Licene Garcia A Comissão da Diretoria de Biblioteca da EBP-Seção Sul, nesta 7ª edição extraordinária…
Abertura da Jornada
Gresiela Nunes da Rosa (EBP/AMP)
Discursos e corpos: a causa do dizer. Aposto que ninguém haverá de negar que o tema dessa nossa jornada não é banana amassadinha, mamão com açúcar ou melzinho na chupeta. Está muito mais pra osso duro de roer.
Nohemí, Cinthia, Liège e Flávia não subestimaram a nossa inteligência, ou talvez, melhor dizendo, não subestimaram a possibilidade do mistério se fazer causa. Elas compunham a Comissão epistêmica dessa Jornada e deram o tom de tudo isso já com esse título tão provocativo.
Elas nos trouxeram um tema que toca o cerne do que nos constitui, o cerne da nossa clínica, o cerne do que estamos tentando sustentar na leitura e na escrita da prática analítica no nosso campo. “A psicanálise é uma tentativa de exploração e de interpretação do estar-na-fala”, disse Miller em “O osso de uma análise”, fazendo uma analogia simpática à “Tentativa de exploração e de interpretação de estar-no-mundo”, do nosso poeta Carlos Drummond de Andrade. Foi aí que Drummond escreveu o poema “No meio do caminho”. No meio do caminho havia uma pedra… Miller, que pensava que no nosso português não havia um osso que pudesse representar esse impossível, para nossa sorte, ele encontrou essa pedra e produziu uma linda forma de mostrar um ponto central da nossa clínica. Só que a gente tem o osso, o nosso osso duro de roer. E a gente, inclusive, não larga o osso. É a este osso que nos dirigimos, ou será que ele é a causa?
Se nosso tema é osso, isso não nos impediu de roê-lo com gosto, extraindo ainda mais, mais um pouco do que ele não para de nos oferecer. E é a nossa insistência repetitiva que manifesta a própria presença do osso, daquilo que nos é dado como limite, como pedra no meio do caminho. Falamos, falamos, falamos. A jornada foi até agora causa de muito dizer. Muitas palavras escritas, faladas, cantadas e até dançadas. “É porque existe o obstáculo que existe a repetição. Mas é porque existe a repetição que se percebe e se isola o obstáculo”, disse Miller nesse mesmo texto.
Nós não recuamos, lembramos a todo tempo que é preciso estar à altura de nossa época. Não ceder ante a superfície do dito, não ceder ante a um imperativo contemporâneo que é a banalização do saber. Sabemos que a formação implica em roer o osso, esse osso duro. No entanto, temos uns aos outros, temos a Escola, que nos permite encontrar uma orientação, essa orientação para o osso, ou a partir do osso?
Miller continua: nossa “fala vai girar em torno desse osso, em espiral, circunscrevendo cada vez mais perto, até, se posso dizer, esculpir esse osso. De qualquer maneira, é a metáfora que se lê nos textos de Lacan, quando se trata de cingir, de cernir, de circunscrever mais perto” (Miller, 2015, p. 28).
É isso que pretendemos fazer aqui, tentar cingir, cernir, circunscrever mais perto aquilo que fazemos na nossa prática como psicanalistas, tanto nos trabalhos enviados para esta Jornada, e desde já agradeço essas valiosas contribuições aos autores que apresentarão hoje e amanhã, quanto na escolha da nossa querida convidada Graciela Brodsky. Graciela esteve conosco em 2007, na segunda jornada da seção Santa Catarina e já estava mais do que na hora de nos trazer novamente a sua graça. Ela volta à mesma cidade, mas a um novo lugar que é a 5ª Jornada da Seção Sul. Ela esteve conosco nos inícios da Seção Catarina e agora está conosco nesse novo início, o da Seção Sul. Como vocês terão a oportunidade de presenciar, taí uma pessoa que pode muito nos ajudar a roer o osso dessa Jornada. Muito obrigada por ter aceitado nosso convite, Graciela. Sérgio de Mattos, também nosso convidado, esteve aqui muito recentemente, na Jornada de 2022. Gostamos tanto que queremos bis e mais ainda. Ele nos falará a partir da experiência do passe, esse dispositivo tão valioso da nossa Escola.
