#04 - SETEMBRO 2023
Editorial Boletim Fora de Linha #02
O que sai do eixo?
Gustavo Ramos da Silva (EBP/AMP)
Neste segundo número Fora de Linha, apresentamos os três eixos de nossa jornada: clínico, político e epistêmico. Oscar Reymundo (EBP/AMP) em “O objeto a não tem sexo” nos convida a pensar a transexualidade a partir do aforismo lacaniano de que “todo mundo é louco”, a ficção delirante de cada um que dá um contorno possível à existência do ser falante, o qual, é bom lembrar, ao falar coloca em xeque a própria coadunação do sexo com a expressão desse sexo, seu gênero, longe, portanto, de toda anatomia. Maria Teresa Wendhausen (EBP/AMP) em “Salvar a clínica” retoma o argumento de Jacques-Alain Miller para o próximo Congresso da AMP em 2024. Nele, Teresa problematiza a passagem contemporânea dos princípios jurídicos pelos princípios clínicos, colocando em risco a clínica, a ponto de seu desaparecimento se tornar quase programado. Haveria um modo de salvar a clínica hoje? Indo além da tese, será que tal feito não teria impactos importantes também na área jurídica? Como se pode pensar o próprio andamento de um processo se levarmos em conta essa premissa? Seria o lawfare uma consequência dessa passagem? Já Nohemí Brown (EBP/AMP) em “Que bússola é essa?” coloca na mesa um mapa sem utilidade para se direcionar a uma possível bússola. Na clínica, essa bússola pode tomar a diretiva de verificar como a retroação do saber chegou a cada ser falante, de que modo ela foi operacionalizada e significantizada por cada um, afinal de contas esse é o delírio que nos faz acreditar e sair da linha.
Na primeira atividade preparatória a IV Jornada da Seção Sul da Escola Brasileira de Psicanálise nós tivemos o comentário de Célia Ferreira Carta Winter (EBP/AMP) sobre o argumento, que na ocasião foi lido por Leonardo Scofield (EBP/AMP). Nessa apresentação, Célia amplia historicamente o escrito “Não é louco quem quer”, escrito nas paredes de Sainte-Anne, para a postulação “Todo mundo é louco, quer dizer, delirante”.
Contamos também com a primeira contribuição da comissão “Não procuro, eu acho” sob a batuta de Ana Sofia Guerra, integrante da comissão, que escreve a escansão “Nota sobre as próximas estações” comentando a referência de Lacan em “Formulações sobre a causalidade psíquica” de 1946.
Os eixos podem nos orientar para a escrita de trabalho para a Jornada, mas nós também estamos interessados no que pode sair do eixo e não necessariamente causar angústia. Esse elemento que fica de fora pode servir de inspiração na escrita e nas artes. Pode-se inventar um outro modo de se lidar com o que está fora do eixo e fora de linha.