Boletim da VI Jornada da EBP – Seção Sul Editorial – P U L S…
Da solução sintomática do isolamento à solidão do falasser
Juan C Galigniana
(Participante das atividades da EBP – Seção Sul)
A apresentação do Eixo “O gozo e a época” avivou a urgência de pensarmos como manter a clínica de orientação lacaniana à altura de nossa época. Oscar Reymundo lança uma pergunta orientadora: “Uma época estaria determinada pelo discurso dominante e pelo modo de gozo que esse discurso regula… ou não mais regula?”. Recordando-nos, junto a Lacan, que “o gozo comporta o mal do próximo”, Oscar situa o ruído do mal-estar contemporâneo, efeito dos avanços do discurso capitalista, na proliferação desenfreada dos discursos de ódio, da segregação, da violência e no declínio do laço com o Outro social. Como escutar o ruído… hoje?
Neste ponto, a diferença destacada entre solidão e isolamento teve especial repercussão na conversação que se seguiu. Podemos dizer que a solidão comporta algo da singularidade do falasser e, inclusive, uma potência criativa. Por sua vez, o isolamento caracteriza-se pela ruptura do laço com o Outro. Sendo assim, seria ele uma das marcas do modo contemporâneo de gozar? Mais do que contingencial, um efeito estruturante da recusa da alteridade e da desarticulação do Outro como lugar de inscrição?
Extraio de Domenico Cosenza [2024] duas escansões que, a meu ver, podem instigar a pesquisa sobre o tema. Primeiro, o isolamento como solução sintomática pela qual alguns sujeitos tendem a “construir uma modalidade de gozo sem o Outro e em circuito fechado”[1]. Segundo: “a fala desses pacientes aparece como desprovida de ressonâncias, não metafórica, não articulada à cadeia significante do discurso do sujeito, muitas vezes enriquecida por significantes congelados e não deslizáveis”[2].
Frente a isso, as colocações de Márica Stival e Leonardo Scofield durante a preparatória apontam parte do desafio: como atuar com esse sujeito imerso no isolamento? Como o ato analítico pode abrir uma via à solidão do falasser que possa substituir o isolamento como defesa?
[1] Cosenza, D. Clínica do excesso. Derivas pulsionais e soluções sintomáticas na psicopatologia contemporânea. Belo Horizonte: Scriptum, 2024, p. 66.
[2] Ibidem, p. 75