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Ressonâncias da V Atividade Preparatória

Cinthia Busato ( EBP/AMP)
Integrante da Comissão Epistêmica

A 5ª e última Atividade Preparatória para 3ª Jornada da EBP Seção Sul foi um trabalho conectado com a arte intitulado: “A Escuta na Arte – Escut-arte” orientado pela pergunta: O que a arte pode nos ensinar?

Apresentaram suas elaborações os convidados Pedro Cabral Filho, educador e maestro, sobre “O que é escutar na música?”, Silvia Ghizzo abordando “A sonoridade da Língua”, e Soraya Valerim (coordenadora da C. de Curadoria) percorrendo “Ouvido e Voz – Portais do prazer”.

No texto que escrevi para apresentar o eixo 2 uso uma citação que recolhi da fala de Geraldo Carneiro na apresentação de Gilberto Gil, nomeada ANTROPOLOGIA E TROPICALIA na ABL: que possamos nos encantar com as palavras sem nos esquecer que há uma música além delas.

À pergunta sobre o que pode a arte, e hoje mais especificamente a música, pode ensinar para a escuta analítica, a partir dos trabalhos apresentados me lembrei de  um trajeto que orientou muito minhas questões na psicanálise: como ir além do sentido em direção ao sentido. Ao sentido como aquilo que afeta o corpo, ao que sentimos no corpo. Claro, estamos falando do corpo erótico, o corpo pulsional, atravessado pelas representações e pelo sentido que interpretamos aí. Falaram do ressoar, de lalingua. O termo lalingua está referido à lalação, essa emissão sonora sem sentido que o bebê antes da aquisição do domínio da linguagem tanto pratica. Isso me levou a outra música, AUTOACALANTO, onde Caetano fala da lalação de seu neto Benjamin: é um deslumbramento, ele emula o canto de um querubim!!

A palavra deslumbramento me levou para uma experiência também de deslumbramento que a música me proporcionou: um encontro inesperado com uma orquestra com coro numa igreja medieval, que tinha uma acústica espetacular em uma viagem faz muito tempo.

Lacan no Seminário 12, Problemas cruciais da psicanálise, falando do quadro O GRITO diz que o grito faz o abismo onde o silêncio se aloja, e também aí diz que o grito não se perfila sobre um fundo de silêncio, pelo contrário, ele o faz surgir como silêncio. Tanto quanto o objeto voz, o silencio é de fundamental importância em uma análise.

Trago três recortes dos textos apresentados que marcaram o tom da conversação da preparatória em torno à dimensão sonora na escuta:

Silvia comentou que “a Lacan interessa a dimensão do fonema, entidade definida puramente pela sua função, como” “restos mnêmicos da palavra ouvida” (Freud), a língua como matéria fônica que atravessa o corpo e ressoa aí, onde incorpora a ligação entre som e linguagem, cujo evocar inspira Lacan em seu entendimento da voz como objeto pulsional, voz áfona, para além do sentido, e da própria sonoridade…”

Pedro abordou sua fala em duas vertentes “a dos que não sabem ler e ouvir e ouvem e lêem, e a dos que sabem ouvir e lêem. Em se tratando da produção musical, se complementam e seguem juntos traçando o caminhar de seu próprio tempo. Afinal o futuro se faz olhando pelo retrovisor. E somos fadados a ouvir para sempre”.

E Soraya, a partir do objeto voz, se pergunta “a voz de cada um, que o próprio sujeito ouve, a ouve de dentro ou a ouve de fora?” “O músico ou tocador de instrumento se apropria da música para fazer dela uma emanação pessoal, ainda que ela lhe tenha primeiramente sido exterior”

A presença do analista está diretamente ligada à experiência que se inscreve no encontro contingente com uma verdade. Ali onde o inesperado irrompe está o analista para recolher e dar outro estatuto ao resto renegado ou caído fora da cena. Uma presença discreta, que vigia atenta ao ínfimo e segue seu analisante “catando a poesia” entornada no chão.

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