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Editorial Boletim Fora de Linha #04

Gustavo Ramos (EBP/AMP)

Na última preparatória à 4a Jornada da Seção Sul da Escola Brasileira de Psicanálise, Raúl Antelo e Bianca Tomaselli nos presentearam com a maneira pela qual a arte abordou a questão da locomotiva, em especial o que fica de fora dos trilhos.

Raúl Antelo parte da citação de J.-A. Miller em Perspectiva dos Escritos e Outros escritos de Lacan quando este fala do paradigma e da singularidade de um caso incomparável para trazer à tona o quadro de Eduard Manet A estrada de ferro, de 1873, e de uma fotografia anônima presente na revista Minotaure. Fotografia que André Breton não conseguiu reproduzir no seu livro O amor louco, de 1937, e, por isso, ficou de fora. Nela, percebemos uma locomotiva abandonada na floresta. Tal imagem ilustraria, tempos depois, o texto La nature dévore le progrès et le dépasse, de Benjamin Péret. Raúl nos propõe um trilho singular entre os olhares opostos em Manet, o Angelus Novus, de Paul Klee, com o olhar para o futuro e o passado, e termina com o Manifesto da Poesia Pau Brasil, de Oswald de Andrade no qual vemos duas locomotivas indo em destinos opostos.

Em comentário à reflexão anteliana, Bianca Tomaselli parte da ideia de obra como ato criador a partir das sombras históricas, do último livro do próprio Raúl, acompanhando-nos pela estereoscopia, um instrumento da reprodutibilidade técnica. Bianca retoma três telas de Gustave Caillebotte, Les Raboteurs de Parquet, de 1875, e Rue de Paris, temps de pluie, de 1877, colocando-as em perspectiva com Le Pont d’Europe, porém com a análise de Nicolas Callas sobre a indecidibilidade das linhas… linhas do trem?

Voltando aos trilhos e aos assentos da jornada, somos apresentados à reflexão de Tainã Pinheiro a partir do eixo Salvar a Clínica, escrito por Maria Teresa Wendhausen (EBP/AMP) para nossa jornada. Tainã postula as consequências da substituição dos princípios clínicos pelos princípios jurídicos. O impasse oriundo da despatologização é de como ficaria o que afeta o corpo pelo inconsciente? O lugar da clínica ficaria em segundo plano. Sem pathos, todos apáticos?

Dando seguimento às escansões da comissão “Não procuro, eu acho”, Andrea Tochetto se coloca nos trilhos de O Aturdito, de Lacan, para dar o lugar à besteira e seus caminhos impenetráveis que só um mal-entendido pode tentar localizar alguma posição de gozo. Isso é possível com a topologia dos nós que interroga a relação entre dizer e dito. Na hiância entre o dito e o ouvido, Andrea escande mais um pouco o eixo Salvar a Clínica, ao nos dizer que a topologia, ao não ser um farol a nos guiar, pode ser um recurso diante do que retroage na cadeia, servindo, talvez, como uma bússola.

O eixo 3 também provocou Artur Cipriani a ponto de escrever um breve comentário sobre o totalitarismo do somos todos iguais e a passagem à singularidade do Um tendo como base um critério e um modelo de ciência para todos.

Escolhemos para esta edição as obras de Eric Boyer que produz lindas esculturas em malha de arame e as publica no seu instagram @boyermesh. Fica aqui o convite para visitar sua página.

Logo nos encontraremos em Curitiba para nossa jornada. As inscrições continuam abertas!

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