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Editorial – P U L S a R 3

Esta terceira edição do boletim P U L S a R contempla, logo nas Ancoragens, dois eixos temáticos de nossa jornada, a saber: o gozo desde o início da análise, escrito por Célia Ferreira Carta Winter, e as vicissitudes do gozo nas análises que duram, elaborado por Luís Francisco Espíndola Camargo. Neste espaço que permeia o início, o meio e quiçá o fim de uma análise, o farol que nos ilumina, aqui, entre outros possíveis, é o tempo, uma vez que, ao falar sobre o espaço falamos em realidade do tempo, já que nos referimos ao movimento, como aponta Miller em A erótica do tempo. Trata-se de uma erótica que inscreve as relações temporais do gozar próprio de cada ser falante.

Por outro lado, na aceleração dos tempos que nos perpassa ao longo destes últimos decênios, vale questionar a própria pregnância ou pertinência do termo “erótica”. Mesmo quando as dinâmicas da subjetividade se entremeiam à pressa pela satisfação plena é possível constituir uma erótica? Trata-se, de fato, de uma erótica ou, antes, de uma certa fissura que, nos tempos acelerados, leva o sujeito a um certo colapso da própria capacidade de recolher seu próprio dizer – como se ele já nem mesmo conseguisse escutar ou colher as ressonâncias daquilo que sai e escapa da própria boca?

Seja numa análise que se inicia ou numa análise que dura, gozo e tempo parecem apresentar inúmeros pontos de contato. Não seriam esses pontos os que, de certa forma, nos permitem delinear os contornos daquilo que anima um percurso de vida… de análise? No consultório, não seriam, por exemplo, os cortes do analista os que, de pouco em pouco, possibilitam considerar a concretude do modo de gozar de cada um? Não seria isso que recoloca um sujeito diante da ressonância de seu próprio dizer, diante da diferença que ele comporta ou reabre? Algumas dessas perguntas estão presentes nos textos que compõem este terceiro número de P U L S a R.

Ainda na seção Ancoragens, além dos dois eixos já mencionados acrescidos de mais alguns questionamentos levantados pela Comissão Epistêmica desta Jornada, também contamos com as elaborações de Adriana Rodrigues e de Gresiela Nunes da Rosa. Adriana Rodrigues apresenta um convite para pensar de que maneira podemos cernir algo do gozo já nas primeiras entrevistas. Isso implica levar em conta a emergência que traz uma dimensão libidinal, que faz vacilar, ou até cair, algo do gozo fixado como estatuto de verdade para o sujeito, demarcando a conclusão de um primeiro tempo, uma passagem. Além disso, nesse recorte de tempo, a autora ainda pergunta se seria possível pensar em momentos de “passagem” ao longo de um processo de análise. Nesta hipótese, quais os elementos poderiam dar indícios dessa passagem?

Gresiela Nunes da Rosa adentra a dimensão lógica do tempo, ao iniciar com uma pergunta: quanto tempo precisa se passar para que possamos dizer que uma análise dura? E traz elementos temporais em uma análise que dura. O primeiro deles seria o momento de implicação subjetiva, para, então, apontar para um tempo do encontro com aquilo que se repete, e que não se deixa apreender na cadeia significante. Talvez, ela pontua, possamos dizer que aí está a possibilidade de pensarmos uma análise que dura.

Na seção Osso, Fernanda Baptista, comentando o eixo 2, em relação às análises que se iniciam, destaca do texto um ponto sobre esse início: quando algo se organiza estamos no tempo em que os significantes mestres aos poucos se recortam, se localizam, se reduzem. E coloca algumas outras questões: já houve um tempo de fascínio pelo sentido, estaríamos num tempo do fascínio do gozo? Como operar para frear o gozo, mesmo que se saiba que há algo de ineliminável do gozo que percorrerá as análises do início ao seu final?

Priscila de Sá Santos, também na seção Osso, apresenta seu comentário ao eixo 3, as vicissitudes do gozo nas análises que duram. Ela destaca uma questão surgida na preparatória a respeito do tempo nas análises que duram: o que é feito do gozo em uma análise que dura? Retomando, aí, esse tempo que Miller chama de intermediário, marcado por outro ritmo, de onde surge a pergunta: perda ou ganho de gozo? Perda ou ganho de gozo, nessa redução em torno do que insiste? E nos aponta, numa perspectiva topológica, uma cessão do gozo excesso e uma recuperação de gozo que diz de uma outra satisfação.

Por fim, neste terceiro número de P U L S a R, a Comissão de Referências ainda traz contribuições preciosas sobre as aparições de gozo nos diferentes tempos das análises, encontrando excertos que vão desde a obra freudiana, passam por Lacan e Miller e chegam à singularidade dos testemunhos de passe.

Boa leitura!

Comissão editorial do boletim P U L S a R

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