skip to Main Content

Ecos e perspectivas[1]

Nohemí Brown (EBP/AMP)

Vou recolher o que ficou ecoando em mim de algumas enunciações que irromperam ao longo desta VI Jornada da EBP-Seção Sul. Mas, antes, vale a pena nos perguntarmos: por que uma Jornada de Seção? Por que os eventos da EBP e AMP? Por que o tema escolhido para esta Jornada?

Parece-me que, em ato, essas perguntas foram respondidas em cada uma das mesas, conferências, perguntas, apontamentos, especialmente nas enunciações. Para isso, contamos com a contingência.

Em uma Escola de analistas-analisantes, a transferência de trabalho nos convoca com aquilo que nos inquieta, que nos perturba a um esforço de elaboração e elucidação daquilo que se abre como interrogação em cada um, a partir da provocação de um tema que nos cutuca. Cutucar é um verbo em português de que gosto pela sutileza que implica, de incomodar o suficiente para procurar elaborar uma resposta que pelo momento nos permita pontuar essa inquietação, seja epistêmica, clínica ou política. Respostas que enlaçam o tripé da formação.

Desde a primeira mesa foi colocado o tema do próximo congresso da AMP – Não há relação. Foi o ponto de partida do qual se decantou o tema desta Jornada: se Não há relação sexual, então há algo, há o gozo. A não relação sexual é o pano de fundo deste tema. Onde não há, partimos do que há: há gozo. Contudo, o há, não necessariamente se sabe onde está. Portanto, como foi bem pontuado, esta Jornada foi formulada sob a forma de pergunta: “Cadê o gozo?”, um convite a localizá-lo, precisá-lo. Não é o mesmo que se perguntar “o que é o gozo?”, que apela a uma definição e não a sua localização no caso a caso, como foi afinado e esclarecido a partir de cada uma das apresentações dos recortes clínicos.

Essa pergunta, aprendemos hoje, já se constitui em uma bússola que orienta, localizando e destacando o tratamento dado ao gozo em diferentes momentos de uma análise. Há gozo – primeiro, há que o localizar nas vicissitudes de como ele se apresenta nas entradas em análise e nos destinos que vai tomando nas análises que duram. É necessário localizar o gozo, para que algo dele possa ser cedido. Pode se fazer até um inventário, do que foi falado na Jornada, sobre essas formas de localizá-lo. Cadê o gozo? É se perguntar sobre o sintoma também. Em uma cura, localizar o gozo e o trabalho sobre ele implica “paciência” – dez anos para trabalhar um ponto, outros dez anos para outro ponto, como belamente nos ensinou a AE. Localizá-lo para fazer outro uso do gozo; poder distinguir o gozo que mortifica do gozo que vivifica.

Mas se o aforismo de Lacan Não há relação sexual esteve como pano de fundo, recolhi desde o início alguns momentos em que foi mencionado em trabalhos ou comentários:

– Não há possibilidade de coletivos de Uns sozinhos;

– Não há comunicação no nível do gozo;

– Não há identificação sexual, há opacidade do gozo;

– Não há relação sexual, há relações contingentes entre os seres que falam;

– Não há relação entre significante e gozo;

– Não há relação entre significante e significado;

– Não há relação sexual entre homem e mulher.

Não há relação sexual pode ficar como um “jargão” ou podemos colocá-lo a trabalho para poder elucidar as consequências epistêmicas, clínicas e até políticas, para nos servirmos deste aforismo como uma bússola que nos oriente em nossa posição nos tratamentos que dirigimos nestes tempos que correm.

Até abril, teremos a oportunidade de trabalhá-lo no Congresso da AMP, que será realizado de 30 de abril a 3 de maio de 2026, em Paris, no formato híbrido.

A imagem escolhida para o cartaz e vídeo que vamos ver retoma uma referência de Freud – o urso polar e a baleia. Justamente uma referência de Freud para trabalhar um aforismo de Lacan! Veremos o que podemos extrair desse trabalho.


[1] Mesa “Ecos da Jornada e eventos da AMP e EBP”, na VI Jornada da EBP-Sul, nos dias 24 e 25 de outubro.

Back To Top