Bianca Dias* entrevista o artista Francisco Faria, que se destaca por seus desenhos feitos com…
Boletim Corpografias #4
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#04 – SETEMBRO 2024
EDITORIAL
A duas semanas da 5ª Jornada de Psicanálise da EBP – Seção Sul, o boletim Corpografias #4 traz uma série de textos que foram produtos da última preparatória, em torno do eixo “O discurso faz do corpo um corpo”. As questões giraram entre enunciação, enunciado, dizer, dito e discurso, convocando a uma distinção dos tempos lógicos, que inclui lalíngua e a letra. Conceitos que certamente voltarão a circular nas apresentações de trabalhos e conversações nos dias 4 e 5 de outubro.
A duas semanas da 5ª Jornada de Psicanálise da EBP – Seção Sul, o boletim Corpografias #4 traz uma série de textos que foram produtos da última preparatória, em torno do eixo “O discurso faz do corpo um corpo”. As questões giraram entre enunciação, enunciado, dizer, dito e discurso, convocando a uma distinção dos tempos lógicos, que inclui lalíngua e a letra. Conceitos que certamente voltarão a circular nas apresentações de trabalhos e conversações nos dias 4 e 5 de outubro.
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EIXO 3: O DISCURSO FAZ DO CORPO UM CORPO
Cinthia Busato (EBP/AMP)
No Seminário 19, …ou pior, Lacan aponta que foi a partir da fala das histéricas que Freud fez surgir “a constatação de que o que se produzia no nível do suporte tinha a ver com o que se articulava pelo discurso. O suporte é o corpo”. O discurso faz do corpo um corpo que funciona, se regula, se orienta e se inscreve no laço discursivo pelo efeito significante. Mas, há um resto que Lacan já definiu como uma marca, um estigma do real que não se liga a nada. Esse real que não se liga a nada será o ponto de opacidade do gozo, que poderá ser acolhido no sintoma. Então, como pode ser tocado esse caroço de real?
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O enigma e a enunciação
Eneida M. Santos (EBP/AMP) – Cartel Fulgurante
EIXO 3: O DISCURSO FAZ DO CORPO UM CORPO
Partirei de um trecho do texto do argumento de Cínthia no qual ela destaca a expressão “um dizer novo”, como uma interpretação que faz emenda entre o simbólico e o real, para situar a questão do enigma e da enunciação. Uma vez que o ato da enunciação reinaugura esse “novo”, o sujeito do enunciado se vê transformado e o enigma que o ato contém, daquilo que o causa, pode ser , de certa forma, preservado.
O discurso faz do corpo um corpo, título dado a esse eixo, marca esse encontro traumático com “a palavra que fere”, o choque do encontro da língua com o corpo. Já a enunciação refere-se a um processo mais articulado e sofisticado da linguagem, mais tardio, vamos dizer assim…
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Um saber-fazer que perturbe o discurso
Juan C. Galigniana – Cartel Fulgurante
EIXO 3: O DISCURSO FAZ DO CORPO UM CORPO
Ao ler o texto do 3° eixo da 5ª Jornada EBP-Sul, detive-me, momentaneamente, sobre um aspecto do primeiro parágrafo. Ao título escolhido – O discurso faz do corpo um corpo –, Cinthia Busato acrescenta, logo a seguir: “um corpo que funciona, se regula, se orienta e se inscreve no laço discursivo pelo efeito significante”. A pausa se deu sobre o verbo funcionar. Vou me permitir isolá-lo do resto da frase, um pouco arbitrariamente, pois daí surgiram minhas perguntas.
Como entender um corpo que funcione? Por um lado, de que corpo estaríamos falando? E, por outro, como o laço discursivo faz um corpo funcionar?
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Dos encontros possíveis: corpo, discurso e acontecimento
Juliana Rego Silva – Cartel Fulgurante
EIXO 3: O DISCURSO FAZ DO CORPO UM CORPO
O trabalho no cartel fulgurante para pensar as questões de investigação propostas no terceiro eixo da nossa 5ª Jornada tem sido precioso. A orientação é a de nos debruçar sobre a bússula de pesquisa descrita por Cinthia Busato (EBP/AMP) no terceiro eixo em O discurso faz do corpo um corpo, acolhendo e identificando o que ali, para cada um de nós, pode produzir um certo tipo de causa. O caráter fulgurante deste cartel diz respeito não só ao curto tempo de trabalho, mas também ao seu estilo vívido de produção. Neste modelo de pesquisa, parece-me ser preciso aprender a tecer trilhos abrindo caminho a uma fugaz inquietação. Além das riquíssimas contribuições dos colegas, o efeito de desejo de saber consequente das intervenções do mais-um Antônio Teixeira (EBP/AMP) nos traz aqui para compartilhar um pouco deste processo – que ainda está em andamento.
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Questão
Rafael Marques Longo – Cartel Fulgurante
EIXO 3: O DISCURSO FAZ DO CORPO UM CORPO
Cinthia tratou do discurso do analisante na sua relação com o ato analítico, tecendo uma questão precisa: no ato analítico o vivo, como o vivo do corpo do analisante em seu ato, também está incluído?
