Gustavo Ramos (EBP/AMP) Teresa Pavone (EBP/AMP) O VI Boletim da Seção Sul, assim como…
DESISTIR OU DESEXISTIR?
COM MARCELO VERAS
Andrea Tochetto
No dia 27 de junho deste ano, a Comissão de Biblioteca EBP – Seção Sul, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná, contou com a presença de Marcelo Veras na apresentação e noite de autógrafos de seu último livro: A Morte de Si.
Em uma das salas da PUC-PR, nos trouxe um pouco do que vem a ser um trabalho da elaboração, de mais de dez anos, que une a escuta psicanalítica e a teoria, e traduz o encontro “com as boas palavras” que foram chegando para falar de suicídio.
Marcelo adverte: não se trata de “uma teoria sobre o suicídio e todas as suas implicações, tampouco um manual de como agir quando a questão se instaura na clínica e no mundo em geral. Falemos de suicídio entre nós, os nós do suicídio”[1] .
Ao abordar o assunto, ele percorre alguns caminhos que poderão ser melhor lidos em seu livro, como o se jogar para o nada; o sintomático insuportável; aquilo do corpo que está em si, mas não está em “mim” ; o ato mais bem sucedido; e a mensagem que sempre chega, referindo-se às cartas que mobilizam os enlutados. Quando fala delas, diz que “o suicídio, por mais que seja um ato solitário, inclui um destinatário. O suicídio não ocorre sem o Outro, quer seja um gesto ‘para’ um outro, quer para ‘separa-se’ dele”. Assim, o suicida tem sua carta e o trabalho da psicanálise revela que a escrita já estava lá.
Em diversos momentos do livro, Marcelo nos convida ao questionamento, a rever conceitos e nos encontrarmos com alguns paradoxos:
“passamos a vida na busca de um objeto perdido, mas não é o objeto que sempre esteve perdido, somos nós mesmos, a essência do nosso ser, que estamos desde quando adentramos o mundo das palavras. E por quê? Porque não nascemos com as palavras, todas as palavras que falamos vêm do Outro. E só nos definimos com palavras. Precisamos desse circuito que faz com que passemos do Um, Um como solidão de nossa existência, para o campo do Outro. E aí nos confundimos, achamos que somos o que as palavras permitem dizer que somos… por isso a dimensão do ato é tão importante no suicídio, o ato é algo que enfim se realiza”(Veras, 2023, p.41).
E, entre as palavras, este assunto complexo e, às vezes, só palpável em pequeninos detalhes, o psicanalista e escritor pode recortar desse tema a aposta que é o viver, “mas que nunca sabemos contra quem ou o que apostamos”[2].
Boa Leitura!