#05 - Outubro 2022
Apresentação do Boletim RESSONÂNCIAS
Quando falamos de ressonâncias, é difícil não pensar em música – e, quem sabe, em músicas que tocam mesmo na ausência de palavras encadeadas ou de todas aquelas harmonias que, vez e outra, povoam os devaneios de cada um. De fato, uma experiência de escuta, seja ela analítica ou não, implica ressonâncias, ou seja, uma sorte de transmissão das ondas através de um ou mais corpos. Mas veja-se que esse prolongamento de sons e ruídos também comporta uma boa dose de distância, contato e até mesmo de… atrito: afinal, as cordas não ressoam se não forem dedilhadas, beliscadas, marteladas, friccionadas, assim como as membranas dos tambores tampouco ressoam se não forem percutidas. E isso de tal modo que as resultantes das forças em jogo possam vibrar pelo ar, ganhando corpo e volume.
Este boletim, Ressonâncias, deseja mobilizar algo parecido: distâncias, contatos e vibrações. Ele vem como uma caixa de ressonâncias para as questões que animam a 3a Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Sul, cujo tema, em 2022, é a escuta analítica. Trata-se, então, de fazer eco às produções de nossa comunidade, desdobrando-as em um espaço de abertura para os sujeitos, já que escuta, leitura e escrita se entrelaçam inclusive nos percursos da própria análise. Em torno disso, Lacan nos mostrava uma direção e, claro, sem desconsiderar os ruídos da vida, aqueles que aparecem tanto no consultório quanto nas ruas: “Não se pode ilustrar melhor […] o efeito de ressonância que é simplesmente alguém sacar de que se trata”[i].
Assim, se “o psicanalista é a presença do sofista em nossa época, mas com outro estatuto”[ii], talvez caiba não esquecer que, no cerne dessa aproximação, estão “o discurso em sua relação rebelde com o sentido, que passa pelo significante e pela performance, e a sua distância para com a verdade da filosofia”[iii]. Isso significa, por exemplo, que uma escuta sofístico-analítica se singulariza na medida em que os ouvidos fazem as vezes de olhos. Essa escuta, no entanto, não se confunde com um recurso meramente formal, pois, “com esse ouvido obstinado e sem concessão, […] mergulhamos no que Lacan chama de ‘furo soprador’ (le trou du souffleur)”[iv]. É nesse furo que se agitam as ressonâncias comportadas por uma língua, aquela que, tal como encontramos em “O Aturdito”, “não é nada além da integral dos equívocos que sua história deixou persistirem nela”[v]. Daí que, por meio da escuta, se possa perceber que as consonâncias e dissonâncias entre ser e existência se manifestam enquanto efeitos do dizer. A arte está em saber fazer com os restos.
Abrindo os trabalhos, este primeiro número de Ressonâncias traz dois textos especialmente importantes para começarmos uma conversa em torno da escuta analítica. Assim, primeiramente, temos a apresentação proposta por Louise Lhullier, diretora da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Sul, sobre o tema de trabalho escolhido para o ano de 2022. Em seguida, encontramos o argumento da 3a Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Sul, elaborado por Mariana Zelis, coordenadora da 3a Jornada. Em suas abordagens, ambas as autoras apresentam um questionamento que recai sobre aquilo que um analista escuta quando ouve – aspecto esse que inclui tanto as ressonâncias do choque da linguagem no corpo quanto os desdobramentos das novas formas de presença no viver junto.
Last but not least, lembramos que, no dia 25 de maio, às 20h, através da plataforma Zoom, ocorrerá o lançamento da 3a Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Sul, A escuta analítica. Além da presença de Louise Lhullier e de Mariana Zelis nessa atividade, também contaremos com os comentários da convidada Marcela Antelo e a coordenação de Maria Teresa Wendhausen.
Boa leitura e até logo!