Célia querida, você me deu a possibilidade de fazer, você me deu asas! Isso extraiu o melhor de mim: o desejo e a responsabilidade. Sou feliz demais com essa parceria que eu espero repetir muitas vezes.
Nohemí Brown, Diego Cervelin, Juliana Rego Silva, Juan Galigniana, Verônica Montenegro, vocês não são normais! Vocês são muito, fizeram muito, com muita qualidade, com muita animação. Se eu já os admirava ao ponto de convidá-los para estarmos juntos nesta caminhada, depois de tudo isso, minha admiração e respeito por vocês é absolutamente gigante. Foi realmente incrível o que fizeram. E sei que se tudo aconteceu é porque Licene Garcia, Luciana Romagnolli, Priscila de Sá Santos, Valéria Beatriz Araujo, Cinthia Busato, Liège Goulart, Flávia Cera, Andrea Tochetto, Cauana Mestre, Maria Luiza Rovaris, Mariana Queiroz, Mauro Agosti, Leonardo Mendonça, Rafaela Maester, Soledad Torres, Paula Nocquet e Silvia Lazarinni também não são pessoas normais. Espero que todo esse trabalho, que tudo isso que vocês deram à Escola, possa retornar como um excelente efeito de formação.
Sandra Cruz, Marli Machado, Paula Goulart, Rafael Marques, Paula Nocquet, Priscila de Sá Santos, Silvia Lazarinni, o que nós fizemos foi realmente incrível. Espalhamos e entranhamos a psicanálise, a orientação lacaniana, o trabalho de Escola, em lugares novos. Fizemos valer uma nova geografia da psicanálise neste sul brasileiro. Espero que isso se consolide e que chegue ainda mais longe. Parabéns e obrigada por vocês terem mantido esse laço forte e terem sustentado o trabalho de uma retransmissão realmente ativa.
Agradeço também aos colegas dos cartéis que souberam sustentar a conversação nas nossas preparatórias e aos amigos das outras Seções da EBP que estiveram presentes nessa caminhada, ou como mais-um desses cartéis ou nas entrevistas realizadas pela comissão de divulgação que estão no nosso Instagram. Ana Tereza Groisman, Luiz Felipe Monteiro, Renata Mendonça, Cristiano Pimenta, Henri Kaufmanner, Sônia Vicente, Helenice Castro, Samyra Assad, Antônio Teixeira, Fabrício Donizete, vocês foram realmente uma presença luminosa.
Querida Diretoria, meu muito obrigada a vocês. Não só pela oportunidade que me deram, mas por estarem sustentando esse trabalho que repercute na Jornada. Teresa Pavone nos deu essa esticadinha da Jornada, fazendo com que o trabalho já começasse na quinta-feira com a conferência de Graciela na UFSC, Adriana Rodrigues tem sustentado o trabalho da Diretoria de cartéis com tanto entusiasmo que isso repercute aqui. Foram muitos cartéis na preparatória dessa Jornada e a grande maioria dos trabalhos que serão apresentados aqui vieram de cartéis. Isso é realmente um trabalho de Escola. Mariana querida, obrigada pela paciência, pela organização, pelo dinheiro. Célia, mais uma vez, sua parceria possibilitou um trabalho leve, fluido, gostoso num nível que realmente é raro.
Agradeço também ao Conselho de Seção: Nohemí Brown, Flávia Cera, Eneida Medeiros, Laureci Nunes, Marcia Stival e Nancy Greca por terem acolhido várias questões que surgiram nesta caminhada.
Cleci, querida, muito obrigada pelo trabalho atento. Edson, obrigada por cuidar dos livros e da livraria! Bruno Senna, que já é marca registrada nessa escola, muito obrigada pelo trabalho tão ágil e bonito.
Enfim, quero dizer que coordenar essa Jornada foi e está sendo uma experiência incrível. E poder fazer isso com todas essas pessoas fez, faz, com que o amor, o desejo e o gozo se entrecruzem tão lindamente que chego a pensar que talvez isso seja a tal felicidade.
Boa Jornada para todos nós!
Revisão: Paula Lermen