Neste primeiro aporte da Comissão de Referências à VI Jornada da Seção Sul daremos destaques…
Abertura da VIª Jornada EBP – Seção Sul – Cadê o gozo?
Leonardo Scofield (EBP / AMP)
Diretor Geral da EBP – Seção Sul
No ano passado, recebemos Graciela Brodsky para nossa Jornada, e o trabalho se concluiu — pelo menos para mim — com o melhor que se pode obter: o desejo de seguir trabalhando. Ao fim da Jornada, já em festa, nos interrogávamos sobre em que direção deveríamos seguir.
“Em direção ao gozo opaco”, disse Graciela.
E, com esse eco do gozo opaco, nos colocamos ao trabalho.
Ainda nos bastidores do ano passado, Marcia Stival coordenou uma mesa de forma ímpar. Ela se dedicou a tornar mais vivo o ponto central dos trabalhos compartilhados pelos colegas e, nitidamente, colocava perguntas e os articulava de forma a fazê-los avançar. Marcia leu os trabalhos em busca de algo novo. Foi com essa aposta que a diretoria a convidou para coordenar a VI Jornada da EBP – Seção Sul.
Marcia, te agradeço muito por ter aceitado colocar o corpo neste movimento com a diretoria e toda a equipe que você vem contagiando — a quem também estendo meus agradecimentos.
Era preciso tocar, abordar o gozo por algum viés que acolhesse os recém-interessados na psicanálise de orientação lacaniana e que mantivesse em trabalho aqueles que preservam, há anos, seu interesse. Além disso, como dar um título à Jornada que fizesse a cidade se interessar pela psicanálise? Interessar-se pela cidade, é claro. Além de reconhecer a história da psicanálise em Curitiba e a grande transferência de trabalho que se endereça à Escola, através da Seção Sul, nesta cidade.
Reconhecemos também o valor cultural presente na história da cidade — por exemplo, o ator que nomeia o palco onde estaremos nos dias 24 e 25 de outubro: Teatro Paulo Autran, que disse, em seu livro Sem Comentários, que “o ator não tem direito ao próprio corpo.”
Poderíamos nos perguntar: somos responsáveis pelo gozo próprio ao corpo?
Enfim… o trabalho estava só começando — e tudo isso mantendo a ética da prática clínica como origem e destino de todas as questões da psicanálise.
Em 2016, fizemos uma Jornada na antiga Seção Santa Catarina, onde Marina Recalde veio fazer um testemunho de seu passe. Desde então, reconhecemos seu estilo de falar com os jovens sem deixar cair o rigor da psicanálise lacaniana.
O título dessa Jornada era “Amor e Desejo”.
Na ocasião, Gresiela Nunes da Rosa era responsável pela divulgação do evento e fazia entrevistas com alguns colegas. Ao entrevistar Gustavo Stiglitz, da EOL, ele perguntou: amor, desejo e o gozo?
Eis que ele retorna — assim como o real — no mesmo lugar, através da interpretação que intitula nossa Jornada: Cadê o gozo?, diria Gustavo.
“O que diz a época e a clínica?”, acrescenta Marcia Stival, que já assume a batuta e conta com Marina Recalde para o retorno e o gozo.
Tínhamos, então, uma coordenadora, um título e uma convidada. Faltavam-nos os meios de circular o gozo entre nós. Já que não se compartilha o gozo, nos chegou uma imagem que muito bem o transmite: Um sonho colhido no fundo do corpo, de Kamila Nunes, a quem parabenizo e agradeço pela possibilidade de nos servirmos desta foto para fazer circular a pergunta sobre o gozo.
O cartaz me chegou como um folhetim, quase um “procura-se”. A presença do corpo é marcante pela opacidade da imagem, que denota um movimento. Há um corpo, há gozo — há, nele, uma opacidade ao simbólico e ao imaginário. Resta-nos localizá-lo na experiência de cada um que vive numa época onde se circunscrevem novos sintomas.
Tal localização não se pretende uma leitura sociológica dos tempos atuais, mas, sim, incluir a letra do gozo não identificável, apesar dos mais diversos significantes que a época nos oferta. Inclui a ética do bem-dizer o indizível em sua totalidade. Inclui acolher os sujeitos em sofrimento que sequer se dividem frente aos diagnósticos, que perdem seus corpos dentro dos binários do algoritmo.
Localizar o gozo inclui, para cada um de nós que pratica a psicanálise, a responsabilidade e a dignidade de fazer surgir o singular de cada um que confia a nós seu sofrimento — e guiá-lo, desde o início de sua análise, pela via do impossível até novas modalidades de gozar, cujo horizonte não seja o absoluto mortífero.
A pergunta que nos coloca ao trabalho é esta:
Cadê o gozo?
Como ressoa para você?