Servindo-me de suas próprias considerações, parece possível indicar que, sim, o vivo também está incluído. Tanto do analisante, que produz o discurso em jogo; quanto do analista, que, embora seu fantasma esteja de fora, o vivo de seu corpo está.
Com isso, minha questão é a seguinte: o gozo do analista é suporte e efeito do discurso do analisante?
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FARIA, Francisco
Moradas IV – Técnica Mista 80×60 cm – 1992
IN: Baptista, J.V & Faria, F. Corpografias: Autópsia poética das passagens. São Paulo, Ed. Iluminuras, 1992, p.79
Ensinar a dizer?
Fernanda N. Baptista
No seu universo particular, acompanho em silêncio a narrativa do brincar da pequena cozinheira: “Prontinho, agora está indo para o forno. Vou fazer o próximo macarrão. Aperta um pouquinho, vou tirar com cuidado. Mais um macarrãozinho. Agora vai para o forno. Tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac. Mais um macarrão. Enrola, enrola, enrola. Corta, corta, corta.” Ao final da série de fornadas feitas, decide empanturrar a sua boneca com todo o macarrão que produziu na duração do tempo transcorrido, e a analista interrompe: para que tudo isso? Ao que ela responde: Mas como eu vou parar, se ela está pedindo?
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Arrancar o obsessivo do domínio do olhar
Jésus Santiago
Analista Membro da Escola (AME) pela Escola Brasileira de Psicanálise (EBP) e Associação Mundial de Psicanálise (AMP) E-mail: jesussan.bhe@terra.com.br
Não é nada seguro que a neurose histérica exista, mas há certamente uma neurose que existe, é o que se denomina neurose obsessiva (LACAN, 1979). Lacan pôde fazer esta declaração, em 1978, durante o Congresso da Escola Freudiana de Paris, sobre a questão da transmissão em psicanálise. É certo que essa questão remete à concepção psicanalítica dos discursos; visto que sob esse ponto vista, não somos filhos dos pais, tampouco de Deus, “somos filhos dos discursos” (LACAN, 1971-72/2012, p. 226). Se a histeria deixa de existir como neurose, ela torna-se discurso. A histeria deixa de ser neurose desde o momento em que perde…
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A Henologia em Lacan: Há-Um!
Teresa Pavone (EBP/AMP)
Há-um no lugar de onde ele vem. Ou seja, não há outra existência do Um a não ser a existência matemática. Há um argumento que satisfaz uma formula, é um esvaziado
de sentido: é simplesmente o Um como Um
Como chegar à questão do Um e distingui-lo do ser em Lacan a partir da teoria dos conjuntos, mais especificamente a teoria do conjunto vazio que inicia a série dos números naturais? Como se dá o desenvolvimento lógico dessa premissa onde se funda o Um?
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O analista e seu corpo: suporte para que o objeto se encarne
Rafaela Maester
Para que uma análise aconteça é necessário que o analista exista como uma presença, como uma posição que possa operar alheia ao sentido. É possível afirmar que a escuta clínica testemunha uma série de eventos corporais que escapam de uma interpretação pela busca de sentido e que se direciona para além da narrativa apresentada pelo analisante.
Na clínica do falasser o analista ocupa o lugar de semblante de objeto a, ele se faz presente para ocupar um lugar de objeto e não para ser tomado como um semelhante.
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Acolher
Maria Luiza Rovaris Cidade
Porvires
Habitar uma Comissão de Acolhimento em tempos de individualismos é tarefa, no mínimo, inquietante. Falamos tanto no radical da singularidade do que diz um analisante e no trabalho solitário do analista que, quando somos convocadas a um trabalho de acolhimento, perguntamo-nos: seria um trabalho coletivo? Como afirmou Lacan: “Eu poderia dizer que continuei a abraçar esse impossível no qual se reúne o que é para nós, no discurso analítico, fundamentável como real”.
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A paisagem e seus mistérios: uma conversa com Francisco Faria
Bianca Dias* entrevista o artista Francisco Faria, que se destaca por seus desenhos feitos com lápis grafite sobre papel, instalações e projetos de arte visual com a participação de poetas. Os desenhos, frequentemente em grandes dimensões, versam sobre estratégias gráficas e pictóricas do gênero da paisagem, notadamente a brasileira e a da América Meridional.
Bianca Dias: Francisco, sua relação com o desenho, tão precisa e minuciosa, começou quando? Conte um pouco de seu percurso até se autorizar artista. Fico pensando nesse gesto de autorização que passa pela radicalidade de um percurso, estudo e dedicação. Assim como um analista se autoriza, um artista, antes de mais nada, precisa se autorizar.
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Diretoria – Célia Ferreira Carta Winter, Mariana Zelis, Teresa Pavone, Adriana Rodrigues
Coordenação – Gresiela Nunes da Rosa (EBP/AMP)
Comissão de Boletim: Juan Cruz Galigniana (coord.), Andrea Tochetto, Luciana Romagnolli, Paula Nocquet e Sílvia Lazarini.
Criação e Editoração: Bruno Senna – sennabruno@gmail.com