funcionar.

Da segunda Noite de Biblioteca, que teve como convidado Sergio Laia, e se discutiu o seu texto “O analista, sua análise e o fator feminino”[5] – em que o autor propõe uma leitura do texto freudiano A análise finita e a infinita[6], de 1937 –, Licene Garcia nos apresentou um resumo das ideias do autor debatidas naquela noite. Discorre sobre o infinito da análise pensado em relação à formação do analista e sobre o término de uma análise pensado em relação à dimensão do feminino como um “Fim” da psicanálise e do processo analítico, aproximando o texto de Freud, e sua interlocução com Sándor Ferenczi, às ideias de Lacan sobre o “fator” feminino, que evoca o infinito.

Marcia Stival Onyszkiewicz, Presidente do Conselho Deliberativo da Seção Sul, apresenta o trabalho que está sendo desenvolvido em torno do curso O Banquete dos Analistas[7], de Jacques-Alain Miller, como proposto pelo Conselho no Seminário de Orientação Lacaniana, de 2021. Ao pensar a Escola e a formação do analista, Marcia expõe a questão de cada um dos membros do Conselho.

Seguem, também, resenhas, dos seminários por Conta e Risco, escritas por Zelma Abdala Galesi e Oscar Reymundo, respectivamente sob os títulos: “O Ultimíssimo Lacan e a atualidade clínica” e “Uma autorização singular. Autorizar-se a inventar um sexo.”

Ao final vocês terão a surpresa da apresentação de um vídeo sensível, e um convite para participarem da segunda Jornada da EBP-Seção Sul: Falar sobre o que não existe: Do gozo do sentido às bricolagens possíveis, que acontecerá em outubro, nos dias 29 e 30 de 2021.

A todos, uma ótima leitura e um bom uso possível de nosso Boletim!


[1] MILLER, Jacques-Alain. O Ser e o Um. Tradução de Vera Avellar Ribeiro. Aula VII, 16 mar. 2011. (inédito)
[2] COUTO, Mia. Terra sonâmbula. São Paulo: Companhia de Bolso, 2015, p.15.
[3] SORIA, Nieves. La inexistencia del nombre del padre. Ciudad autónoma de Buenos Aires: Nives Soria, 2020.
[4] MILLER, Jacques-Alain. Foraclusão generalizada. In: BATISTA, Maria do Carmo Dias; LAIA, Sérgio (Org.). Todo mundo delira. Belo Horizonte: Scriptum Livros, 2010, p.16.
[5] LAIA, Sergio. O analista, sua análise e o fator feminino. Correio, n. 84, 2021, p.112.
[6] FREUD, Sigmund. A análise finita e a infinita. (1937). In: FREUD, Sigmund. Fundamentos da clínica psicanalítica. Tradução de Claudia Dornbusch. São Paulo: Autêntica, 2017, p. 173-194.
[7] MILLER, J.-A. El banquete de los analistas. Buenos Aires: Paidós, 2010, p.12
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